História de Paula Ferreira – Jornal Estadão
BRASÍLIA- O governo dos Estados Unidos suspendeu uma parceria com o Brasil para prevenção de incêndios florestais. A medida foi tomada após o decreto assinado pelo presidente americano Donald Trump, que suspendeu as atividades de assistência internacional.
Brigadas Federais atuam em Terras Indígenas com apoio da Funai Foto: Brigadistas indígenas/CIR
O Serviço Florestal dos Estados Unidos executava no Brasil o Programa de Manejo Florestal e Prevenção de Incêndios para treinamento de brigadistas. A iniciativa era financiada pela USAID (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional), que tem sido alvo de uma ofensiva de Trump pelo seu fechamento.
O programa não incluía repasse de recursos financeiros, mas apenas treinamento de profissionais, intercâmbio de experiências e a realização de estudos técnicos.
Na sexta-feira, 7, um juiz federal bloqueou a tentativa de Donald Trump de desmantelar a USAID. O presidente americano acusou a agência de corrupção e fraude sem apresentar provas. E escreveu “Feche isso” em suas redes sociais.
“O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) esclarece que recebeu e-mail informando que, devido a um decreto federal, nesse período de transição do governo dos EUA, as atividades de assistência internacional estariam suspensas por 90 dias”, afirmou o Ibama em nota.
Diante da interrupção da cooperação internacional, as atividades estão sendo reprogramadas pelo Ibama, pelo Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), outro órgão ligado ao Ministério do Meio Ambiente, pela Funai, vinculada à pasta dos Povos Originários. Os órgãos brasileiros farão uma análise para definir se manterão as reuniões previstas mesmo sem participação dos Estados Unidos ou se elas serão remarcadas.
O Ibama destaca que não há prejuízo direto na interrupção do programa, uma vez que as ações de prevenção e combate a incêndios são realizadas com recursos do orçamento da União, sem dependência de fontes externas.
“A paralisação das atividades da USAID não gera impacto direto no combate aos incêndios florestais no Brasil. O prejuízo envolve aspectos técnicos, em virtude da interrupção de algumas ações que poderiam contribuir para a reestruturação das instituições brasileiras, particularmente em termos de capacitação de profissionais”, explica o Ibama.
Ao Estadão, o presidente do órgão, Rodrigo Agostinho, lamentou a interrupção do programa, mas disse que o Brasil faz o pleno combate aos incêndios com recursos próprios.
“Isso vai afetar o combate a incêndios esse ano? Não! Mas eu acho que é uma pena, porque o próprio Estados Unidos está sofrendo muito com o aumento dos incêndios”, afirmou.
Ele explica que um dos pontos fortes da parceria com os Estados Unidos era o contato frequente com as novas tecnologias desenvolvidas para o combate a incêndios e o intercâmbio de experiência com técnicos americanos.
“Acho uma pena que a cooperação internacional com os Estados Unidos esteja sendo jogada fora. Para o Ibama, ao longo dos anos, foi importante. Muita gente nossa foi capacitada”, disse.
A prevenção e o combate aos incêndios florestais é um dos principais desafios do governo brasileiro. Desde que assumiu, embora tenha conseguido reduzir os índices de desmatamento, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem acumulado problemas nas respostas à crise das queimadas no Brasil.
O número de focos em 2024 aumentou 146,4% em comparação com o ano anterior – a Amazônia registrou recorde no número de focos de fogo. Apesar da seca recorde e das mudanças climáticas, que intensificaram o quadro, especialistas apontaram na época que o governo falhou na prevenção.
Em nota, o Ibama disse ainda que a interrupção das atividades podem trazer consequências para as partes, “uma vez que a mudança do clima gera impacto a todos os países, como os incêndios florestais, para os quais todos precisam estar melhor preparados.”