História de tm, DW (Deutsche Welle), com agências – DW Brasil
Presidente da França, Emmanuel Macron, convoca de forma repentina cúpula sobre a Ucrânia em Paris. Reações ao discurso de vice-presidente dos EUA na Conferência de Munique sobre racha entre EUA e UE.
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Os chefes de Estado e de governo europeus deverão definir posições comuns nesta segunda-feira (17.02), na cúpula sobre a Ucrânia, em Paris, convocada de forma repentina. O chanceler alemão Olaf Scholz participará das discussões. Também são esperadas as presenças do primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, do primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, e do chefe de governo holandês, Dick Schoof.
Após o anúncio de que os EUA realizarão negociações com a Rússia sem antes consultar a Ucrânia ou seus aliados europeus, surgiram preocupações entre muitos participantes da Conferência de Segurança de Munique.
“Este é provavelmente o pior momento, desde a Segunda Guerra Mundial, nas relações entre a Europa e os Estados Unidos”, disse hoje a editora chefe de política da DW, Michaela Kuefner.
Neste domingo, líderes europeus planejaram também realizar uma reunião para decidir como reagir. No entanto, como destacou Kuefner, eles ainda não sabem exatamente a que responder, pois poucos detalhes do “plano de paz” do presidente dos EUA, Donald Trump, foram revelados.
O vice-Presidente dos EUA, JD Vance, segundo à direita, e o secretário de Estado do mesmo país, Marco Rubio, ao centro, durante uma reunião bilateral à margem da Conferência de Segurança de Munique, Alemanha© Matthias Schrader/AP Photo/picture alliance
Racha entre EUA e UE?
No sexta-feira, o silêncio tomou conta da sala em que se encontravam reunidos vários representantes políticos durante a Conferência de Munique, e a tensão foi “quase palpável”, quando o vice-presidente dos EUA, J.D. Vance, caminhou até o pódio: apenas 48 horas antes, o mundo parecia um lugar diferente.
O vice-presidente dos EUA falou durante 18 minutos, sem mencionar a segurança externa da Europa ou a Ucrânia. Em vez disso, usou a sua aparição como uma espécie de “aula” sobre o que a administração Trump considera democracia.
“A Europa sempre enfatiza os valores comuns”, disse Vance, “mas nos EUA há preocupações sobre quais seriam esses valores atualmente. A maior ameaça para a Europa não seria a Rússia ou a China, mas algo interno”, explicou: “o afastamento da Europa de alguns de seus valores fundamentais”.
Como prova disso, criticou a anulação do que considerou ser uma eleição presidencial totalmente legítima na Roménia (foi declarada inválida pelo tribunal constitucional romeno em dezembro, depois de ter sido estabelecido que tinha havido uma interferência russa maciça), denunciou a proibição no Reino Unido de manifestantes anti-aborto se manifestarem diretamente à porta de clínicas e condenou a exclusão de partidos extremistas do processo político.
“Receio que a liberdade de expressão esteja a recuar”, afirmou Vance. “O que me parece um pouco menos claro, e certamente penso que a muitos dos cidadãos da Europa, é o que é exatamente que estão a defender? Qual é a visão positiva que anima este pacto de segurança partilhada que todos acreditamos ser tão importante?”, perguntou Vance, enquanto a maioria dos seus aliados europeus o olhavam perplexos.
Um dia antes, o vice-presidente dos Estados Unidos reuniu-se com a candidata a chanceler da extrema-direita alemã, Alice Weidel, em Munique. A reunião decorreu num hotel da cidade onde está a decorrer a Conferência de Segurança, durante a qual J.D. Vance criticou o “cordão sanitário” dos outros partidos para impedir o partido AfD de aceder ao poder, e criticou o estado da democracia na
Europa.
O chanceler alemão Olaf Scholz durante a Conferência de Munique© Matthias Schrader/AP/dpa/picture-alliance
Críticas ao discurso de Vance
O chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, fez duras críticas neste sábado (15/02) aos comentários do vice-presidente dos EUA, durante a Conferência de Segurança de Munique, num contexto de inquietação sobre a nova abordagem diplomática dos Estados Unidos sob a liderança de Donald Trump.
“Não aceitaremos que pessoas de fora interfiram a favor desse partido em nossa democracia, em nossas eleições e no processo de formação de opinião democrática”, disse Scholz. “Isso é impróprio, especialmente entre amigos e aliados, e rejeitamos veementemente isso.”
“Esta democracia foi posta em causa pelo vice-presidente dos EUA, não apenas na Alemanha, mas em toda a Europa. Se bem entendi, o vice-presidente compara as condições de algumas regiões da Europa com as de regimes autoritários”, disse o ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius. “Isso não é aceitável. E esta não é a Europa e não é a democracia em que vivo e onde estou atualmente a fazer campanha”,
acrescentou.
O chanceler federal Scholz encontra-se com o ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi© Sven Hoppe/AP Photo/picture alliance
Apoio inesperado da China
Após a fala do vice-presidente norte-americano, um apoio aos aliados europeus veio então de uma fonte bastante inesperada. Logo após o polêmico discurso de Vance, o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, subiu ao palco, e o tom de seu discurso foi muito mais conciliador em relação ao continente europeu.
Wang afirmou que considera a Europa e a China “parceiras, não rivais.” Segundo ele, Pequim “sempre viu na Europa um polo importante em um mundo multipolar.” Wang enfatizou a necessidade de “preservar o sistema internacional liderado pela ONU” e declarou que a Europa tem um “papel fundamental” no processo de paz na Ucrânia.
Além disso, o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, reuniu-se também, no sábado, com o enviado especial do Brasil, à Conferência de Segurança de Munique, Celso Amorim, com quem concordou em defender o compromisso de seus países em acabar com a guerra na Ucrânia.
China e Brasil têm pressionado para que os países em desenvolvimento participem de um plano de paz de seis pontos que apresentaram em 2024, que prevê que a guerra na Ucrânia seja uma “crise”, pede “nenhuma escalada ou provocação de nenhuma das partes” e pede uma conferência internacional de paz por meio de “debate justo”.