História de Cynthia Decloedt – Jornal Estadão
As captações no mercado de dívida externa começam a ganhar tração, depois de um janeiro morno e marcado por uma queda de 50% no volume de emissões de papéis em relação ao mesmo mês do ano passado. Nesta terça-feira, 18, o Tesouro Nacional levantou US$ 2,5 bilhões em bonds de 10 anos.
Há expectativa de que a Raízen, empresa do grupo Cosan, capte até US$ 750 milhões nos próximos dias. Outra candidata é a XP, que pretende acessar esse mercado ainda este ano, com uma operação entre US$ 500 milhões e US$ 750 milhões. No começo de fevereiro, a Embraer emitiu US$ 650 milhões.
A melhor visibilidade sobre a agenda do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, agora empossado, e o recuo dos juros futuros dos títulos do Tesouro norte-americano (Treasuries) para nível mais próximo ao já previsto pelo mercado ajudam a movimentar mais emissores brasileiros.
Algumas empresas brasileiras optaram por ficar de fora da primeira e tradicional janela de captações no mercado de dívida no exterior, em janeiro, quando gestores norte-americanos estão montando suas carteiras. A baixa presença de empresas e a ausência do Tesouro, que normalmente abre a fila de emissões do ano, não foram vistas como prognóstico de queda no volume de captações lá fora este ano em relação a 2024.
Nesta terça-feira, 18, o Tesouro Nacional levantou US$ 2,5 bilhões em bonds de 10 anos Foto: André Dusek/Estadão
Como foi a emissão do Tesouro Nacional
O Tesouro captou US$ 2,5 bilhões em bonds de 10 anos, com remuneração ao investidor de 6,75%. A demanda atingiu US$ 6,5 bilhões, permitindo revisão da taxa de referência para baixo, do patamar de 7,05% inicialmente proposto como ideia de remuneração aos investidores, na primeira emissão externa de bonds do governo brasileiro em 2025.
Entre os vizinhos latinos, os governos do Uruguai, México e Chile já haviam acessado o mercado de dívida externo este ano.
No ano passado, o Tesouro levantou US$ 6,5 bilhões no mercado internacional. Até agora em 2025, foram emitidos pelo Brasil US$ 4,150 bilhões em bonds.
O que esperar das empresas
A avaliação de três banqueiros ouvidos pelo Estadão/Broadcast e que preferiram manter anonimato é de que o recolhimento das companhias foi pontual e que entre US$ 20 bilhões e US$ 25 bilhões devem ser levantados no exterior em 2025. No ano passado, as captações brasileiras somaram US$ 20 bilhões em bonds.
O diretor de renda fixa de um grande banco local avaliou que a janela de captação do começo de ano foi empurrada e que não há um problema de falta de apetite. As ofertas que foram ao mercado tiveram excesso de demanda, segundo ele.
No Bradesco, que levantou US$ 750 milhões, a demanda chegou a US$ 2,5 bilhões. Nesta terça-feira, 18, o Tesouro atraiu US$ 6,5 bilhões em demanda para sua emissão de bonds de 10 anos.
O executivo de um banco estrangeiro afirmou estar vendo um cenário de Treasury (juro norte-americano) no qual a maioria dos potenciais emissores se sente confortável. A taxa de 10 anos está na casa de 4,5%, acima evidentemente da mínima recente de 3,5% em setembro, quando muitas empresas foram ao mercado externo. Porém, segundo ele, ninguém acredita que o Treasury de 10 anos voltará a esse patamar e, ao mesmo tempo, os prêmios de risco estão baixos para os emissores brasileiros.
Por que as empresas estão captando no exterior
Ainda que o juro norte-americano tenha subido, implicando custo mais alto, a visão dos especialistas é de que as empresas que vão ao exterior têm motivações distintas, o que não limita o interesse de fazerem ofertas.
Elas vão desde a diversificação de fontes de recursos até o fato de que o mercado local pode não ter demanda suficiente para captações mais robustas. Eles avaliam também que o fluxo das ofertas será retomado à medida que os balanços do quarto trimestre forem sendo divulgados.
De qualquer forma, o volume captado em janeiro foi 50% inferior ao de janeiro de 2024 e expressivamente abaixo do que outros países da América Latina levantaram no mesmo período. A expectativa em torno da posse de Trump, que ocorreu em 20 de janeiro, foi o motivo principal apontando pelos especialistas para o recuo de alguns emissores brasileiros. A alta dos juros também assustou.
De acordo com operadores desse mercado ouvidos pelo Estadão/Broadcast, a visão dos empresários era de que não havia pressa, já que muito dinheiro já foi levantado no mercado local em 2024, ano de recorde de captações na renda fixa, e a maior parte dos vencimentos mais próximos de bonds já foi alongado.
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Conforme o responsável pelo mercado de dívida de um banco estrangeiro ouvido pela reportagem, a posição das empresas é confortável de forma geral e permitiu que avaliassem o cenário com mais calma.
Em janeiro, foram ao mercado a JBS USA, Usiminas, Ambipar e Bradesco, juntas levantando US$ 3,5 bilhões. No início deste mês, Embraer emitiu US$ 650 milhões em títulos.