História de Notas & Informações – Jornal Estadão

E m 2024 o lucro da Petrobras, já deduzidos impostos e custos, despencou mais de 70% em relação ao ano anterior, numa relação que impressiona: R$ 124,6 bilhões em 2023; R$ 36,6 bilhões no ano passado. A presidente da companhia, Magda Chambriard, passou o dia seguinte ao anúncio do resultado num esforço de convencimento de que o desempenho foi fortemente impactado pelo câmbio no fim do ano, num efeito contábil que não afeta o caixa da empresa. Mas não conseguiu conter a desvalorização de quase R$ 25 bilhões da empresa na Bolsa em apenas um dia.

O documento de apresentação de resultados, divulgado na noite anterior, já dava o tom do que seriam os argumentos para a performance decepcionante da companhia, que se acentuou no quarto trimestre, com um prejuízo de R$ 17 bilhões. O relatório destacou “eventos exclusivos” de 2024, como a disparada do câmbio no fim do ano, que levou o dólar ao patamar de R$ 6, a perda da margem de rentabilidade do diesel e os custos de um acordo tributário com o governo federal. Além desses fatores, a preocupação do mercado se concentrou na forte antecipação de investimentos – não por acaso uma das premissas do lulopetismo para fazer a empresa ser indutora do desenvolvimento –, que reduziu a remuneração dos acionistas.

Em que pese o fator cambial sobre a dívida, parte dos tais eventos exclusivos deixam evidente o custo assumido pela empresa na adequação aos interesses do governo Lula da Silva. No fim do primeiro semestre, a Petrobras firmou acordo com o Fisco que encerrou um contencioso de quase R$ 45 bilhões, que se arrastava desde 2008. Em junho, aderiu ao programa do governo de recuperação de créditos para ajudar a fechar o ano dentro da meta fiscal de déficit zero. Na época, a Petrobras divulgou em comunicado o desembolso de R$ 19,8 bilhões.

A Petrobras destacou que a redução de 2% do petróleo tipo Brent no mercado externo levou a uma queda de 39% na rentabilidade do diesel (no jargão técnico chamado de crackspread, ou diferença de preços entre o petróleo bruto e os produtos refinados). Vale destacar que, apesar das variações dos preços externos, a Petrobras manteve o preço do diesel inalterado durante todo o ano de 2024. Para elevar o preço neste ano, quando já não havia mais como represar a alta, Magda Chambriard foi a Brasília detalhar os dados a Lula da Silva e somente depois do aval houve reajuste, em 1.º de fevereiro.

A carta assinada por Chambriard na apresentação do resultado afirma que, “expurgando os eventos exclusivos”, o lucro líquido do ano seria de R$ 103 bilhões (US$ 19,4 bilhões). E, embora tenha destacado quase exclusivamente a variação cambial, obedecer a políticas de governo mostrou seu custo.

Sendo estatal, a Petrobras obviamente deve estar alinhada à política do governo, mas, como empresa dependente do capital privado, presente em 64% de sua composição acionária, não deve satisfação só ao Palácio do Planalto – o que demanda equilíbrio entre a pressão política e os interesses de uma empresa que tem de dar lucro.

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By valeon