História de Realidade Militar

Em um episódio que surpreendeu observadores internacionais, o encontro entre o presidente americano Donald Trump e o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky no Salão Oval terminou em confronto aberto, comprometendo um acordo estratégico sobre minerais que poderia beneficiar ambos os países.

O que deveria ser uma reunião diplomática para finalizar um acordo histórico transformou-se em uma troca acalorada de acusações. Trump, visivelmente irritado, acusou Zelensky de “jogar com a Terceira Guerra Mundial” e de desrespeitar os Estados Unidos, país que tem fornecido bilhões em ajuda à Ucrânia desde o início do conflito com a Rússia.

A tensão escalou quando o vice-presidente JD Vance questionou se Zelensky havia demonstrado gratidão suficiente pelo apoio americano. O presidente ucraniano tentou defender sua posição, mas acabou deixando a Casa Branca antes do previsto, sem assinar o acordo de minerais.

O acordo fracassado

O acordo proposto por Trump daria aos Estados Unidos acesso às vastas reservas de minerais raros da Ucrânia, que representam aproximadamente 5% das matérias-primas críticas mundiais. Em troca, os americanos forneceriam apoio contínuo e ajuda na reconstrução do país devastado pela guerra.

Dias antes do encontro, Trump havia anunciado um rascunho de acordo que, segundo ele, poderia valer cerca de um trilhão de dólares. A proposta incluía a criação de um “fundo de investimento” para reconstrução, administrado em conjunto pelos dois países, com a Ucrânia contribuindo com 50% dos rendimentos futuros de seus recursos minerais, petróleo e gás.

“A Ucrânia possui aproximadamente 19 milhões de toneladas de reservas comprovadas de grafite, colocando o país entre os cinco maiores fornecedores desse mineral essencial para a fabricação de baterias para veículos elétricos”, explicam especialistas do setor.

Além disso, o país tem depósitos significativos de titânio, lítio e metais de terras raras – elementos usados na produção de tecnologias avançadas, desde smartphones até sistemas de armas e turbinas eólicas.

Benefícios mútuos e obstáculos

Para os Estados Unidos, o acesso aos minerais ucranianos representa uma oportunidade de diversificar seu fornecimento de metais raros e reduzir a dependência da China, que atualmente extrai cerca de 60% do fornecimento mundial desses minerais e processa aproximadamente 90%.

Trump também vê o acordo como uma forma de recuperar parte dos aproximadamente 180 bilhões de dólares em ajuda enviados à Ucrânia desde o início da guerra.

Para a Ucrânia, o acordo poderia trazer benefícios significativos para a reconstrução pós-guerra e crescimento econômico, potencialmente atraindo mais investimentos estrangeiros.

Entretanto, existem obstáculos significativos. Boa parte dos recursos minerais ucranianos está em territórios atualmente ocupados pela Rússia. Ademais, cerca de 25% do território ucraniano está contaminado com minas terrestres e outros explosivos, tornando a exploração mineral extremamente perigosa sem um extenso trabalho prévio de desminagem.

O impasse sobre segurança

A principal razão para o fracasso nas negociações foi a falta de garantias de segurança no documento proposto. Desde o início das conversações, Zelensky tem insistido que qualquer acordo sobre minerais deve incluir compromissos concretos dos Estados Unidos para proteger a Ucrânia de futuros ataques russos.

“Para Zelensky, é muito importante colocar a Ucrânia no caminho para ingressar na OTAN ou alguma estrutura de segurança similar. Mas Trump tem resistido à ideia, preferindo que os países europeus assumam a maior parte da responsabilidade pela segurança ucraniana”, explica um analista internacional.

O presidente ucraniano, conhecendo a realidade no terreno – seu país enfrenta não apenas a perda de território, mas também uma crise humanitária – considera que um acordo sem garantias de segurança seria insuficiente, independentemente dos benefícios econômicos potenciais.

Tensões históricas

A relação entre Trump e Zelensky tem um histórico complicado. Em 2019, uma conversa telefônica entre os dois líderes tornou-se o centro do primeiro processo de impeachment contra Trump, quando o presidente americano pediu que Zelensky investigasse Joe Biden e seu filho Hunter na Ucrânia.

Segundo fontes próximas à situação, Trump passou a ver a Ucrânia como parte de seus problemas políticos, associando o país ao seu processo de impeachment.

Ao retornar à Casa Branca, Trump começou a fazer declarações cada vez mais críticas sobre Zelensky, chamando-o de “ditador sem eleições” – ignorando que a Ucrânia suspendeu eleições devido à lei marcial imposta pela guerra.

A proposta russa

Enquanto as relações entre norte-americanos e ucranianos se deterioravam, a Rússia aproveitou a oportunidade para apresentar sua própria proposta. Segundo fontes americanas, a Rússia ofereceu à administração Trump um acordo pelo qual os Estados Unidos obteriam acesso a minerais de terras raras em partes da Ucrânia atualmente controladas pelo exército russo.

Esta proposta foi apresentada por assessores de Putin durante um encontro com funcionários americanos na Arábia Saudita. Putin, em uma entrevista à televisão estatal russa, mostrou-se aberto a oferecer aos Estados Unidos acesso a minerais raros tanto em território ocupado na Ucrânia quanto na própria Rússia.

A alternativa europeia

Em resposta à crise nas negociações, a União Europeia ofereceu à Ucrânia sua própria proposta. Stéphane Séjourné, comissário da UE, apresentou uma oferta durante uma visita a Kiev: “Vinte e um dos trinta materiais críticos de que a Europa precisa podem ser fornecidos pela Ucrânia em uma parceria vantajosa para ambos.”

A proposta europeia surge em um momento estratégico, oferecendo à Ucrânia uma alternativa ao acordo americano. A União Europeia é o maior parceiro comercial do país e um forte defensor de sua eventual integração ao bloco.

Paralelamente, Mark Rutte, Secretário-Geral da OTAN, anunciou que a aliança investirá mais em defesa e está preparando “bilhões” em ajuda para a Ucrânia. Vários países membros, incluindo Lituânia, Estônia e Reino Unido, já anunciaram planos para aumentar seus gastos com defesa.

Além do apoio coletivo da OTAN, aliados individuais como Finlândia, Polônia, Espanha e Japão comprometeram-se com novos pacotes de ajuda, o que poderá compensar qualquer redução no apoio direto dos Estados Unidos.

Em meio a este complexo cenário geopolítico, a Ucrânia enfrenta um difícil dilema: priorizar acordos econômicos para reconstruir seu país devastado pela guerra, ou insistir em garantias de segurança robustas, mesmo que isso prolongue o conflito. O desfecho desta crise diplomática poderá redefinir o futuro da Ucrânia e as relações de poder no leste europeu.

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By valeon