História de Gabriel de Sousa – Jornal Estadão

BRASÍLIA – Um dia antes do ditador venezuelano, Nicolás Maduroanunciar a entrega de cerca de 180 mil hectares de terra para o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assinou um acordo bilateral de cooperação técnica em agricultura com o governo da Venezuela.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Estadão procurou o Ministério das Relações Exteriores, mas não obteve retorno.

No Diário Oficial da União (DOU) desta quarta-feira, 12, foi publicado um memorando de entendimento – instrumento jurídico que registra acordos internacionais – instituindo cooperação técnica entre o Itamaraty e três ministérios venezuelanos que atuam na agricultura produtiva, alimentação e com as comunidades e movimentos sociais.

De acordo com o memorando de entendimento, a cooperação entre Brasil e a Venezuela contempla as seguintes iniciativas feitas pelos dois países:

  • desenvolvimento da produção familiar, urbana, periurbana e comunal;
  • monitoramento com fins agrícolas;
  • vigilância, prevenção, contenção, controle e erradicação de pragas agrícolas e enfermidades animais (mosca da carambola, febre aftosa, entre outras);
  • criação de um programa binacional para o desenvolvimento sustentável da
  • fronteira comum amazônica;
  • produção primária em setores estratégicos (milho, mandioca, café, cana de açúcar, cítricos, bananas e outros);
  • melhoramento genético de búfalos, bovinos, ovinos e caprinos;
  • produção de soja;
  • produção de sementes de alto valor estratégico;
  • sistema de reservas alimentares

O acordo firmado entre os governos de Lula e Maduro estabelece que as atividades de cooperação deverão ser empreendidas, do lado brasileiro, pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). O texto não faz menção ao MST e define que a cooperação técnica não prevê repasse de recursos financeiros de uma país para outro.

Esse acordo entre a gestão petista e o governo Maduro é fruto de uma reaproximação após a posse para o terceiro mandato do ditador venezuelano. Como revelou o Estadão, o governo Lula retomou, com discrição, alguns contatos com o regime, enquanto observa com atenção as medidas adotadas pela Casa Branca de Donald Trump em relação à Venezuela.

Maduro diz que entrega de terras ao MST faz parte de ‘projeto cooperativo’

Em anúncio na TV estatal venezuelana nesta quinta-feira, 13, Maduro afirmou que havia criado a “Pátria Grande do Sul” que, nas falas do ditador, busca incentivar a produção agroecológica. O chavista disse ainda que a entrega de terras ao MST faz parte de um “projeto cooperativo, humano dirigido por movimentos camponeses alternativos do mundo inteiro” em parceria com indígenas e militares.

“São terras muito boas para produção, é um dos resgates mais importantes que houve em seu momento e já avançamos tremendamente para ativar todos os planos produtivos”, afirmou Maduro.

As terras foram expropriadas durante o governo de Hugo Chávez, seu antecessor, na década de 2000. Maduro afirmou que elas serão utilizadas para cultivar alimentos destinados ao consumo na Venezuela, no norte do Brasil e para exportação.

Em 2014, outro acordo entre o governo venezuelano e os sem-terra do Brasil foi questionado por integrantes da oposição ao governo Dilma Rousseff. O então deputado Ronaldo Caiado, hoje governador de Goiás e pré-candidato à presidência da República, apresentou requerimento na Câmara para convocar os ministros do governo petista para dar esclarecimentos sobre o caso.

Na época, Caiado disse ao Estadão que o acordo era uma ameaça aos interesses internos do Brasil. “Pelo que vi, tem mais a ver com formação de milícias. Estão chamando um professor para dar aula de revolução em nosso País”, afirmou.

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By valeon