Política

Por
Diogo Schelp – Gazeta do Povo

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o presidente Jair Bolsonaro| Foto: Marcos Correa/Presidência da República

A CPI da Covid no Senado passou da fase de investigar os pecados de omissão e comissão do governo de Jair Bolsonaro na gestão da pandemia para apurar suspeitas de corrupção na compra de vacinas e possível prevaricação do presidente. A esquerda aumentou a frequência dos protestos de rua pedindo #foraBolsonaro e um grupo de deputados de oposição e ex-aliados protocolou o que foi apelidado de “superpedido” de impeachment do presidente. Com tudo isso, quem quer ver Bolsonaro pelas costas começa a acreditar que ele possa vir a sofrer impeachment.

A oposição elenca algumas dezenas de motivos para o presidente ser apeado do cargo. Sem precisar entrar no mérito de nenhum deles, é possível afirmar que Jair Bolsonaro está longe de sofrer impeachment. E assim deve continuar, a não ser que alguma revelação muito bombástica apareça.

Cinco razões explicam porque o cenário atual não sugere que Bolsonaro possa sofrer impeachment:

Na economia, o pior já passou. O ex-presidente Fernando Collor foi apeado do poder em processo de impeachment motivado por denúncias de corrupção e Dilma Rousseff foi derrotada no julgamento político por causa das pedaladas fiscais. Mas em ambos os casos, o contexto do país era de caos econômico. A situação atual é outra. O país enfrenta grave problema de desemprego e a inflação começa a tirar a cabeça para fora da toca, mas o clima geral é de otimismo, de que o pior da recessão econômica provocada pela pandemia já ficou para trás.


A popularidade de Bolsonaro é baixa, mas nem tanto. Em seu pior momento, Collor tinha apenas 9% de aprovação. Dilma chegou ao piso de meros 8% de avaliações ótimas ou boas. Praticamente todas as pesquisas de opinião mais recentes indicam que Bolsonaro vive seu pior momento de aprovação, mas mantém-se no patamar dos 20%. A última pesquisa Ideia-Exame aponta que o governo Bolsonaro é avaliado como ruim ou péssimo por 54% dos brasileiros, regular por 21% e bom ou ótimo por 23%. Nenhum presidente brasileiro com dois dígitos de popularidade chegou a sofrer impeachment.
O centrão quer chupar o caroço até o fim. Pode-se fazer a crítica que se quiser às pesquisas de opinião e até duvidar delas, mas o fato é que os dados de popularidade são um termômetro importante para aquele que detém o poder de pautar o impeachment (Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados) e para aqueles que são o fiel da balança em um eventual julgamento político (os parlamentares do centrão). Bolsonaro articulou uma aliança com os partidos do centrão no segundo semestre do ano passado, rendendo-se assim à velha política do toma-lá-dá-cá, o incluiu desde a criação de um bilionário orçamento paralelo e a distribuição de cargos — tudo às custas dos pagadores de impostos, claro, e com a elevação do risco de escândalos de corrupção. Quando mais fraco Bolsonaro parece, mais o centrão pode cobrar pelo apoio. Arthur Lira já deixou claro que não vai tirar os pedidos de impeachment da gaveta. Por que o faria, se pode chupar essa manga até o caroço por mais um ano, pelo menos?


Os protestos contra Bolsonaro são partidários. As grandes manifestações populares que pressionaram pelo impeachment de Collor e de Dilma eram suprapartidárias. No caso de Collor, houve liderança inicial de organizações estudantis e de grupos de esquerda, mas os protestos engrossaram de maneira espontânea e contaram com a adesão de partidos de centro como PSDB e PMDB. Os movimentos que pediram a saída de Dilma não contaram com o apoio da esquerda, obviamente, mas foram acima de tudo apartidários: tanto que a bandeira predominante era a do Brasil. Já as manifestações contra Bolsonaro, como a ocorrida neste sábado (3), cada vez mais se parecem com comícios pré-eleitorais do PT. Outros partidos de esquerda ou centro-esquerda aderiram, mas a tônica é dada pela estrela sobre o fundo vermelho. O PSDB de São Paulo aderiu de última hora e seus militantes acabaram agredidos pelos ativistas de extrema esquerda do Partido da Causa Operária (PCO). Cenas assim espantam potenciais manifestantes que querem ver Bolsonaro pelas costas mas que não se identificam com as ideologias esquerdistas.


Lula finge que quer, mas não quer. Lula, provável candidato do PT às eleições presidenciais do ano que vem, diz que Bolsonaro deve sofrer impeachment e apoia as manifestações. Mas, no fundo, do ponto de vista eleitoral, o melhor para o petista é que Bolsonaro cumpra o seu mandato até o fim para poder enfrentá-lo nas urnas, garantindo uma polarização que o favorece. Se Bolsonaro sofrer impeachment, qualquer outro candidato com menos rejeição poderá ficar com os votos antipetistas e mais um pouco, com potencial real de derrotar o ex-presidente.


A não ser que algo muito extraordinário aconteça, Bolsonaro não vai sofrer impeachment.


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By valeon

One thought on “Por que Bolsonaro está longe de sofrer impeachment”
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