Petrobras duplicará importação gás enquanto Brasil reinjeta gás do pré-sal
Ludmylla Rocha
© Reprodução/Petrobras Terminal de regaseificação de gás natural liquefeito da Baía de Guanabara (TR-BGUA), no Rio de Janeiro (RJ)
A Petrobras vai expandir em 50% sua capacidade regaseificação de gás natural liquefeito (GNL) no Rio de Janeiro. Serão em breve até 30 milhões de metros cúbicos por dia, segundo divulgou a estatal na 5ª feira. (17.set.2020). De acordo com a empresa, a iniciativa é o novo recorde mundial de regaseificação com FSRU (Floating Storage and Regasification Unit).
Por que isso importa? Porque o GNL será todo importado. Trata-se de gás extraído no exterior e trazido até a costa brasileira em navios. Quando o combustível chega, precisa ser regaseificado. Enquanto isso, dados mais recentes indicam que o Brasil está reinjetando cerca de 45% do gás que sai do pré-sal.
O gás natural dos poços do pré-sal não tem sido viável economicamente. É necessário mais terminais para escoar o combustível até a costa brasileira. Em seguida, conectar a uma rede de distribuição para o interior do país, que hoje não existe.
O Brasil tem 9.400 km de gasodutos (a vizinha Argentina tem 16.000 km). O governo federal, por meio do Novo Mercado de Gás, pretende que a iniciativa privada supra essa eventual demanda para mais gasodutos. Antes disso, a prática mais atraente para empresas petroleiras é reinjetar o gás que sai dos poços do pré-sal –e importar GNL, pois a oferta é grande no mercado internacional.
Parte disso se deve à pandemia de covid-19. A redução da demanda de petróleo e seus derivados fez com que a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) optasse por cortar a produção para sustentar o preço do produto.
Em 17 de agosto de 2020, o presidente Jair Bolsonaro foi até Sergipe inaugurar 1 terminal que recebe GNL importado e que vai fornecer gás para uma termoelétrica no Estado. No evento, o ministro Bento Albuquerque (Minas e Energia) e o presidente saudaram o empreendimento, mas não citaram de onde viria o gás –que, no caso, será 100% importado apesar de Sergipe ter uma das maiores reservas do pré-sal.
GOVERNO APOSTA NA NOVA LEI DO GÁS
Para incentivar o mercado nacional e baratear o gás, o governo Bolsonaro tem defendido a aprovação do projeto de lei 6.407 de 2013 que muda as regras para o mercado de gás natural no país.
O texto, que foi aprovado em 1º de setembro na Câmara dos Deputados e agora aguarda a análise dos senadores, facilita a participação da iniciativa privada neste mercado por meio de mudanças na forma de contratação, obrigando o compartilhamento de estruturas existentes com terceiros mediante pagamento, autorizando grandes consumidores a construírem seus próprios dutos e dificultando a atuação dos mesmos agentes em diferentes etapas do processo de produção. Leia mais sobre o projeto aqui.
Parte do setor, porém, afirma que, sem incentivo por meio da demanda, os altos preços para implantação dos gasodutos e o mercado internacional impedirão que o efeito esperado pelo governo (R$ 630 bilhões em investimentos, geração de 4,3 milhões de empregos e barateamento do gás) sejam efetivados por meio desta legislação.
Outra ideia discutida no Congresso Nacional foi a criação do Brasduto (Fundo de Expansão dos Gasodutos de Transporte e de Escoamento da Produção). A iniciativa buscava destinar 20% da renda do pré-sal para o fundo de construção dos gasodutos e havia sido incluída no projeto de lei 209 de 2015, que trata do risco hidrológico na produção de energia. O presidente Jair Bolsonaro, no entanto, vetou o trecho.