Mauro Bomfim

Cronograma de Carga e Lacração – preparação da urnas para o 2° turno das Zonas Eleitorais do Paraná – Tags: eleições2018, eleições, voto, sulfrágio, Tribunal, urna eletronica. Fotos: André Rodrigues

Foram 64 ausencias de deputados federais ontem na votação da PEC do Voto Impresso.

Votaram pela aprovação 229 e pela rejeição 221.

Dos 64 absenteistas, certamente muitos podem ser de partidos do Centrão que “liberaram” suas bancadas.

Exatamente a fina flor do Centrão, partidos como o PP do Ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, o PL de Waldemar Costa Neto e o PTB de Roberto Jefferson simplesmente liberaram os votos das bancadas, o que foi decisivo para derrota do voto impresso ( minha opinião a respeito do tema mereceria ampla digressão juridico-ontologica e por isso pouparei os leitores).

Não se desconhece que alguns deputados de partidos que recomendaram o voto “não ” acabaram votando “sim”. A traição do punhal de Brutus tem lâmina dupla.
Raras vozes dos que votaram em Bolsonaro em 2018, tiveram coragem e ousadia de alertá-lo para o perigo de entregar o coração e a alma do Governo para o Centrão, espécie de planta carnívora que suga tudo do Governo e depois expele um resto de placenta botânica no meio do charco da política brasileira.

A votação de ontem é um testemunho eloquente que o Centrão somente será fiel “no dia em que o Sargento Garcia prender o Zorro”.

Pensando em aprovar as reformas e até mesmo se blindar dos pedidos de impeachment, o Presidente Bolsonaro entregou o centro de gravidade do Governo ao Centrão.

E ao necessitar da fidelidade na votação, como no caso da PEC do Voto Impresso ontem, o Centrão simplesmente pratica às avessas a política “franciscana do é dando que não se recebe”.

Dirse-se-a que o presidente não governaria sem o Centrão. Mas vale a pena pagar preço tão caro e ainda se desgastar e perder apoio em ponderável parcela de seu eleitorado que foge do Centrão como o diabo da cruz?

Talvez hoje seja esse o grande dilema do Presidente Jair Bolsonaro.

Na genial tragédia de Goethe, Fausto vendeu sua alma para o
demônio. Os dois chegam ao acordo – selado com sangue – de que o
Diabo fará tudo o que ele quiser na Terra e, em troca, Fausto terá de
servir o demônio no Inferno. Mas há uma cláusula importante: a alma
de Fausto será levada somente quando Mefistófeles criar uma
situação de felicidade tão plena que faça com que Fausto deseje que
aquele momento dure para sempre.

Na cena brasiliense, Bolsonaro se personifica em Fausto, o
personagem do seminal escritor alemão, e o Centrão é o Demônio.

Como no poema trágico de vários atos, Jair Bolsonaro, como o final da
tragédia de Fausto pensa conseguir chegar ao Paraíso, por haver perdido
apenas metade da aposta com o demônio.

Mas as diatribes do Centrão colocam pedras e cascas de banana no caminho do Governo. Isso depois de sugar avidamente o ubere farto e generoso do Orçamento da União, com liberação de valiosas emendas para suas bases e proselitos nos grotoes do país, garantindo folgadamente a reeleição de parlamentares centralinos.

Em seus 28 anos vividos na Câmara dos Deputados, Bolsonaro já deveria ter captado em seu radar politico que o demoníaco Centrão, com o apetite de Pantagruel, sugara tudo o que puder e na hora de demonstrar fidelidade ao Governo, agirá como se quisesse o governo como amante, mas não como esposa.

Tal o Demônio que roubou a alma de Fausto,
o Centrão seduziu Bolsonaro, que o aceitou para ter maioria parlamentar.

Na sua intuição política, entregaria só os anéis, não os dedos. Mas
lidar com o Centrão é ter Mefistófeles nos seus calcanhares.

Ou o presidente Bolsonaro, como no canto final da tragédia de Goethe, cantará
o coro da vitória. Ou o Centrão arrastará Fausto para as profundezas
abissais do Hades, o inferno do herói mitológico Ulysses, narrado magistralmente por Joyce.

Não sei se o presidente vai pagar pra ver mais uma opera bufa executada pela partitura do Centrão.

Mauro Bomfim é
advogado, jornalista e escritor.

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