Doutrinação na escola
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Gazeta do Povo
Prova aplicada em escola pública de Fortaleza afirma que o presidente Bolsonaro foi o responsável pelas mortes por Covid-19| Foto: Evaristo Sá/AFP
“Quem é o culpado pelas mortes de mais de 550 mil pessoas no Brasil, por não ter tomado as devidas providências adequadas e necessárias para salvar estas vidas com a compra de vacinas?”. Essa foi apenas uma das questões que alunos de uma turma de educação de jovens e adultos (EJA) de Fortaleza, no Ceará, tiveram de responder como parte da avaliação do terceiro bimestre da disciplina de Geografia. A denúncia foi feita pelo deputado estadual André Fernandes (Republicanos) em suas redes sociais.
De acordo com o deputado, que obteve uma cópia da prova, a avaliação foi aplicada na Escola Municipal Florival Alves Seraine. Pelo menos três das questões da prova citam o presidente Jair Bolsonaro, associando-o à má gestão da pandemia de Covid-19. Em uma delas, os alunos deveriam responder o que é Covid-19, assinalando verdadeiro ou falso dentre quatro afirmações. Uma dessas afirmações trazia a frase “É uma gripezinha e um resfriadinho, como disse Bolsonaro”.
Outra pergunta era mais direta e mencionava Bolsonaro já no enunciado: “O Presidente da República Jair Messias Bolsonaro mesmo sem ser médico e não tendo nenhuma formação na área de saúde estava prescrevendo medicação sem nenhuma confirmação de eficácia comprovada para a população Brasileira remédio para o combate ao Coronavírus”. Como resposta, os alunos deveriam optar entre quatro alternativas: (A) Hidroxicloroquina (remédio para o tratamento de lúpus e artrite reumatoide; (B) Cloroquina (remédio para o tratamento de malária); (C) ivermectina (remédio para tratamento de piolho); ou (D) Os remédios indicados por Bolsonaro sem eficácia nenhuma no tratamento da COVID 19 são todas as letras A, B e C.
Essas substâncias são algumas das utilizadas no chamado “tratamento precoce”, o uso de um coquetel de medicamentos, cujas evidências não são ainda definitivas. De fato, há estudos que sugerem que esses medicamentos não funcionam, como uma pesquisa importante do British Medical Journal. Mas também há muitas pesquisas apontando o contrário. Por isso, o Conselho Federal de Medicina (CFM) se negou a proibir o uso desses remédios, defendeu a autonomia dos médicos para prescrevê-los e condenou o uso político do tema. Em março, entidades médicas desaprovaram nota da Associação Médica Brasileira (AMB), que pedia o banimento do tratamento precoce, postura considerada por elas como anticientífica.
Prova diz que Bolsonaro é culpado pelas mortes por Covid
Ainda mais explícita, a questão número 15 da prova perguntou diretamente aos alunos “Quem é o culpado pelas mortes de mais de 550 mil pessoas no Brasil, por não ter tomado as devidas providências adequadas e necessárias para salvar estas vidas com a compra de vacinas?”. Como alternativas para resposta, a questão listava quatro opções: (A) O Presidente da República Jair Messias Bolsonaro; (B) Os Governadores dos 26 Estados e do Distrito Federal; (C) O Prefeito de cada um dos 5.570 municípios Brasileiros; (D) Do Presidente do Supremo Tribunal Federal – STF.
De acordo com o deputado, o professor responsável pela aplicação da prova teria usado um grupo de WhatsApp para confirmar que a resposta correta para essa última pergunta era a alternativa A, “O Presidente da República Jair Messias Bolsonaro”. “Algo que deveria ser uma opção, ele colocou como se fosse uma certeza e quem não concordar, pode até zerar numa prova dessa”, disse o parlamentar.
Fernandes disse ainda que irá levar o caso até a Advocacia-Geral da União (AGU), além de solicitar providências à Secretaria de Educação de Fortaleza.
Em nota, Secretaria Municipal da Educação de Fortaleza (SME) disse que, conforme a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei Nº 9394/96, os professores têm autonomia pedagógica para a realização de atividades com os alunos. Mas “a abordagem político-partidária como a que está em questão não faz parte das diretrizes curriculares adotadas pela Rede Municipal de Ensino”.
A nota ainda diz que a SME não apoia ou orienta a aplicação de conteúdos nas unidades escolares com esse viés e que já determinou a instalação de processo administrativo para apuração das responsabilidades e encaminhamento das providências necessárias.
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