Da redação – ISTOÉ

Como o cantor que se lançou na Jovem Guarda, tornou-se um astro do sertanejo vencedor de Grammys, foi ator de novelas e elegeu-se deputado federal por São Paulo com mais de 45 mil votos chega aos 81 anos como alvo de investigações por diversos possíveis crimes, após ter se tornado um fervoroso defensor do presidente Jair Bolsonaro (sem partido)?

Como deputado, as bandeiras defendidas pelo sertanejo, como a redução da maioridade penal e a moralização da política, o aproximou de Bolsonaro Reprodução/Redes Sociais© Reprodução/Redes Sociais Como deputado, as bandeiras defendidas pelo sertanejo, como a redução da maioridade penal e a moralização da política, o aproximou de Bolsonaro Reprodução/Redes Sociais

Famoso por sucessos como “Menino da Porteira” e “Pinga Ni Mim”, o cantor e ganhador do Grammy Latino enveredou para a política em 2014, quando foi eleito deputado federal, aos 74 anos, graças à alta votação de Celso Russomanno (PRB), que acabou puxando o sertanejo, para a Câmara.

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Mas como o cantor que foi ídolo da Jovem Guarda virou um dos porta-vozes do bolsonarismo e investigado pela PF por “incitar a população” a praticar “atos violentos e ameaçadores contra a democracia, o Estado de Direito e suas instituições, bem como contra os membros dos Poderes”?

De deputado federal a investidado da Polícia Federal, confira a trajetória política de Sérgio Reis:

Sérgio Reis foi eleito deputado federal pelo Estado de São Paulo em 2014, pelo PRB, atual Republicanos. Na Câmara, o então deputado se aproximou ainda mais do campo, a partir da participação em comissões relacionadas ao agronegócio. Em 2018, quando o então colega de Câmara Jair Bolsonaro foi eleito presidente, Sérgio Reis não tentou a reeleição. Após deixar o cargo, ele declarou que seu propósito na política era “retribuir o povo”.

As pautas defendidas por Sérgio Reis na Câmara já colocavam o cantor como um “bolsonarista em potencial”. Estiveram, por exemplo, entre as bandeiras do sertanejo, a redução da maioridade penal e a moralização da política. A boa relação do cantor com políticos veio antes mesmo de sua eleição. Em 2014, ele afirmou ter amizade com nomes que vão dos tucanos José Serra e Geraldo Alckmin a Lula, que, segundo o cantor, ia a seus shows.

Um ano antes da última eleição presidencial, o cantor já declarava abertamente seu apoio a Bolsonaro. Em vídeo publicado em 2017 pelo atual presidente da República, Reis afirmava: “Precisa de um linha-dura? É Bolsonaro”. Na gravação, em que também defende o porte de arma, o cantor disse “gostar” de Bolsonaro e que ele seria capaz de “botar a casa em dia”, pois tem “pulso firme”.

No último sábado, 14, o cantor deixou explícita a tentativa de atuar como porta-voz do governo Bolsonaro. Em áudios e vídeos que circularam nas redes sociais, Sérgio Reis convoca caminhoneiros e ruralistas para uma manifestação em 7 de setembro pelo impeachment de ministros do STF — tema que o próprio presidente da República propôs ao Senado — e pelo voto impresso, pauta que já foi rejeitada em votação no plenário da Câmara dos Deputados.

Em um dos áudios, o cantor sugere que o movimento conta com apoio financeiro para manter os manifestantes hospedados e alimentados em Brasília por mais de um mês. Seria uma forma de forçar os senadores a aprovar o afastamento dos ministros do STF e o voto impresso. O artista dá a entender que o presidente Jair Bolsonaro apoia o movimento.

Três dias após o chamado à paralisação, o cantor virou alvo de uma representação assinada por 29 subprocuradores da República, que pediram a abertura de investigação para apurar se o artista cometeu crimes como incitação à subversão da ordem política ou social e incitação ao crime.

O documento foi enviado na terça-feira, 17, à Procuradoria da República no Distrito Federal. Os subprocuradores argumentaram que é preciso considerar o contexto recente de ‘ameaças de ruptura institucional’ e “desrespeito à independência dos Poderes e de seus integrantes”.

Após a repercussão dos vídeos e áudios o cantor e o deputado bolsonarista Otoni de Paula foram alvo, na manhã de sexta-feira (20), de mandados de busca e apreensão da PF. As medidas foram autorizadas pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo, a pedido da PGR.

A proximidade do cantor com o setor de transportes inclui o repasse de R$ 398,2 mil em verbas de origem pública que são repassadas a entidades de transportes ligadas ao Sistema S. Ele recebeu os pagamentos para divulgar ações do setor em suas mídias sociais entre janeiro e setembro de 2020, pelo Serviço Social do Transporte (Sest) e o Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Senat).

Cada uma das duas entidades fez depósitos de R$ 18,1 mil mensais à empresa do cantor, chamada Sérgio Reis Produções e Promoções Artísticas Ltda. Os pagamentos constam da prestação de contas do Sest/Senat para 2020, e se referem à divulgação de iniciativas das entidades nas redes sociais de Sérgio Reis, como o Facebook e o Instagram.

Repercussão

Após o cantor ser investigado por incitar atos violentos e ameaçadores contra a democracia, Maria Rita optou por cancelar sua participação no novo álbum de Sérgio Reis. A cantora havia gravado uma versão de “Romaria”, famosa na voz de sua mãe, Elis Regina.

Outro que se pronuncioi foi o músico Gutemberg Guarabyra, famoso por integrar a dupla Sá e Guarabyra. No Twitter disse: “No disco dele que irá sair, inclusive participaria em uma faixa, gravação dele de Sobradinho. Mas me considero incompatível com seu posicionamento atual e infelizmente declino o convite.”

À Folha de S. Paulo, sua esposa Ângela Bavini disse que o sertanejo foi “mal interpretado” e que adoeceu após a ampla repercussão negativa do vídeo.

“Ele está muito triste e depressivo porque foi mal interpretado. Ele quer apenas ajudar a população. Está magoado demais”, afirmou à coluna de Mônica Bergamo. “A diabetes dele subiu que é uma barbaridade”, disse ela, creditando a situação ao estresse.

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By valeon