1. Política 

Campanha eleitoral já começou, e a comissão colocou na mesa da opinião pública uma pauta pantagruélica

Joaquim Falcão, O Estado de S.Paulo

Óbvio ululante: a campanha eleitoral já começou. Desde o primeiro dia do atual governo. Nada surpreendente. O general Golbery Couto e Silva, estrategista do regime militar, dizia que um projeto de poder deveria durar vinte anos.

CPI faz parte da campanha em curso. Será esta campanha de matança geral como um filme de Quentin Tarantino? 

Ou respeitará os limites democráticos e os adversários? Mas já se insinua repleta de acusações, indícios e evidências de crimes. Será uma inquisição digna de tribunais medievais? Com familiares esgarçados nos cadafalsos?

De pedidos, solicitações, gritos e sussurros para que os órgãos de controle da democracia – como o Supremo, o Ministério Publico, o Tribunal de Contas, a Controladoria-Geral, por exemplo – ajam rápido. Estes órgãos, porém, estão quase deprimidos e reprimidos. Atordoados. Partidos. Não têm a agilidade necessária. Perdidos nas burocracias internas para controlar o que poderá vir.

CPI da Covid
Relatório final da CPI da Covid sugere indiciamento de Bolsonaro, três filhos e mais 62 pessoas Foto: Joedson Alves/EFE

Se já é difícil para o ministro Luís Roberto Barroso, imaginem para o ministro Alexandre de Moraes, que comandará o Tribunal Superior Eleitoral em 2022.

A CPI já colocou na mesa da opinião pública (e aqui leia-se “na mesa do eleitorado”), uma pauta pantagruélica: havia clara intenção de que a população se contaminasse, criasse anticorpos e retornasse ao trabalho. Ofertas de vacina deliberadamente ignoradas. Médicos adotando protocolos cientificamente rejeitados. Com assento no Palácio do Planalto. Sem máscara. Propinas por vacina.

No plano eleitoral, vemos o crescente aparecimento de entidades de pesquisas nunca vistas. Com pesquisas sanguíneas, contra um ou contra outro. Contra todos. Contra o eleitor também. Para confundir.

A tentar desconsiderar e deturpar os números dos institutos de credibilidade já comprovada como Datafolha, IPEC (Ibope), Ipespe. É o fake news estatístico. 

A corrupção, a ilegalidade, as lavagens de dinheiro e de personalidades, dos candidatos, a todos os níveis, deverão ser literalmente escrutinados.

Alguém imagina que o presidente deixará de fazer campanha logo de manhã nos cercadinhos, tentando pautar a mídia do dia? Se já usa para dizer: “Cala a boca!” e “Vocês são uns canalhas!”, imaginem próximo das eleições.

Caros leitores-eleitores, escondam-se debaixo das mesas. Abaixem as cabeças. Protejam-se. O tiroteio já começou. A carnificina já se insinua.

Como evitá-los?

* MEMBRO DA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, PROFESSOR DE DIREITO CONSTITUCIONAL E CONSELHEIRO DA TRANSPARÊNCIA INTERNACIONAL BRASIL

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