Comandada por Isaías Bernardes, a rede de franquias tem a maior parte de suas operações administradas a partir de São José do Rio Preto
Fernando Scheller, O Estado de S.Paulo
Aos 18 anos, Isaías Bernardes recebeu do pai um presente inusitado: uma sorveteria no centro de Frutal, em Minas Gerais. Seu Francisco, o Chiquinho, sempre trabalhou com agricultura, mas queria garantir um pé de meia para o filho. Montou, então, um pequeno negócio para que ele tivesse por onde começar. Assim nasceu a primeira loja da Chiquinho Sorvetes, em 1980, que se transformou em um negócio de franquias que vai fechar 2021 com 680 lojas e faturamento anual superior a R$ 400 milhões.
Isaías, hoje com 60 anos, conta que a Chiquinho Sorvetes não foi um negócio que decolou de um dia para o outro. “A gente foi crescendo conforme um familiar conseguia abrir uma loja”, recorda o presidente da rede, hoje sediada em São José do Rio Preto (SP). A presença massiva em cidades menores também não foi exatamente uma estratégia: “A gente é do interior, então fomos crescendo pelo interior.”PUBLICIDADE
Foi só em 1985, depois que a loja pioneira – uma portinha de 15 m² – já havia sido ampliada que seu Chiquinho vendeu parte do negócio oficialmente ao filho. Foi naquele ano também que o empreendimento familiar ganhou a primeira unidade no Estado de São Paulo. A filial número um foi aberta em Guaíra. Depois vieram outras cidades paulistas, como Barretos, Orlândia e Araraquara.
Apesar da prosperidade, a sorveteria ainda era um negócio de família. “As pessoas se interessaram pelo negócio, e eu queria ajudar a família, então fui ensinando todo mundo a fazer sorvete”, lembra Isaías. Deixou de ser um negócio de pai e filho e passou a envolver sobrinhos, cunhados e até concunhados.
Dois sabores
Já com dezenas de lojas, o “pulo do gato” veio por volta do ano 2000. Foi quando a rede começou a priorizar o sorvete do tipo “soft” – aquele conhecido em redes de fast-food como Bob’s e McDonald’s. Logo Isaías viu que seria mais fácil crescer simplificando – e muito – a operação.
Foi então que os sorvetes multicoloridos deixaram os refrigeradores da rede para dar lugar, de vez, ao “soft” tradicionalmente elaborado em dois sabores: baunilha e chocolate. Para crescer o leque de produtos e justificar o retorno do cliente para a loja, a equipe da Chiquinho se vale de “enfeitar” as duas bases. Hoje, a oferta começa em R$ 3,50 – a casquinha – e supera os R$ 15 em opções como o milk-shake com nutella.
Para garantir a expansão além dos domínios familiares, foi preciso reorganizar a posição dos Bernardes: de donos de lojas, passaram a fazer parte do time de franqueados da rede. Há uns dez anos, veio a decisão de ficar apenas com os dois sabores e abandonar o sorvete de massa. Foi aí que a Chiquinho decolou de vez.
Comandada por Isaías, a rede de franquias tem a maior parte de suas operações administradas a partir de São José do Rio Preto. A operação é verticalizada – ou seja, faz dentro de casa muita coisa que os negócios costumam destinar a terceiros, como publicidade e design de lojas. A sede hoje reúne 220 funcionários.
Para garantir a distribuição no Brasil quase inteiro – “estamos presentes em todos os Estados, à exceção do Amapá”, lembra o chefe –, a companhia adotou um sistema de distribuição de sorvetes que, curiosamente, dispensa a refrigeração. Embora tenha controle sobre a fórmula do produto, toda a mistura para os sorvetes da Chiquinho sai de uma fábrica terceirizada em Goiás.
A mistura saborizada é distribuída em caixas do mesmo tipo do leite longa vida – a mistura só vira sorvete nas máquinas instaladas em cada franquia. A rede distribui para as suas lojas nada menos do que 1 milhão de litros da matéria-prima, transformada em casquinhas e milkshakes pelo País.
Segundo consultores em alimentação fora de casa, o negócio de sobremesas, em escala, pode ser muito bom. Mesmo nas grandes redes de fast-food, mais conhecidas pelos hambúrgueres, são as casquinhas que garantem lucratividade maior – são elaboradas com uma base mais barata e menos sujeita a variações de preços do que os sanduíches.
No ritmo atual de aberturas, não é raro a Chiquinho inaugurar várias lojas em 24 horas – no dia em que Isaías conversou com a reportagem, a rede ganhava novas unidades em Cubatão e em São Bernardo do Campo. Quarenta e um anos depois de servir o primeiro sorvete, Isaías diz sonhar, no médio prazo, em ver a ação da Chiquinho negociada em Bolsa.
Qualquer que seja o desafio que venha, o empresário diz estar preparado. “Começamos em 1980, então passamos por planos econômicos, congelamento, hiperinflação. Tudo o que você imaginar em termos de governos e recessão, nós enfrentamos”, lembra.