Editorial
Por
Gazeta do Povo

Dinheiro / Real – 25-05-2017 – O Real é a moeda corrente oficial da República Federativa do Brasi e é conhecida pelo R$l. A cédula de um real deixou de ser produzida, entretanto continua em circulação alguns exemplares. As demais cédulas de real continuaram sendo produzidas normalmente pela Casa da Moeda. Entre elas, as notas de: 2,5,10,20,50 e 100. Na foto, detalhes de uma nota de 100 reais.

| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

Ao vencer a eleição presidencial em 2014 para seu segundo mandato, a presidente Dilma Rousseff declarou que faria mudanças na política econômica para colocar o país no rumo do crescimento, pois o Produto Interno Bruto (PIB) daquele ano já estava consolidado como medíocre, principalmente considerando que a população seguia aumentando. O plano do governo era composto de seis pontos principais. O primeiro era o compromisso de adotar transparência nas informações e manter a contabilidade pública dentro de um rigor, sem maquiagem. O irônico foi que a cassação do mandato presidencial em 2016 se deu exatamente por falta de transparência e pela “contabilidade criativa”, com manipulação contábil, distorções na escrituração dos gastos e as conhecidas pedaladas fiscais.

Esse primeiro ponto prometido tinha como finalidade mostrar aos agentes de mercado e analistas internacionais que as informações e os indicadores sobre o Brasil iriam refletir a verdade dos fatos; logo, deveriam merecer confiança. Naquele momento, publicações internacionais haviam desistido de divulgar estatísticas da Argentina, pois o governo daquele país vinha manipulando informações. O Brasil estava indo pelo mesmo caminho e o primeiro ponto do plano de Dilma visava a reverter a desconfiança nacional e internacional. O segundo ponto tratava do compromisso da presidente com a austeridade fiscal e o controle dos gastos, pois a dívida pública havia se aproximado de 62% do PIB. No começo de 2015, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou que buscaria superávit primário (receitas menos gastos antes de deduzir os juros da dívida) de 1,2% do PIB em 2015 e 2% nos anos seguintes.

As três pernas do tripé macroeconômico – equilíbrio fiscal, metas de inflação e câmbio flutuante –, enfraquecidas entre 2014 e 2016, se apresentam debilitadas novamente neste 2021

O setor estatal consolidado (União, estados e municípios) estava com os gastos se aproximando de 40% do PIB e um déficit fiscal perigoso que, se não fosse controlado, poderia fazer a dívida pública explodir em poucos anos; o terceiro ponto era a promessa de que o governo iria controlar a dívida pública e trazê-la para 50% do PIB, adotando um programa de austeridade no presente para salvar o futuro de sacrifícios maiores. O quarto ponto dizia respeito ao combate à inflação, que estava ameaçando subir mais que o aceitável; a meta era fazer o IPCA baixar de 6,5% para 4,5% no ano. A razão dessa promessa é que o mercado estava assustado com a defasagem nos preços da energia, dos combustíveis e do transporte coletivo, cujos preços haviam sido represados pela presidente Dilma em 2014 para tentar segurar a inflação e não atrapalhar sua pretensão eleitoral.

Naquele programa do governo, o quinto ponto prometia aumento de gastos sociais – promessa difícil de cumprir junto com austeridade fiscal; e o sexto ponto tratava da política cambial, que era a terceira perna do tripé econômico fundamental implantado após o Plano Real, no governo Fernando Henrique Cardoso, e composto por metas de inflação, equilíbrio fiscal e câmbio flutuante. O plano, no papel, não era ruim; a dúvida era quanto à capacidade do governo de implantar as medidas considerando o quadro político, o tipo de política econômica favorecido pela esquerda, e o baixo crescimento de 2014. O governo Dilma, de forma até previsível dadas as características da “nova matriz econômica” e sua ênfase na gastança, não cumpriu seu próprio plano. Em 2015, o Brasil foi castigado por uma recessão econômica pesada, que fez o PIB cair 3,5%. A recessão desorganizou a economia, o desemprego cresceu, a arrecadação tributária diminuiu e, em 2016, o PIB repetiu a queda em taxa praticamente igual à do ano anterior; como resultado, o Brasil teve a mais dura recessão no acumulado dos dois anos.


A importância de relembrar o histórico que vai de 2014 a 2016, com sua grave recessão, tem a ver com a pandemia e a recessão de 2020, que deixaram o Brasil de hoje parecido em alguma medida com o Brasil daquele período, e com as três pernas do tripé macroeconômico – equilíbrio fiscal, metas de inflação e câmbio flutuante – se apresentando debilitadas novamente neste 2021. As causas são diferentes, mas os efeitos são parecidos, com a inflação atual tendo sido causada por um choque de oferta, que é a queda de produção nacional em 2020 em função dos efeitos da pandemia, levando à coexistência estranha entre alto desemprego e preços em alta. A combinação de recessão – especialmente queda de produção e alto desemprego – com aumento das taxas de inflação (no acumulado de 12 meses em outubro passado, o IPCA atingiu 10,67%) é chamada pelos economistas de “estagflação”, um fenômeno complexo que exige, entre outras, medidas urgentes destinadas a estimular o aumento do PIB.

No ano de 2022, em que o país terá eleições federais e estaduais, uma prioridade fundamental é buscar a volta consistente do crescimento econômico a taxas significativas (circulam previsões pessimistas, algumas dizendo que o PIB não crescerá mais que 1% no ano). Embora o PIB possa terminar 2021 com taxa de crescimento perto de 5%, isso é insuficiente para reverter o desemprego agravado pela queda em 2020, vinda da desorganização econômica provocada pelas medidas implantadas para o enfrentamento da pandemia. Esse cenário impõe que a meta de 2022 seja a mesma do fim de 2016: o crescimento econômico. A cobrança a ser feita dos candidatos e, posteriormente, dos eleitos é a aprovação de leis e medidas capazes de incentivar a produção de riqueza. O problema, assim, se resumirá a dois pontos: identificar quais reformas e medidas serão capazes de promover o aumento da produção nacional, e saber se o governo e o parlamento serão capazes de fazer o que precisa ser feito.


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