Pré-candidato à Presidência, ex-juiz admite que vai ser questionado sobre suas decisões na Lava Jato durante a campanha
Pedro Venceslau, O Estado de S.Paulo
Em um evento virtual realizado nesta segunda-feira, 13, pelo Derrubando Muros, grupo que reúne economistas, empresários, educadores, banqueiros e intelectuais de centro, o ex-ministro Sérgio Moro (Podemos) se apresentou como um pré-candidato com “viés liberal” na economia e disse “ter dúvidas” se o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vão aceitar participar de debates com ele na campanha presidencial do ano que vem.
“Tem que ver se vai ter debate. Eu me disponho a ir, mas tenho dúvidas se o ex e o atual presidente vão se dispor a ir nessa arena”, disse.
Em uma tentativa de se contrapor aos dois líderes das pesquisas de intenção de voto, o ex-juiz disse que Bolsonaro “flerta com o autoritarismo” e tem um “projeto pessoal e familiar de poder”, enquanto Lula representa o governo que deixou “os dois maiores escândalos de corrupção da história”.
Em outra passagem, Moro, que falou dos Estados Unidos, deu sua versão sobre sua decisão de entrar na política. “Se tivesse um candidato competitivo de centro contra os dois, eu provavelmente ficaria no setor privado”, afirmou.
Apesar do tom duro, o pré-candidato do Podemos disse que não pretende adotar uma postura agressiva na campanha e admitiu que vai ser questionado sobre suas decisões na Lava Jato e no governo Bolsonaro, que integrou como ministro.
“Essa campanha vai ter um componente sobre o passado. Algumas pessoas são críticas em relação à algumas decisões que eu tomei, mas tenho tranquilidade, tanto no caso da Lava Jato como no Governo. Às vezes foram decisões difíceis, mas estou pronto para defendê-las.”
A eleição de 2022 não será para construir horizontes, será para destruir adversários
Bolsonaro, Lula, Moro, Ciro, Doria: disputa será um campeonato de rejeições
Eliane Cantanhêde, O Estado de S.Paulo
Foi-se o tempo em que os brasileiros discutiam quem consideravam o melhor candidato, mais experiente, preparado, confiável, honesto e, só de quebra, davam uma estocada nos que não gostavam de jeito nenhum. Agora, os eleitores só criticam, atacam, quando não odeiam. A eleição de 2022 será um campeonato de rejeições.
Esse movimento começou, ou se intensificou, em junho de 2013, com os protestos espontâneos contra tudo e contra todos, embalados pela internet e ao largo dos partidos políticos. A negação da política deu no que deu, mas só piora.
Novas pesquisas deverão confirmar, nesta semana, altos índices de rejeição. O presidente Jair Bolsonaro, por exemplo, teve 59% e foi o campeão nesse quesito no Datafolha de setembro. Tudo é possível, mas é difícil um candidato com esse índice vencer no final.
Foram duas perguntas: “Em quem não vota de jeito nenhum no primeiro turno da eleição para presidente?” e, depois, “Em quem mais?” Ou seja, os entrevistados puderam apontar os dois candidatos que mais rejeitam e Bolsonaro “venceu” na soma. Os demais, porém, não têm o que comemorar.
A rejeição do ex-presidente Lula, primeiro nas intenções de voto, foi de 38%. A de João Doria, então disputando as prévias do PSDB, de 37%. A de Ciro Gomes, 30%. Todas muito altas. Os demais ficaram abaixo de 20%, porque são desconhecidos. Pouco conhecimento, baixa rejeição.
Nas novas pesquisas, o ex-juiz Sérgio Moro chega ao terceiro lugar das intenções de voto, mas disputando com Bolsonaro o campeonato de rejeição. Pelo instituto Quaest, que registra o índice só entre os que conhecem o candidato, a rejeição de Moro bateu em 61%.
Considerado todos os entrevistados, nem Moro nem os demais deverão chegar a uma rejeição tão impactante, mas ainda assim o índice de Moro será alto. Ele é o mais rejeitado/detestado pelos eleitores de Lula e pelos bolsonaristas resilientes.
Assim, a eleição vai ser uma guerra de rejeições, de ataques, de ódio e de… fake news. As verdades contra os adversários serão muito pioradas, para assumir potencial destruidor. As meias-verdades serão muito apimentadas, para tornar esses adversários intragáveis.
Com Lula consolidado, ele tenta adiar sua entrada no tiroteio, enquanto Bolsonaro mira em Moro e em Doria e Moro e Doria atacam Bolsonaro, tudo pela segunda vaga do segundo turno. Já Ciro Gomes ataca Moro e Doria para sobreviver.
Assim, não esperem programas de governo, compromissos, debates sobre economia, inflação, emprego, renda, educação e saúde. A eleição de 2022 não será para construir horizontes, será para destruir adversários.