Fundo Monetário Internacional confirma acordo com o governo para encerrar atividades no País no ano que vem; projeções para o PIB desagradaram a Paulo Guedes, e ministro também criticou falas de Ilan Goldfajn, nomeado para o FMI
Filipe Serrano, O Estado de S.Paulo
O Fundo Monetário Internacional (FMI) vai fechar o escritório de representação no Brasil, sediado em Brasília, após um acordo com o governo Bolsonaro. O fechamento foi confirmado pelo órgão internacional em nota enviada em resposta a um pedido do Estadão.
Segundo o FMI, o escritório vai encerrar as suas atividades em 30 de junho de 2022, quando vence o prazo da atual representação no País, definido em acordo prévio com o Brasil. O escritório de representação funciona como uma espécie de embaixada do FMI no País.
“Esperamos que a alta qualidade do envolvimento do corpo técnico do Fundo com as autoridades brasileiras continue, à medida que trabalhamos de perto para apoiar o Brasil no fortalecimento de sua política econômica e de suas configurações institucionais”, afirmou o FMI em nota.PUBLICIDADE
A decisão de fechar o escritório do FMI no País confirma a declaração do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que o governo pediu ao órgão internacional para dispensar a sua missão no País.
“Estamos dispensando a missão do FMI […] Dissemos para eles fazerem previsão em outro lugar”, declarou Guedes durante encontro com empresários na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.
Guedes também fez críticas diretas ao ex-presidente do Banco Central, o economista Ilan Goldfajn, nomeado pelo FMI para o cargo de diretor do Hemisfério Ocidental a partir do ano que vem, uma das posições mais importantes do órgão.
“Ele (Ilan) é um amigo, mas em época de política todo mundo critica, e o Ilan também tem o direito de criticar. Mas já que tem um brasileiro que critica o Brasil indo para o FMI, ele não precisa mais ficar aqui”, afirmou Guedes.
O ministro disse que o FMI já fez o que tinha que fazer no Brasil e que já poderia ter ido embora. E emendou que “só não foi embora porque talvez gostem do futebol, da feijoada e de bom papo”.
Ele lembrou das previsões do fundo de retração próxima a 10% do Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado, o primeiro da pandemia. No fim, a queda foi de 3,9%.
Após repetir que o Brasil “surpreendeu o mundo” ao cair menos da metade do que era esperado, a “desgraça” agora está sendo prevista para o ano que vem. “Eles vão errar de novo.”
Histórico
Criado em 1945 após um acordo entre os países aliados que venceram a Segunda Guerra, o Fundo Monetário Internacional é o organismo financeiro mais importante do mundo, e reúne 190 países membros.
Seu principal objetivo é manter a estabilidade financeira e evitar que crises econômicas tenham efeitos disseminados e duradouros na economia mundial.
O Fundo mantém reservas em moeda estrangeira que podem ser usadas para socorrer países em dificuldades financeiras e sem condições de acessar o mercado financeiro tradicional para levantar recursos. O FMI oferece empréstimos com juros generosos e, em troca cobra dos países um plano de recuperação econômica que, em geral, exige reformas e ajustes fiscais para restaurar a estabilidade e a confiança.
O Brasil é um dos membros mais antigos. O País aderiu ao Fundo em 1946 e já precisou recorrer a empréstimos do FMI em diversas ocasiões.
O economista, diplomata e ex-ministro Roberto Campos, avô do atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, fez parte da delegação brasileira da Conferência de Bretton Woods, em 1944, que criou o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial. /COLABORARAM EDUARDO LAGUNA E FRANCISCO CARLOS DE ASSIS