Editorial
Por
Gazeta do Povo
| Foto: Marcelo Andrade/Arquivo/Gazeta do Povo
Neste início de 2022, a palavra “desinflação” apareceu com certa frequência nas notícias econômicas e, dado que não é uma expressão corriqueira no debate público, tem provocado alguma confusão. A solução de um problema qualquer começa com o conhecimento da essência, do funcionamento e das leis científicas do problema, suas causas e consequências. Certa confusão na compreensão da inflação se estabeleceu em função de a inflação do ano passado, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), ter fechado em 10,06%, bastante alta se comparada com a meta oficial inicial de 3,75%.
Os economistas considerados ortodoxos dizem que a inflação (que vem do verbo “inflar”, ou seja, inchar), em sua origem, é o aumento da moeda circulante em porcentual superior ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Isto é, se a expansão monetária em determinado ano supera o crescimento do PIB, a consequência é a desvalorização da moeda, que se dá pelo aumento do nível geral de preços. O aumento de preços, para essa corrente de pensamento, é o efeito da expansão do estoque de moeda em circulação (“moeda” se refere a todos os meios de pagamentos, seja moeda manual, moeda escritural ou moeda digital). Então, para os puristas a inflação é a emissão de dinheiro em todas suas formas, e cabe ao Banco Central atuar para impedir que o estoque de dinheiro aumente mais que o crescimento da produção real do país.
Com o retorno gradativo ao normal e a volta do crescimento do PIB, tudo ajudado pelo fim da crise hídrica, se está prevendo importante desinflação
Porém, para os fins mais imediatos, convencionou-se chamar de inflação a taxa de aumento generalizado e contínuo dos preços, que no Brasil é medida por vários índices; o IPCA é a “inflação oficial” medida pelo IBGE. Dito isso, o IPCA de 10,06% verificado em 2021 é uma média da elevação de preços de 377 itens de bens e serviços, basicamente aqueles consumidos pelas pessoas com renda de um a 40 salários mínimos, cuja aferição é feita em 11 regiões metropolitanas. Considerando a meta original de 3,75% definida pelo Banco Central (BC), o IPCA de 2021 efetivamente subiu muito e, além de criar certa apreensão entre os agentes econômicos, provocou efeitos imediatos: reduziu o poder de compra dos salários, desorganizou o sistema de preços, prejudicou o cálculo econômico e orçamentário e empobreceu parte da população.
Quanto à deflação, ela significa, de forma direta, o contrário de inflação. Ou seja, há deflação quando os preços nominais têm uma queda generalizada e contínua, de forma que os bens e serviços passam a ter preços inferiores aos preços que tinham no início do período medido. Deflação é um fenômeno raro, porém, quando ocorre, cria sérios problemas no sistema econômico: produz desemprego, eleva a pobreza e, geralmente, deriva de crises graves, especialmente depressões econômicas como a que ocorreu nos anos 1930, quando o PIB chegou a cair 40% em algumas regiões. Neste início de 2022, em função da realidade brasileira, começou-se a falar em “desinflação”, que não se confunde com deflação.
Em relação à desinflação, seu significado pode ser explicado comparando a inflação a um tumor (um inchaço verificado em um corpo), que diminui de tamanho após um processo de desinflamação, sem, contudo, desaparecer. O que vem sendo dito por alguns analistas é que a inflação de 10,06% verificada em 2021 contém elementos atípicos (especialmente a recessão e a desordem provocadas pela pandemia) e que, uma vez encerrado o isolamento social, com o sistema produtivo voltando ao normal, os preços poderão continuar crescendo, mas a uma taxa em torno de 5%, que é a previsão feita por vários analistas. Ou seja, a taxa de inflação deve desinflar (desinchar) e continuará existindo, embora em um nível menor.
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