Submarinos Borei levam a bordo 107 tripulantes e um poder apocalíptico: 16 mísseis Bulava, cada um deles com 6 cargas nucleares independentes – um inventário de 96 ogivas atômicas
Roberto Godoy, O Estado de S.Paulo
O perigo pode estar agora mesmo pronto para destruir um país. Invisível. Silencioso. A um toque de botão de despejar fogo mais quente que o calor do núcleo do sol sobre o alvo. Pessoas e prédios vaporizados, virando sombras apenas impressas no pouco que restar depois da onda de choque.
A devastação está contida em um tubo negro de metal de 170 metros de comprimento, parado debaixo da linha da água. Agora no Mar Negro, ameaçando cidades como Kiev e Kharkiv, os grandes submarinos russos da classe Borei, 24 mil toneladas de deslocamento, que levam a bordo 107 tripulantes e um poder apocalíptico: 16 mísseis Bulava, cada um deles com 6 cargas nucleares independentes – um inventário de 96 ogivas atômicas.
É a maior ameaça efetiva da mobilização dos batalhões de ataque estratégico determinada pelo presidente Vladimir Putin. Há ainda outros recursos nessas forças, como os mísseis balísticos intercontinentais e as bombas “inteligentes” que procuram as coordenadas de impacto, transportadas por aviões de vários tipos, além de mísseis menores.
Contra esses há a possibilidade de defesa, embora sejam ações difíceis e vulneráveis em certa medida. Contra o Bulava, não. Ele é lançado de seu casulo com o navio submerso, em um ponto qualquer, o mais próximo possível do objetivo. Com 12 metros de comprimento e 40 toneladas de peso, cobre até 9,3 mil km.
Cada ogiva tem 150 kilotons de potência, 10 vezes mais que a da bomba que arrasou Hiroshima, no Japão, em agosto de 1945. Um kiloton equivale a mil toneladas de explosivos convencionais tipo TNT. https://arte.estadao.com.br/uva/?id=2VPRoy
Rússia tem quatro navios Borei. Um deles está em manutenção. Dos outros três não se tem notícias. O arsenal da Rússia soma 6.255 armas nucleares – aproximadamente 1.750 em condições de emprego imediato, segundo o Instituto de Pesquisa para a Paz de Estocolmo. Os EUA acumulam 5.550 armas, 1.700 em prontidão máxima.
O grupo dos países com esse tipo equipamento tem na lista a China, com 350 unidades, França, com 290, o Reino Unido, com 225, Israel, com 200 – capacidade não assumida –, e a Coreia do Norte, que teria estocado entre 8 e 60 armas, número estimado pelas agências de inteligência da Coreia do Sul e do Japão. A Suécia, advertida por Vladimir Putin de receber represálias militares caso insista em manter seu projeto de entrar para a Organização do Tratado do Atlântico Norte, a Otan, desmantelou há 40 anos um ambicioso projeto nuclear de Defesa por causa de seu custo, alto demais.
Iniciado pouco depois da 2a Guerra Mundial, o programa concentrado na Foa, a Agência de Pesquisa da Defesa, dominou todo o ciclo do urânio é concentrou em dois reatores, Agesta e Marviken, a produção de plutônio para abastecer um lote programado de 100 artefatos de combate.
Ao mesmo tempo, a Foa investiu no desenvolvimento de dois aviões, o Saab 36 e depois o Viggen 37, para servir de vetores das bombas. A hipótese de emprego era em um eventual conflito com a então União Soviética. No final dos anos 60 o empreendimento começou a ser desmontado. Em 1972, foi desmantelado. A Suécia já tinha então todo o conhecimento científico e tecnológico para a produção das armas.
*É JORNALISTA