Editorial
Por
Gazeta do Povo

| Foto: Confederação Nacional da Agricultura/Wenderson Araújo

A invasão da Ucrânia pela Rússia traz a necessidade de lidar com preocupações internas que vão além dos graves problemas que o conflito já comporta. Como dissemos anteriormente, enquanto o conflito no Leste Europeu não tomar proporções globais, ainda é possível manter previsões relativamente otimistas quanto às oportunidades econômicas que 2022 pode trazer ao país. Ainda assim, um setor vital para o país merece atenção especial: o agronegócio.

Nos últimos 40 anos, o agronegócio brasileiro fez a maior revolução tecnológica registrada no setor em todo o mundo, tornando o país um dos mais importantes atores mundiais na produção e exportação de alimentos. Para se ter uma ideia do que isso significa, calcula-se que o agronegócio tenha respondido por cerca de 28% de todo o PIB brasileiro, considerando os três primeiros trimestres de 2021. Em 2020, essa fatia foi de 26,6%.

Com a economia ainda em recuperação após os estragos causados pela pandemia, a produção agrícola brasileira tende a ser a principal responsável pelo Brasil não encerrar o ano com uma queda do Produto Interno Bruto (PIB). O setor deve fechar o ano com um crescimento de 3%, de acordo com a maior parte das análises, mas chances de chegar a 5,2% nas previsões mais otimistas.  Nesse cenário, o agro despontaria como o único segmento com crescimento expressivo, em contraste com a retração de 0,6% da atividade industrial e a tímida alta de 0,5% no setor de serviços.

Nos últimos 40 anos, o agronegócio brasileiro fez a maior revolução tecnológica registrada no setor em todo o mundo, tornando o país um dos mais importantes atores mundiais na produção e exportação de alimentos

Até aqui, o cenário global positivo para o agro também decorre do boom das commodities que veio na esteira da pandemia. Grandes nações como a China procuraram aumentar suas reservas de grãos significativamente. A desorganização da cadeia de distribuição global aumentou a escassez em vários mercados. Esse crescimento de demanda, aliado à diminuição da oferta, dada a falta de chuvas provocada pelo fenômeno La Niña, contribuíram para a alta nos preços, incrementando o lucro dos produtores nacionais. É por isso que as estimativas da Conab apontam para aumento de até 29% na colheita de grãos como milho, com 112,34 milhões de toneladas previstas em 2021/2022.

É nesse ponto que nosso potente agronegócio faz intersecção com o que ocorre no Leste Europeu. Apesar da grande produção de nossas fazendas, o Brasil depende da importação maciça de fertilizantes, chegando a 85% o adubo utilizado nas lavouras brasileiras que vem de fora do país. A metade desse montante vem justamente da Rússia e de Belarus. Se especificarmos o tipo de fertilizante, notaremos que os russos fornecem 99% de todo o nitrato de amônio que usamos no país, além de 29% do potássio.

Antes da guerra, economistas já se preocupavam com uma alta de 180% no preço médio dos fertilizantes, que até então estava apenas no horizonte, mas que poderia afetar diretamente a produtividade brasileira ou mesmo a área plantada da safra 2022/2023. O risco de desabastecimento, portanto, já existia, mas agora, com uma guerra absolutamente desnecessária provocada pelo governo Putin, perigosa para a estabilidade internacional em numerosos aspectos, é praticamente certo que o preço dos fertilizantes será afetado, a distribuição do produto em nível global também e até mesmo o cumprimento da promessa feita pelos russos ao Brasil de ampliação no fornecimento, agora, provoca dúvidas.

Assim como o corolário do livre comércio entre nações é a paz, a guerra frequentemente precede à escassez e à fome. É muito importante que o governo e os empresários brasileiros estejam em sintonia, para proteger a sociedade das consequências que virão das ações irresponsáveis de Moscou. O agronegócio é hoje nossa principal garantia, não só de estabilidade econômica, como também de comida na mesa dos brasileiros. Portanto, é indispensável o empenho na busca de alternativas, não apenas para a questão dos fertilizantes, mas de todos os demais produtos que, ao que tudo indica, terão a distribuição afetada pela guerra.

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