Educadores relatam qual presente gostariam de ganhar no Dia do Professor
Renata Okumura
SÃO PAULO – De abraço coletivo (proibido na pandemia) ao reconhecimento da importância da educação de qualidade e valorização da profissão, estes são os presentes que docentes gostariam de ganhar no Dia do Professor, comemorado nesta quinta-feira, 15.
Diante do novo coronavírus, educadores precisaram se reinventar para manter o aprendizado dos alunos. Para alguns, plataformas online das escolas ajudaram no processo. Outros precisaram e ainda precisam lidar com dificuldades de alunos que não têm equipamentos eletrônicos ou acesso ao ambiente virtual.
© ALEX SILVA/ESTADAO ‘Possibilidade genuína de aprender com meus alunos por empatia’, diz Jacobik
Em meio ao esforço, dedicação e carinho, também precisam lidar com os preparativos e desafios para a retomada das aulas presenciais. Depois de quase sete meses com escolas fechadas, a volta começa a ser feita de forma gradual, com limite máximo de alunos e adoção de protocolos sanitários. Para prestar uma homenagem, envie uma mensagem de agradecimento e de apoio aos professores nessa volta às aulas com a hashtag #mensagemaoprofessor.
Docentes ouvidos pelo Estadão demonstram a falta que faz o convívio diário com os alunos, não somente para o aprendizado, mas também com relação ao lado afetivo. Neste Dia do Professor, eles desejam que a educação possa um dia ser de qualidade para todos.
Ana Gagliardo, professora de Língua Portuguesa e Literatura da Escola Luminova, no Bom Retiro, região central de São Paulo, dá aulas para o 6º e o 7º ano do ensino fundamental e turmas do ensino médio. Tem 40 anos, dos quais 16 são dedicados à educação.
Para ela, o melhor presente seria a valorização do ensino. “No plano utópico, gostaria de ganhar a valorização da educação como um bem para toda a sociedade em desenvolvimento educacional, econômico e social. O mundo ideal. Em termos materiais, gostaria de ganhar um pacote de formação em recursos digitais, pensando na pandemia e prospecção de mantermos o ensino híbrido – presencial e remoto – no pós-pandemia”, disse Ana, que também destacou os desafios enfrentados no início da quarentena.
“No dia 19 de março, começamos com as aulas online, usando plataformas digitais da escola. Mas o desafio é ser inventivo e captar atenção dos alunos no formato digital, que é diferente do contato presencial, tanto em aprendizado, quanto no lado afetivo”, explicou. Na escola onde leciona, as aulas presenciais serão retomadas na próxima segunda-feira, 19, para educação infantil até a 5ª série do fundamental, conforme os protocolos.
Amanda Carmona, de 39 anos, professora do 5º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental Dom Paulo Rolim Loureiro, na Cidade Nova São Miguel, zona leste da capital paulista, também pede mais educação de qualidade. “O que nós, educadores, gostaríamos de ganhar seria a igualdade de oportunidades para todos os alunos e familiares. Só assim, a educação atingiria as metas por nós sonhadas”, disse.
Na rede pública de ensino há mais de 18 anos, afirmou que o maior desafio dos professores na pandemia é atingir todos os alunos. “Objetivo esse que, diante da falta de recursos de grande parte das famílias, não está sendo atingindo como gostaríamos. A falta de acesso à internet e a ausência de computadores ou celulares, que possibilitem o acesso às plataformas digitais, impedem que uma parcela considerável acompanhe diariamente as atividades. Embora todos os professores estejam engajados em oferecer o melhor no ensino remoto, nada substitui o papel da escola na formação do cidadão. É na escola que criamos nossas melhores lembranças, nossas melhores e mais marcantes experiências”, destacou Amanda.
Mais reconhecimento da profissão é o que pede Alyne Cavalcante Valença, de 30 anos, professora das escolas estaduais Professora Joanna Abrahão, na Vila Joaniza, e Plínio Negrão, na Vila Cruzeiro, ambas na zona sul da capital.
“Em geral, a profissão está bastante desvalorizada. Acredito que os educadores precisam ser mais reconhecidos”, disse a professora de Artes, de alunos do 1º ao 5º ano na Joanna Abrahão e de Espanhol a partir do 7º ano do fundamental até o ensino médio no Centro de Estudos de Línguas da Plínio Negrão. “Apesar do contato online, sinto muita falta do carinho e do contato presencial dos alunos. Gostaria que tudo ficasse bem logo para que a gente pudesse retomar com tranquilidade nossa rotina”, pediu.
Para Guilherme Santinho Jacobik, de 48 anos, professor do 4º ano do fundamental do Colégio Santa Cruz, no Alto de Pinheiros, zona oeste da cidade, e do ensino superior do curso de Pedagogia do Instituto Singularidades, na mesma região, o presente de Dia do Professor é renovado ano a ano. “Possibilidade genuína de aprender com meus alunos por empatia, pela vontade científica de aprender e curiosidade. Paciência de entender a linguagem do professor. Um presente que é renovado todos os anos.”
Embora seus alunos consigam ter acesso ao ambiente virtual, há desafios. “Não é fácil mudar a lógica do ensino presencial para modelo virtual. Já tivemos atividades online, mas nunca integralmente. Além disso, sinto falta da interação e da proximidade entre aluno e professor”, destacou Jacobik, que leciona há mais de 30 anos para crianças e há 17 anos para universitários.
Professor de Química das três séries do ensino médio e do cursinho do Colégio Santa Maria no Jardim Marajoara, zona sul da cidade, Maurício Rodrigues, de 45 anos, trabalha há mais de 20 anos com educação. Ele disse que nada seria mais gratificante que poder ganhar um abraço coletivo da turma.
“O que eu mais gostaria de receber é um abraço coletivo com a turma toda. O contato olho no olho, sentindo e trocando emoções”, expressou o professor, que já retomou as aulas presenciais no cursinho com limite de 19 alunos por sala e dois metros de distanciamento. Já o ensino médio permanece no ambiente virtual até o fim do ano. “Meu sentimento foi de alegria pelo retorno. O reencontro e poder ver a carinha de cada um. Apesar da máscara, o olhar diz muito. Ao mesmo tempo, a preocupação com todos, enquanto não existir a vacina”, ressaltou o educador.
Igor Golinelli, professor de História do ensino médio do Colégio Augusto Laranja, em Moema, zona sul da cidade, também gostaria de receber um caloroso abraço. “O presente que gostaria de ganhar no Dia do Professor seria poder abraçar cada um dos alunos, ver que todos estão bem, saber que os seus familiares estão com saúde e seguros. E, claro poder retornar ao ritmo normal de vida que tínhamos antes da pandemia”, disse ele, de 50 anos, sendo metade dedicada à educação.
Diana de Oliveira Mendes, de 33 anos, é pedagoga e atua como professora de alunos de 2 a 3 anos em um Centro de Educação Infantil (CEI) na Barra Funda, zona oeste da capital. Para ela, o presente ideal é que todos comecem a pensar na educação como uma ação transformadora. “Estamos longe de ter uma educação de qualidade que contemple todas as crianças. Meu maior desejo seria ter valorização dos educadores e escolas. Que as crianças pudessem ter educação de qualidade e que seus direitos fossem realmente respeitados”, afirmou.
Com a pandemia, o CEI manteve grupos de WhatsApp para ter contato direto com as famílias. “Enviamos vídeos que estimulam o aprendizado das crianças. Damos apoio com desmame e até desfralde das crianças pequenas. Também ajudamos com arrecadação de cestas básicas para famílias de crianças mais carentes da creche”, explicou a professora.
Diana é mãe de duas crianças, de 1 e 10 anos, e também de um adolescente de 14. “A educação infantil é uma etapa muito importante para o desenvolvimento humano. Formada na área, estou vivenciando com o meu caçula a importância dessa etapa de ensino. Peço que as famílias sejam incentivadas sobre a importância desta etapa.” Com previsão de retorno para novembro, para ela ainda há um grande desafio pela frente com relação aos pequenos. “Será dar carinho, sem poder abraçar na retomada das aulas”, disse.