Por
Luis Kawaguti – Gazeta do Povo


A Igreja dos Apóstolos Sagrados Pedro e Paulo, no centro de Lviv, está lotada. Uma multidão se despede de quatro militares mortos no ataque de mísseis à base militar de Yavoriv no último domingo, com cânticos e orações.

Os quatro caixões estão na nave central. Em um altar lateral, uma bandeira com o rosto de Cristo pende de uma cruz rodeada por pedaços de mísseis, de granadas de artilharia, cantis varados por projéteis e uma massa irreconhecível de metais retorcidos por explosões.

O ataque a Yavoriv foi o maior na região de Lviv desde o início da guerra. Pelo menos 35 pessoas morreram e 134 ficaram feridas. Os russos afirmaram ter matado 180 “mercenários” e destruído um estoque de armas enviadas pelo Ocidente.

A base está na principal rota de entrada de armas de “defesa” da Otan (na maioria mísseis e foguetes antitanque) da Polônia para a Ucrânia. O ataque é uma indicação de que a Rússia passará a bombardear as linhas de suprimento ucranianas.

Mas um bombardeio tão próximo de uma região outrora vista como um porto seguro na Ucrânia parede ter afetado o ânimo de milhares de voluntários e civis, que há alguns dias procuravam animados formas de se engajar na luta contra a Rússia. Eles faziam trabalhos como organizar e distribuir alimentos, produzir redes de camuflagem ou atuar na “guerra de internet” – a propaganda ucraniana feita nas redes sociais.

Segundo o governo ucraniano, ao menos 1,3 mil militares já foram mortos no confronto com a Rússia. As potências ocidentais estimam que esse número pode chegar na realidade a 4,5 mil, no momento atual. O número de mortes de civis passa de 635, segundo a ONU.

Essas estatísticas começam a tomar a forma de funerais e dor. A euforia da batalha dá lugar à tristeza, mas não a ponto dos ucranianos deixarem de acreditar na vitória contra o invasor russo. As dificuldades parecem unir ainda mais o povo.

Em uma base do exército de localização secreta em Lviv, centenas de pessoas que conseguiram escapar de cidades bombardeadas em todo o país se apresentam para o governo local. Mulheres e crianças são encaminhadas para abrigos ou para fora da Ucrânia.

Os homens recebem documentos e são encaminhados para unidades militares, onde receberão armas e um treinamento breve. Em um prédio próximo da fila de deslocados internos, é possível ver um grupo de senhores em roupas civis saindo de um quartel carregando fuzis de assalto Kalashnikov e baionetas com aspecto de novos.

“Eu vim aqui para defender o meu país. Tive que deixar a minha cidade, que agora está nas mãos dos russos. Eles estão fazendo pilhagens e matando todos, inclusive crianças”, disse o voluntário Viktor Bilanko.

Ele também afirmou que sua família está com medo do que pode acontecer a ele, mas entende que nada pode ser pior que o cenário em que o país é dominado pelos russos.

Com todos os homens em idade militar sendo enviados para as trincheiras, parece só restar agora aos ucranianos esperar por ajuda internacional.

“Nós esperamos que a Otan venha nos ajudar, mas também desejamos que os países de todo o mundo venham nos ajudar. Porque essa guerra é contra o mal número 1 do mundo: a Rússia. As pessoas do mundo todo têm que entender que hoje travamos uma batalha entre o mundo civilizado e o mal”, disse o militar do exército ucraniano Taras Esachyk.


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