Cala a boca já morreu
Por
Paulo Polzonoff Jr. – Gazeta do Povo
Não fosse a ação de censores, hoje em dia todo mundo saberia quem foram James Joyce, Chico Buarque, Chaplin, Nelson Rodrigues e Dias Gomes.| Foto: Bigstock
O governo Jair Bolsonaro, na figura do excelentíssimo e, devo acrescentar, inteligentíssimo, celeríssimo e ministríssimo da Justiça Anderson Torres (que não faria feio no STF #ficaadica), determinou que o panfleto pedófilo “Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola” fosse excluído da Netflix. O filme foi escrito por um humorista cujo nome nem convém falar e contém uma cena absurda interpretada por um ator que também não me desce.
Mais do que inteligente, é uma atitude corajosa e em linha com princípios conservadores e cristãos. Afinal, todo mundo sabe que o mundo só está do jeito que está porque, ao longo de séculos, os progressistas ganharam muito espaço defendendo todo tipo de pauta abjeta. “Vivemos uma guerra cultural e temos que exterminar todos os nossos inimigos de modo que as gerações futuras aprendam. Ética é para os fracos”, escreveu Roger Scruton na obra-prima “Liberdade de Expressão É Coisa do Capeta”.
O problema é que a direita brasileira foi contaminada por esquerdistas enrustidos que criticam a justa censura ao filme porque não entendem o perigo que é deixar que nossos pequerruchos inocentes tenham contato com a maldade existente no mundo. Esses quinta-colunas tampouco entendem que vivemos uma guerra cultural e que o mais importante é aniquilar o adversário a qualquer custo. Só assim alcançaremos a utopia que deve ser o objetivo de todo conservador que se preze.
A contrariedade estúpida à sábia censura imposta pelo ministríssimo nasce também da profunda ignorância histórica de oportunistas que certamente escondem uma carteirinha do PSOL no bolso do paletó de tweed. Afinal, ao longo dos últimos cem anos foram muitos os casos de censura impostas a livros, músicas, filmes, peças de teatro e até novelas da Globo-lixo© – com excelentes resultados para a promoção da moral e dos bons costumes.
- Tomemos como exemplo o livro “Ulysses”, de James Joyce. Alguém já ouviu falar dele? Claro que não. Censurado quando de seu lançamento, há cem anos, “Ulysses” é um romance experimental extremamente obsceno. Isto é, para quem consegue entender o que está escrito ali. Na época, ultraesquerdistas como W.B. Yeats, T.S. Eliot, D.H. Lawrence e Ezra Pound também diziam que a censura a “Ulysses” era absurda. Mas quem sabe quem são esses nomes aí? Não fosse a censura dos sábios pré-modernos, “Ulysses” talvez fosse hoje o livro mais estudado do mundo. O que seria inaceitável para qualquer conservador que enrubesce com cenas de sexo.
- Da literatura, vamos à música. Pior: à música popular brasileira. Muitos foram os casos de censura impostas a barulhos criados por gente que, não fosse a ação rápida e eficaz dos censores, hoje em dia seria famosa e, se calhar, estaria até apoiando o PT e todas as causas progressistas. Ainda bem que Dona Maricotinha, censora da Revolução Gloriosa de 1964, impediu que os ouvidos influenciáveis dos jovens da época tivessem contato com as indecências de Chico Buarque e Caetano Veloso, legando-os ao ostracismo de onde jamais deveriam ter saído.
- Em 1940, o governo do democrata conservador Getúlio Vargas tomou a sábia decisão de censurar “O Grande Ditador”, de Charles Chaplin. O motivo é constrangedoramente óbvio. De acordo com os censores do Departamento de Imprensa e Propaganda (por que não temos algo assim hoje em dia?), o filme era “comunista e desmoralizador das Forças Armadas”. Hoje em dia ninguém em sã consciência discorda disso. Uma pena que tenha faltado ao DIP sensibilidade para expor também a apologia do nazismo presente no filme.
- Ninguém mais vai ao teatro. Isso se deve, em parte, à ação de nobres censores que, ao longo de décadas, impediram a exposição dos jovens, adultos e idosos a obras como as de um tal de Nelson Rodrigues. Esse tal de Nelson Rodrigues só escrevia pornografias e indecências. Para se ter uma ideia, sua peça “Beijo no Asfalto” mostra um homem beijando um moribundo. Vê se pode uma pouca-vergonha dessas?!
- Na década de 1970, um tal de Dias Gomes (que, não fosse a ação da censura, teria sido até eleito para a nobilíssima Academia Brasileira de Letras) escreveu uma novela ultraprogressista e cheia de mensagens subliminares chamada “Roque Santeiro”. A novela desrespeitava viúvas, latifundiários, clérigos e até lobisomens. Por ação inquestionavelmente virtuosa dos censores, a novela foi impedida de ir ao ar. Anos mais tarde, com a “redemocratização” do país, infelizmente a Globo-lixo© conseguiu produzir a novela. Mas quase ninguém assistiu, embora os disseminadores de fake news (cadeia neles já!) digam que ela atingiu 90 pontos do Ibope.
Como se vê pelos exemplos acima, a censura é um método eficaz de silenciar esses progressistas pervertidos e garantir que eles jamais entrem para o Cânone nem contaminem as mentes suscetíveis dos jovens, adultos e até idosos. Foi graças à ação do Estado que, em todos esses casos, ficamos livres da exposição involuntária a valores reprováveis e à maldade que, sim, existe no mundo, mas preferimos não ver. Por isso só nos resta aplaudir a censura a Danilo Gentili (ops, citei o nome) e seu panfleto obsceno. A Civilização Ocidental respira.
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