Entre o não e o sim, Felipão chega com autonomia em plano de resgate do Cruzeiro
Josias Pereira

Comandante chegou a recusar proposta lucrativa de fora para ter um contrato mais longo e que lhe permita liberdade; desafio será enorme na Raposa
Veterano treinador recusou primeira oferta, mas Cruzeiro aceitou condições e negócio se concretizou — Foto: Reprodução / Cruzeiro
Em 2001, quando decidiu deixar o comando do Cruzeiro para assumir a seleção brasileira, Felipão reconheceu-se em dívida com o clube celeste. Bastante crítico, considerou o desempenho de 11 meses à frente do clube estrelado de ‘razoável para bom’.
“Não conseguimos atingir alguns dos objetivos traçados à frente do Cruzeiro pelo menos em duas competições. Poderíamos ter seguido mais no Campeonato Mineiro e, principalmente, na Copa Libertadores”, explicou à época.
Na ocasião, o Campeonato Mineiro tinha dois grupos de quatro times na fase semifinal. O Cruzeiro de Felipão perdeu para o América e para o Ipatinga, no Mineirão, e não passou de um empate com a Caldense, também em casa, e acabou caindo de forma precoce na competição. Já na Libertadores, o time acabou eliminado para o Palmeiras nas quartas de final. Após 2 a 2 no tempo normal dentro do Mineirão, Marcos, que se tornaria o goleiro do penta sob o comando de Felipão, pegou três pênaltis e o Palmeiras venceu o Cruzeiro para avançar no certame continental.
Apesar disso, em 2001, o técnico conquistou seu único título pelo Cruzeiro, vencendo a Copa Sul-Minas com uma campanha irretocável e de forma invicta.
Foi sob a gestão de Felipão que o Cruzeiro promoveu a negociação de Geovanni ao Barcelona, por US$ 18 milhões (cerca de R$ 43 milhões, à época), e ainda trabalhou no sentido de inserir e revelar novos nomes do clube para eventuais vendas.
Flertes, recusas a outros clubes e vontade de retribuição
Mesmo após deixar o Cruzeiro, Felipão continuou ligado ao clube. Esteve na inauguração da Toca da Raposa II, projeto que ajudou com alguns ‘pitacos’, mas que só poderá usufruir de forma plena agora, em sua segunda passagem pela Raposa. Felipão deixou o comando técnico do Cruzeiro após 75 jogos, com 40 vitórias, 23 empates e 12 derrotas, o que representa um aproveitamento de 63,5% dos pontos.
Muita coisa mudou desde então no status de Felipão. O Cruzeiro foi o último passo do treinador antes da glória mundial com o pentacampeonato da Copa, em 2002.
Por quase duas décadas, sempre cogitou-se a possibilidade do retorno do experiente técnico ao clube celeste, mas o acerto nunca acontecia. Agora, em 2020, no ano mais complicado da história do Cruzeiro, com o time na segunda divisão e ainda ocupando a vice-lanterna, o veterano comandante aceitou o desafio de transformar o primeiro trabalho razoável pra bom em um marco de resgate do time estrelado. Para tanto, um contrato até o fim de 2022, com possibilidade de renovação.
Exatamente o que o treinador buscava. Encabeçar um projeto que lhe desse autonomia. Para tanto, recusou propostas de Vasco, Corinthians, Palmeiras e até mesmo do futebol chinês, por onde passou, para fechar com o Cruzeiro. Uma negociação que inicialmente também foi recusada, mas que o time celeste acabou voltando à carga ao aceitar as condições impostas por Luiz Felipe Scolari.
“Não vai ser só esse ano. Será 2021, 2022 e 2023”, já deixou claro Felipão. “Eu vou estar com vocês dando tudo aquilo que eu posso dar, com minha contribuição de conhecimentos, amizades e tudo aquilo que o Cruzeiro me deu também. Conto vocês (torcedores) também”, prometeu Felipão em suas primeiras palavras como novo técnico do Cruzeiro.
O tamanho do desafio
A missão será árdua, mas o treinador vai contar com toda a estrutura necessária no futebol, inclusive com o pagamento da dívida na Fifa que impedia o registro de atletas, para colocar o Cruzeiro nos trilhos. Após a partida desta quinta-feira, faltarão 22 rodadas para o término da Série B. Felipão pode devolver a confiança a um elenco visivelmente abalado e, quem sabe, conduzir uma sequência histórica a um acesso, hoje cada vez mais improvável.
Para que isso aconteça, o Cruzeiro, que somou apenas 12 pontos em 15 rodadas, precisa atingir um aproveitamento de 71%, de acordo com o departamento de matemática da UFMG. A linha de corte trabalhada para o acesso é de 61 pontos.

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By valeon