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Lúcio Vaz – Gazeta do Povo

Bolsonaro e comandantes militares na Academia das Agulhas Negras, em formatura de aspirantes| Foto: Clauber Caetano/PR

O presidente Jair Bolsonaro gastou R$ 5,6 milhões com viagens para cerimônias militares, policiais e evangélicas em 2021 – totalizando R$ 13,7 milhões em três anos de governo. Os três grupos são as principais bases de apoio político ao presidente. Como o ministro da Defesa e os comandantes militares frequentam os mesmos eventos, houve revoadas de jatinhos da FAB para um mesmo local, além do avião presidencial.

As viagens para formaturas militares, visitas, comemorações e passagens de comando custaram R$ 9,8 milhões aos cofres públicos. As despesas com os deslocamentos para reuniões e cultos evangélicos somaram R$ 3 milhões. As viagens para eventos de policiais civis e militares custaram mais R$ 980 mil. Todos os valores foram atualizados pela inflação.

A viagem mais cara ocorreu em 27 de outubro do ano passado. A festança teve início na noite de terça-feira (26), com a presença do presidente no baile do curso de formação de 404 soldados da Polícia Militar, Turma Governador Wilson Lima. O governador considerou a presença do presidente como um “presente”. No dia seguinte, Bolsonaro esteve na “Primeira Consagração Pública” de pastores do estado do Amazonas e na Assembleia Convencional 2021 da Assembleia de Deus. O “presente” e as cerimônias religiosas custaram R$ 510 mil ao contribuinte.

Em 12 de junho do ano passado, o presidente viajou para a cerimônia de entrega de boina aos alunos do 6º ano do ensino fundamental no Colégio Militar de São Paulo. O evento teve duração de 40 minutos e custou R$ 470 mil, segundo dados da Presidência da República obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação. O presidente já havia prestigiado, em fevereiro de 2020, o lançamento da pedra fundamental desse colégio militar e a incorporação dos alunos recém–matriculados no 6º Ano. Mais uma despesa de R$ 293 mil.

Na viagem para o Rio de Janeiro em 14 de agosto de 2020, o presidente esteve na inauguração da Escola Cívico Militar, na Passagem do Comando Militar do Leste e ainda visitou o Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope). As despesas somaram R$ 440 mil. Em 14 de agosto do ano passado, a viagem para a cerimônia de entrega de espadins aos cadetes da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), em Resende, custou R$ 360 mil.

A revoada de jatinhos para a mesma cerimônia aumentou as despesas. O ministro da Defesa, general Braga Netto, voou de Brasília para Guaratinguetá – distante 94 km de Resende – na sexta-feira (13) à tarde, num jatinho da FAB. No sábado, após participar da cerimônia na AMAN, retornou de Guaratinguetá para Brasília no seu jatinho, às 15h05. O comandante do Exército, general Paulo Sérgio, percorreu o mesmo trajeto, no sábado, a partir das 16h25, em outro jatinho oficial. Os voos com jatinhos custaram R$ 45 mil. Bolsonaro foi para Resende e retornou à Brasília no Airbus presidencial.

Bolsonaro partiu de Brasília para Guaratinguetá (SP), no Airbus presidencial, às 8h30 do dia 23 de novembro do ano passado, para participar da cerimônia de conclusão do Curso de Formação de Sargentos da Aeronáutica. A viagem custou R$ 106 mil. O ministro da Defesa, General Braga Netto, já havia partido às 8h05 para Guaratinguetá no seu jatinho da FAB.

Após o evento, às 12h45, o ministro seguiu para o aeroporto de Afonsos, no Rio de Janeiro, para prestigiar a formatura do 76º Aniversário da Brigada de Infantaria Paraquedista. Bolsonaro decolou às 13h10 com destino ao aeroporto Edu Chaves, no Rio, para a mesma formatura de paraquedistas, realizada às 14h30. A viagem do presidente custou mais R$ 125 mil. O comandante do Exército, general Paulo Sérgio, pegou outro jatinho de Guaratinguetá para Brasília, às 16h.

Ainda na sexta, às 17h, Braga Netto seguiu no seu jatinho para Resende, onde haveria outra formatura no dia seguinte – a entrega de espadas aos novos aspirantes da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman). Meia hora mais tarde, Bolsonaro decolou do Rio para Resende, no avião presidencial, onde participaria do mesmo evento. O custo da sua viagem ficou em R$ 225 mil.

No dia seguinte, após a formatura, o ministro da Defesa seguiu para o Rio de Janeiro, às 13h30; enquanto o presidente retornou à Brasília à noite. Braga Netto voltou para Brasília no domingo à tarde, sempre nas asas da FAB, depois de participar da atividade na igreja Santa Cruz dos Militares. As três viagens presidenciais custaram R$ 456 mil.


Viagens de caráter sentimental
Em agosto de 2020, o presidente fez uma viagem de caráter sentimental ao Vale do Ribeira (SP), onde passou parte da juventude e adolescência. Na passagem por Registro (SP), fez uma visita ao Posto da Polícia Rodoviária Federal. A Presidência informa uma despesa de R$ 355 mil com a viagem para Registro.

Outras viagens de caráter emocional foram feitas em homenagens a paraquedistas – justamente a sua especialidade como militar. Em novembro de 2019, celebrou o aniversário de criação da Brigada de Infantaria Paraquedista e o Jubileu de Ouro e de Prata da Brigada de Infantaria Paraquedista, no Rio de Janeiro.

O presidente citou os “paraquedistas” Heleno Augusto, Fernando e Ramos e o seu líder na Câmara, Major Vitor Hugo. E usou uma figura de linguagem: “Nós sempre saltamos da rampa do avião e agora, nós paraquedistas, subimos pela vontade popular a rampa do Planalto Central”. A viagem custou R$ 290 mil.

Saudoso dos quartéis, Bolsonaro fez 30 viagens para formaturas de oficiais, sargentos e soldados das Forças Armadas; policiais militares e civis; e até de alunos de colégio militar. Os deslocamentos para formaturas de aspirantes, cadetes, guardas-marinha custaram R$ 3,3 milhões. As viagens para formaturas de praças, mais R$ 1,1 milhão. No caso de policiais civis e militares, R$ 460 mil. Nas formaturas de alunos, R$ 630 mil. Ao todo, foram R$ 5,4 milhões.

O presidente prestigiou ainda o 162º aniversário da PM de Goiás, em Goiânia (R$ 209 mil); visitou a Escola Municipal Cívico-militar, em Bagé (R$ 171 mil); esteve na cerimônia do Dia do Marinheiro, em Itaguaí (R$ 159 mil); participou das comemorações do 218º aniversário do marechal Mallet, em Santa Maria (R$ 119 mil); na solenidade ao Dia do Exército, em São Paulo (R$ 102 mil); e na cerimônia alusiva ao 211º Aniversário do Corpo de Fuzileiros Navais, no Rio (R$ 83 mil); além de prestigiar as passagens de comando nas regiões militares (R$ 1,1 milhão).

O presidente “terrivelmente” evangélico
A viagem para Goiânia, onde o Bolsonaro participou do culto do 1º Encontro Fraternal de Líderes Evangélico, em 28 de agosto do ano passado, custou R$ 337 mil. Mas houve também encontro com Lideranças do Estado de Goiás. O deslocamento do presidente para Ananindeua (PA), para participar da cerimônia do Centenário da Convenção de Ministros e Igrejas Assembleia de Deus no Pará, dia 18 de agosto, pesou mais R$ 204 mil aos cofres públicos.

As despesas com a viagem de Bolsonaro para Anápolis, em 9 de junho, para participar do Culto Interdenominacional das Igrejas da cidade, somaram R$ 208 mil. A viagem para Belém, onde esteve no culto em comemoração dos 110 Anos da Assembleia de Deus no Brasil, em 18 de junho, mais R$ 198 mil.

Em outubro de 2020, teve culto em ação de graças pela vida do Pastor Wellington Bezerra da Costa, presidente das Igrejas Evangélicas Assembleia de Deus do Brasil, em São Paulo. A presença de Bolsonaro custou R$ 197 mil. Em fevereiro daquele ano, a viagem do presidente ao Rio para a cerimônia de celebração de 40 anos da Igreja Internacional da Graça de Deus – Ano da Unção Dobrada, custou R$ 132 mil. Em setembro de 2019, Bolsonaro esteve em Culto no Templo de Salomão, em São Paulo. A despesa da viagem chegou a R$ 206 mil.

Teve ainda culto e momento cívico pelos 108 Anos da Assembleia de Deus no Brasil, em 13 de junho, em Belém (R$ 162 mil); a Convenção Nacional das Assembleias de Deus no Brasil, em 31 de maio, em Goiânia (R$ 132 mil); a abertura oficial do 37º Encontro Internacional de Missões dos Gideões, em 3 de maio, em Camboriú (R$ 164 mil); e almoço com participantes do Encontro do Conselho Interdenominacional de Ministros Evangélicos, em 11 de abril, no Rio (R$ 152 mil).

Os policiais não foram esquecidos. Além da visita ao posto da Polícia Rodoviária em Registro, Bolsonaro também deu “aula magna” no curso da PRF, em Vargem Bonita (SC), em outubro de 2019, ao custo de R$ 160 mil. No mesmo mês, esteve na solenidade de encerramento do Curso de Tecnólogo de Polícia Ostensiva da Ordem Pública da PM/SP. Mais uma despesa de R$ 170 mil. Em dezembro de 2020, foi para a formatura do curso de policial, em Florianópolis. O contribuinte entrou com mais R$ 156 mil. Esteve ainda na cerimônia alusiva ao início das operações do Centro Integrado de Inteligência e Segurança Pública da Região Sul, em Curitiba, em maio de 2019. Mais R$ 135 mil.

O Comando do Exército afirmou ao blog que, “sempre que possível, busca viabilizar o compartilhamento de voos destinados ao atendimento das necessidades funcionais de deslocamento aéreo. Em algumas ocasiões, o compartilhamento se torna inviável em função da incompatibilidade de agendas e destinos subsequentes”.

Acrescentou que “o efetivo das comitivas e as aeronaves disponíveis podem demandar a utilização de meios distintos. Como exemplo, pode ser citado o voo ocorrido no dia 14 de agosto de 2021, partindo de Guaratinguetá-SP com destino a Brasília-DF. O Comando do Exército utiliza os voos disponibilizados com parcimônia, obedecendo fielmente o normativo vigente e em estrita necessidade do serviço”. O Ministério da Defesa não respondeu aos questionamentos do blog.


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