1. Economia 

Ex-secretário da Receita, Marcos Cintra criou grupo nos bastidores para se movimentar contra a aprovação e diz que guerra entre indústria e serviços que tem marcado o debate vai atrasar o País por décadas; setor defende um pacto federativo

Adriana Fernandes*, O Estado de S.Paulo

02 de abril de 2022 | 04h00

Após tantas idas e vindas, chegou a hora da verdade para a reforma tributária. Com votação prevista para a próxima semana na CCJ, no esforço concentrado do Senado, vai para o tudo ou nada depois de adiamentos recentes.

PEC 110, relatada pelo senador do PTB do Maranhão Roberto Rocha, ganhou prioridade com aval do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que ainda busca um carimbo positivo para a sua administração, marcada até agora muito mais por engavetar os projetos ruins que saíram da Câmara, como o do Imposto de Renda e o avanço do orçamento secreto.

Senado
Defensores da PEC sabem que, se a reforma passar no Senado, estaciona na Câmara Foto: André Dusek/Estadão

Na CCJ, as negociações avançaram com concessões feitas no parecer. Mas, nas últimas semanas, com a proximidade da votação, o setor de serviços vem trabalhando nos bastidores para impedir a votação, com o argumento de que é preciso um pacto federativo.

Eles reclamam que Rocha não os ouve. Ex-secretário da ReceitaMarcos Cintra criou grupo para se movimentar contra a aprovação da PEC e diz que a guerra entre indústria e serviços que tem marcado o debate vai atrasar o Brasil por décadas.

Já os defensores da PEC 110 dizem o contrário e alegam que as lideranças do setor de serviços não querem reforma nenhuma para o Brasil crescer porque seguem apostando no Simplifica Já (proposta de padronização de normas tributárias). Que não é reforma.

O script desse roteiro é o mesmo, mas os patrocinadores da PEC acham que, com as concessões feitas, foi possível afastar muitas resistências.

Foram fechados vários apoios importantes, entres eles, com o PT e o Sebrae. O Simples não vai ser afetado. Um ponto de discussão é que o senador Fernando Bezerra quer manter explicitamente o benefício fiscal da Fiat em Pernambuco, que de certa forma os negociadores avaliam que já foi atendido. Para outro entrave importante com as cooperativas, o acordo está quase pronto e deve atender às demandas do setor. Os serviços de saúde e educação terão a garantia de tratamento favorecido – com alíquota reduzida ou outro mecanismo equivalente.

Pacheco só colocará em votação na CCJ se tiver garantia de que a PEC passará no plenário logo em seguida. O momento é decisivo porque, se a votação falhar, esquece. Depois é só eleição, eleição…

Os defensores da PEC sabem que, se a reforma passar no Senado, estaciona na Câmara. Mas a votação só pelo plenário do Senado não é ruim. Fica o terreno pavimentado para ser aprovada logo no início do próximo governo. Depois, o vencedor das urnas poderá negociar mudanças no texto, e a tramitação já estará avançada. Afastando, assim, o fantasma de três décadas em que se fala de reforma tributária, e nada. 

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