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Lúcio Vaz – Gazeta do Povo
O presidente Jair Bolsonaro posa para fotos na gabine de comando do Gripen| Foto: Divulgação/FAB
Qual presidente gastou mais na compra de caças, submarinos, aviões cargueiros e outros veículos de combate? E não estamos falando da Rússia ou da Ucrânia, mas do Brasil. Considerando a média anual de despesas, o líder da corrida armamentista não é Bolsonaro nem Lula, mas sim Michel Temer, com R$ 7,6 bilhões. Mas o maior volume de recursos foi investido pelos governos petistas – R$ 38 bilhões. A gastança com armas de guerra não tem partido.
O presidente Bolsonaro tem mantido os investimentos no reaparelhamento das Forças Armadas iniciados nos governos do PT. Ele costuma participar das cerimônias de recebimento de caças, aviões cargueiros e submarinos. Cada veículo militar rende várias visitas, entregas, inaugurações, com direito a sentar nas cabines de comando para fazer fotos.
O valor aplicado em equipamentos militares no atual governo está em R$ 18,5 bilhões – média anual de R$ 6,2 bilhões. Nos cinco anos e quatro meses de mandato, Dilma investiu R$ 30,5 bilhões – média de R$ 5,7 bilhões. O levantamento considerou as 21 maiores “ações”, com valores acima de R$ 500 milhões. Os valores foram obtidos pela Associação Contas Abertas, a partir de dados oficiais do Orçamento da União, e atualizados pela inflação.
O economista a fundador da Contas Abertas, Gil Castello Branco, afirma que “o Brasil gasta anualmente bilhões de reais se preparando para guerras improváveis sem perceber que os maiores inimigos estão aqui dentro do nosso próprio território”.
Gil lembra que “estamos assistindo desde o início do ano, como acontece todo o verão, centenas de brasileiros morrendo por deslocamentos de terra, enchentes. E é curioso lembrar que o país gastou, em 2021, R$ 1,2 bilhão no programa de gestão de risco e desastres. Enquanto isso, gastamos R$ 1,4 bilhão comprando aviões caça. O orçamento envolve prioridades e, infelizmente, as nossas escolhas não são as mais urgentes e necessárias”.
Bolsonaro se prepara para a “guerra”
Na cerimônia de recebimento do cargueiro KC-390 pela Força Aérea Brasileira (FAB), em Anápolis (GO), em setembro de 2019, Bolsonaro rechaçou a “soberania relativa” sobre a Amazônia defendida pelo presidente da França, Emmanuel Macron. O presidente dirigiu-se aos comandantes militares: “Os senhores sabem muito bem o que é a soberania. Sabem que, quando um país nos ameaça, essa ameaça vem de momentos anteriores onde, infelizmente, autoridades, chefes políticos não se interessaram com essa questão no Brasil. Se queremos a paz, nos preparemos para a guerra”.
De fato, o governo Bolsonaro investiu R$ 2,3 bilhões na aquisição e no desenvolvimento do cargueiro tático militar KC-390. A entrega das aeronaves teve início em 2019, mas certificação deste modelo teve duração de sete anos. Dilma participou da inauguração da linha de montagem da aeronave, em Gavião Peixoto (SP), em maio de 2014. A Força Aérea Brasileira (FAB) assinou contrato para a aquisição de 28 aeronaves. No seu governo, Dilma investiu R$ 6,6 bilhões no projeto. Temer, mais R$ 1 bilhão.
“Inimigos dentro e fora do Brasil”
Na cerimônia de Integração do Submarino Humaitá, em Itaguaí (RJ), em outubro de 2019, Bolsonaro afirmou: “Dê ao povo brasileiro meios e liberdade que ele elevará o Brasil. A prova material disso está aqui à minha frente, à direita. Esse é o trabalho desse povo que precisa de liberdade e meios para trabalhar. Temos inimigos dentro e fora do Brasil. Os de dentro são os mais terríveis, os de fora nós venceremos com tecnologia e disposição, e meios de dissuasão”.
O programa de desenvolvimento de submarinos prevê a construção de cinco submarinos – quatro de propulsão elétrica e um, de nuclear. A implantação de estaleiro e base naval para construção e manutenção de submarinos convencionais e nucleares recebeu R$ 1,25 bilhão de investimentos no governo Bolsonaro. Nos últimos dois anos do governo Lula, foram R$ 3,4 bilhões. No governo Dilma, mais R$ 8,5 bilhões.
Em dezembro de 2020, o presidente esteve no batismo e o lançamento ao mar do submarino Humaitá, além da união das sessões do submarino Tonelero. O seu governo aplicou R$ 2,1 bilhões na construção de submarinos convencionais. O governo Dilma, mais R$ 6 bilhões. A construção do submarino de propulsão nuclear recebeu R$ 1,5 bilhão do governo Bolsonaro e R$ 2,3 bilhões da gestão Dilma.
Bolsonaro e comandantes militares posam diante do submarino Riachuelo, em Itaguaí (RJ). Foto: Divulgação/Marinha
O Programa de Desenvolvimento de Submarinos (PROSUB) foi criado em 2008, em parceria com a França. A construção dos submarinos convencionais teve início em 2010, naquele país. No Brasil, a construção iniciou em julho de 2011 com o corte da primeira chapa de aço. Em dezembro de 2018, a Marinha lançou ao mar o Submarino “Riachuelo”. Em dezembro de 2020, durante a cerimônia “Dia do Marinheiro”, foram realizados o batismo e o lançamento ao mar do submarino Humaitá. Bolsonaro estava lá.
“Realizar o que ninguém tentou”
Na comemoração do “Dia do Aviador” e da FAB, em outubro de 2020, em Brasília, Bolsonaro estava quase poético. Para saudar a chegada dos aviões de caça e dos cargueiros, recorreu a uma frase de Santos Dumont: “Inventar é imaginar o que ninguém pensou. É arriscar o que ninguém ousou. É realizar o que ninguém tentou”.
E afirmou que 2020 seria um ano marcante na vida da FAB: “Fomos capazes de colocar no ar dois vetores, que podem transformar de forma irreversível nossa operacionalidade, nossa capacidade logística e de afirmar nossa superioridade, nos 22 milhões de quilômetros quadrados de espaço aéreo. Indispensáveis à nossa soberania. Incorporamos à nossa frota duas aeronaves modernas e estratégicas – o KC 390 e o Gripen”.
Mas essa história começou bem antes. O Projeto FX-3, de modernização da frota de aeronaves de caça supersônicas, foi criado em 2006, no governo Lula. Após longos anos de discussão, o governo brasileiro anunciou, em dezembro de 2013, que o caça sueco Gripen havia vencido a concorrência, num pacote inicial de 36 aeronaves. Dilma investiu apenas R$ 1,2 milhão no projeto, no último ano do seu governo. Temer injetou mais R$ 5 bilhões; e Bolsonaro, R$ 4,8 bilhões.
Apresentação do caça Gripen em outubro de 2020
Bolsonaro fez um investimento pesado na implantação do projeto Guarani – veículo blindado de transporte de tropa. Foram R$ 1,3 bilhão, num total de R$ 2,8 bilhões. Na implantação do Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron), o atual presidente investiu R$ 872 milhões, de um total de R$ 2,3 bilhões já aplicados. O Sistema de Defesa Estratégico Astros recebeu R$ 529 milhões do atual governo, num total de R$ 1,5 bilhão.
“Para garantir a soberania nacional”
O Ministério da Defesa afirmou ao blog que “os recursos orçamentários empregados em Defesa não são gastos, mas sim investimentos, em especial em projetos estratégicos, fator relevante para o desenvolvimento e o progresso do Estado brasileiro. Esses investimentos são necessários para garantir a manutenção da soberania nacional e advém de contratos de longo prazo, que também sofrem com cortes, contingenciamentos e bloqueios orçamentários”.
O ministério acrescentou que os estudos da FIPE “também apontam efeitos positivos no registro de trabalhadores, entre os quais, engenheiros e técnicos que contribuem para reter no Brasil mão de obra altamente especializada; no PIB, em torno de 9%; e na balança comercial brasileira, ampliando a exportação de bens e serviços com alto valor agregado. Isso proporciona diversos benefícios como o desenvolvimento econômico; a projeção internacional do país; a presença do Estado nas áreas mais remotas do Brasil; o fomento à pesquisa, desenvolvimento e inovação; e a dissuasão extrarregional em defesa da nossa soberania”.
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