Por João Lara Mesquita – Jornal Estadão
Maior navio do mundo com quase meio quilômetro de extensão
Alguns dos maiores navios do mundo vêm na forma de petroleiros, cargueiros e navios de cruzeiro. Essas megamáquinas são colossos da engenharia e contribuem para uma grande porcentagem das mercadorias transportadas no mundo, sem mencionar as pessoas. Mas, navios em geral são igualmente os maiores poluidores, e lançadores de gases de efeito estufa na atmosfera, conforme já mostramos. A simples visão de um desses superpetroleiros de perto faz perceber a verdadeira magnitude das técnicas de fabricação e design envolvidas no processo de construção. Hoje vamos conhecer o maior navio do mundo.
Seawise Giant, que também teve os nomes de Happy Giant e Knock Nevis, foi o navio mais longo já construído, com 458,45 m, ou quase meio quilômetro de extensão, mais longo do que a altura de muitos dos edifícios mais altos do mundo.
Um superpetroleiro ULCC com uma âncora de 36 toneladas
Seawise Giant; mais tarde Happy Giant, foi um superpetroleiro ULCC (Ultra Large Crude Carrier) considerado o navio autopropulsado mais longo da história, construído em 1974-1979 pela Sumitomo Heavy Industries em Yokosuka, Kanagawa, Japão. Ele ostentava a maior tonelagem de peso morto já registrado. Totalmente carregado, seu deslocamento era de 657.019 toneladas.
Suas âncoras pesavam 36 toneladas cada! O calado era de 29,8 metros; tinha uma boca (largura) de 68,8 metros, e atingia velocidade de 16 nós.
Missão: conectar o Oriente Médio e os Estados Unidos
O petroleiro, lançado em 1981, tinha nada menos que 31.541 metros quadrados de espaço de convés, 46 tanques e uma missão clara: conectar o Oriente Médio e os Estados Unidos. Durante sete anos ele conseguiu cumprir sua tarefa sem grandes contratempos, mas em 1988 uma guerra cruzou seu caminho.
A embarcação permaneceu sem nome por muito tempo e foi identificada pelo número de seu casco, 1016. Durante os testes no mar, o 1016 exibiu graves problemas de vibração ao ir à ré. O proprietário grego recusou-se a recebê-lo e a embarcação foi submetida a um longo processo de arbitragem.
O estaleiro exerceu seu direito de vende-lo e um acordo foi negociado com o fundador da Hong Kong Orient Overseas Container Line, para alongar o navio em vários metros e adicionar 146.152 toneladas de capacidade de carga por meio de jumborização (Sistema que permite o aumento da capacidade de carga de um navio, mediante a realização de um corte transversal vertical em seu casco e interseção de um novo conjunto de porões, depois fundidos ao casco original).
Apesar do enorme comprimento, o Seawise Giant não era o maior navio em tonelagem bruta, ocupando o sexto lugar com 260.941 GT, atrás do navio guindaste Pioneering Spirit e dos quatro superpetroleiros da classe Batillus de 274.838 a 275.276 GT .
História do Seawise Giant
Originalmente, o navio-tanque foi encomendado em 1974 por um magnata grego. O proprietário não conseguiu pagar em 1979, segundo o site www.vesseltracking.net, o navio sem nome, identificado apenas pelo número de casco 1016, ficou sujeito a um longo processo de arbitragem.
A história da recusa não é muito clara. Talvez tenha sido a falta de fundos, porque não estava inteiramente satisfeito com o resultado ou, simplesmente, porque em 1975 o Canal de Suez havia sido reaberto ao tráfego após oito anos.
Depois de muita discussão, finalmente, houve um acordo. O navio-tanque foi vendido a CY Tung, chefão do transporte marítimo chinês. Ele foi reformado, alongado em vários metros, Tung queria mais espaço, e ficou com 156.000 toneladas métricas de capacidade de carga adicionada, a fim de ser o maior navio a navegar.
O nome, Seawise Giant (Gigante do Mar), foi obra de Tung. Foi lançado ao mar em 1981 com capacidade de 564.763 toneladas de peso morto.
Suas origens remontam à década de 1970, época dos grandes petroleiros, quando o fechamento do Canal de Suez encorajou as empresas de navegação a apostar em navios de tamanho XXL que pudessem viajar para o Cabo da Boa Esperança.
Uma trajetória complicada
Ao longo de sua trajetória complicada, o petroleiro Seawise Giant alimentou sua lenda com base em marcos. Com quase meio quilômetro de comprimento, ganhou a reputação de ser o maior navio autopropulsado já construído.
Sua estatura ciclópica lhe valeu um lugar na história naval. Mas, apesar disto, teve um fim inglório…
Uma guerra na rota do Gigante do Mar
Em 1988 uma guerra cruzou a proa do Seawise Giant, a guerra entre Irã e Iraque. Com seus armazéns abarrotados de petróleo bruto iraniano, acabou tornando-se o alvo perfeito para a Força Aérea Iraquiana.
Como resultado, o Seawise acabou afundado na costa da Ilha Larak, no Irã.
Na época, era ‘o maior’ naufrágio do mundo. Se fosse qualquer outro, talvez a história do Seawise Giant tivesse acabado; mas seu tamanho XXL atraiu o interesse de um consórcio norueguês que considerou que reflutuá-lo, e repará-lo, poderia ser um bom negócio.
E assim foi. A operação, concluída em 1989, foi montada em Cingapura durante dois anos, de onde ele saiu com um novo nome: Happy Giant.
Gigante, sim; mas Happy não, diz o site xataka.com. Embora tenha acabado nas mãos de um magnata norueguês que o renomeou pela enésima vez —Jahre Viking— continuou a operar por mais 13 anos. Mas, suas enormes dimensões, as mesmas que o tornaram tão espetacular, complicaram muito sua vida no mar.
Difícil de manobrar
O navio era difícil de manobrar, o seu enorme peso aumentava o risco de encalhe e, diz-se, impedia-o de navegar em alguns dos pontos estratégicos das rotas comerciais, como os canais Inglês, e Suez, ou o Canal do Panamá.
No século 21, novo dono e novo nome
Em 2004 passou para as mãos de um novo proprietário, First Olsen Tankers, que – claro – mudou seu nome novamente, depois de renová-lo em Dubai e passar a usá-lo como unidade de armazenamento flutuante: um gigantesco petroleiro XXL localizado na costa do Catar. À sua maneira, isso marcou a aposentadoria do velho Seawise Giant.
Final de vida no maior cemitério de navios do mundo, em Alang
Não poderia ser diferente. O maior navio do mundo acabou retalhado no maior cemitério de navios, em Alang, Índia. Na época, o Times of India garantiu que foram necessários mais ou menos 18.000 trabalhadores para concluir o trabalho de retalhamento.