Combustíveis
Por
Célio Yano – Gazeta do Povo
Pré-candidatos ao Palácio do Planalto: Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Jair Bolsonaro (PL) e Ciro Gomes (PDT)| Foto: Montagem/Gazeta do Povo
A Petrobras reapareceu no debate eleitoral nos últimos dias, após anunciar lucro de R$ 44,5 bilhões no primeiro trimestre de 2022 e, dias depois, um reajuste de 8,86% no preço do diesel em suas refinarias. Por afetar diretamente o bolso de importante fatia dos eleitores, a inflação dos combustíveis é considerada tema sensível eleitoralmente.
Uma pesquisa do PoderData realizada entre 24 e 26 de abril mostrou que 67% da população brasileira é favorável a uma intervenção do governo na Petrobras para baixar o preço da gasolina.
No dia seguinte ao aumento do diesel, o presidente Jair Bolsonaro (PL) substituiu o então titular do Ministério de Minas e Energia (MME), Bento Albuquerque, pelo economista Adolfo Sachsida, ex-assessor do ministro da Economia, Paulo Guedes.
No primeiro discurso como novo ministro de Minas e Energia, Sachsida anunciou que solicitaria “estudos para a proposição de alterações legislativas necessárias à desestatização da Petrobras.”
Confira a seguir o que disseram os principais pré-candidatos à Presidência sobre o lucro, a política de preços de combustíveis e a possibilidade de privatização da Petrobras:
Jair Bolsonaro (PL)
Desde o ano passado, Bolsonaro faz críticas à política de preços da estatal. Em pouco mais de um ano fez duas trocas na presidência da empresa e, nesta semana, fez a troca no Ministério de Minas e Energia, ao qual está vinculada a estatal. Na semana passada, já havia reclamado do lucro da empresa e feito um apelo para que não fosse anunciado um novo reajuste no preço dos combustíveis.
“A gente sabe que tem leis. Mas a gente apela para a Petrobras que não aumente os preços”, disse, no último dia 6, o chefe do Executivo, que classificou o lucro da empresa como “um estupro, um absurdo”. “Sei que tem acionistas, mas quem são os acionistas? Fundos de pensões dos Estados Unidos. Nós estamos bancando pensões gordas nos Estados Unidos”, afirmou.
No sábado (7), em discurso na Feira Nacional da Soja, em Santa Rosa (RS), atacou novamente a companhia. “Esta semana vocês estão conhecendo um pouco mais do que é a Petrobras aqui no Brasil. Eles sabem que o Brasil não aguenta mais o reajuste de combustível numa empresa que fatura dezenas de bilhões de reais por ano às custas do nosso povo brasileiro”, declarou.
Na quarta-feira (11), voltou a fazer críticas ao lucro registrado pela companhia. “A Petrobras está gordíssima, está obesa. Poderia, sim, o seu conselho e diretores reduzir a margem de lucro. A margem de lucro deles é na casa de 30%. Já as outras petroleiras estão no máximo em 15%”, disse, após discursar em uma feira agropecuária em Maringá (PR). “Petrobras, você é o Brasil. Ou quem está aí dentro não pensa no seu país? O povo está sofrendo bastante com o preço do combustível.”
A ideia de iniciar estudos para desestatização da Petrobras tem o aval de Bolsonaro, segundo Adolfo Sachsida. “Deixo claro que essa meta, esse objetivo e esse norte foram expressamente apoiados pelo presidente Bolsonaro. Tudo o que estou falando tem 100% de aval do presidente da República”, disse o novo ministro de Minas e Energia.
Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
Em declaração semelhante à de Bolsonaro, o ex-presidente Lula, pré-candidato do PT, também criticou os lucros da Petrobras, relacionando-os a interesses internacionais e atacando a política de preços de combustíveis da companhia. Por outro lado, o petista responsabilizou o presidente por não agir contra o atual modelo de precificação. Durante o lançamento de sua pré-candidatura, no sábado (7), Lula afirmou que é preciso colocar a Petrobras “de novo a serviço do povo brasileiro, e não dos grandes acionistas estrangeiros”.
“Colocaram à venda as reservas do pré-sal, entregaram a BR Distribuidora e os gasodutos, interromperam a construção de algumas refinarias e privatizaram outras. O resultado desse desmonte é que somos autossuficientes em petróleo, mas pagamos por uma das gasolinas mais caras do mundo, cotada em dólar, enquanto os brasileiros recebem seus salários em real”, disse o ex-presidente.
Já na quarta-feira (11), após a demissão de Bento Albuquerque do Ministério de Minas e Energia, e do anúncio de estudos para a desestatização da Petrobras, Lula voltou a falar da Petrobras, em um evento em Juiz de Fora (MG).
“Quem se meter a comprar a Petrobras vai ter que conversar conosco depois da eleição”, declarou. “Tem 392 empresas importando gasolina sem pagar imposto e nós estamos hoje com a gasolina mais cara do mundo, o óleo diesel mais caro do mundo. E o presidente da República, ao invés de colocar a mão e resolver o problema, ele fica trocando de presidente da Petrobras e de ministro de Minas e Energia”, disse.
Ciro Gomes (PDT)
Na mesma linha, o pré-candidato do PDT à presidência, Ciro Gomes, também criticou o chefe do Executivo por não atuar para mudar a política de preços de derivados do petróleo logo após o anúncio do lucro da Petrobras no primeiro trimestre. “Bolsonaro, que acabou de trocar o presidente da Petrobras, reagiu com o teatro cínico e demagógico de sempre. Chamou o lucro de ‘estupro’, mas não disse uma palavra sobre mudar a política de preços da empresa. É um covarde mesmo”, publicou em suas redes sociais.
Na quinta-feira (12), o pedetista criticou a decisão do novo ministro de Minas e Energia de iniciar estudos para a privatização da Petrobras. “De tão grotesca e mal ensaiada, a farsa encenada hoje pelo obscuro Sachsida e o fracassado Guedes, deixou claro que a tal privatização da Petrobras não passa – ainda bem – de um ridículo bode na sala. Outra cortina de fumaça na tentativa inútil de desviar a atenção dos preços extorsivos dos combustíveis”, escreveu em suas redes sociais.
“Em 2016, o Michel Temer resolveu que a Petrobras não ia mais cobrar o custo de produzir e mais um lucro razoável. A Petrobras ia cobrar agora o preço internacional, em dólar. Como se o Brasil não produzisse nenhum barril de petróleo. E nós produzimos aqui todo o petróleo que precisamos e ainda tem uma sobra”, disse, também nesta quinta, em entrevista ao apresentador José Luiz Datena, na Rádio Bandeirantes. “Por que ela cobra esse preço exorbitante? Porque, ao contrário do sanduíche, que, se ele botar um preço grande demais, vem um cara e toma o freguês dele, a Petrobras tem o monopólio, protegido pelo governo”, comparou.
Ele também atacou a participação de capital privado na companhia. “Quem foi que entregou para os acionistas privados, estrangeiros e brasileiros, a maior parte do capital não votante, aquele que não manda na Petrobras, que quem manda é o governo? O Lula e o Fernando Henrique Cardoso. Hoje, 64 de cada 100 reais do capital da Petrobras – não votante – estão na mão de acionistas privados, que dão as cartas”, disse Ciro, que já declarou anteriormente em uma live que comprará todas as ações da Petrobras caso seja eleito.
André Janones (Avante)
O presidenciável pelo Avante, André Janones, que ficou conhecido após gravar uma série de vídeos em apoio à greve dos caminhoneiros de 2018, também entrou na discussão.
Na sexta-feira (6), após as críticas de Bolsonaro ao lucro da Petrobras, disse, em suas redes sociais, referindo-se respectivamente ao presidente e a Lula, que está difícil descobrir qual é o pior: “a preguiça do maior acionista da Petrobras que pede desculpas pelo preço que entrega para o consumidor, mas não busca soluções” ou “a vaidade do que se preocupa só com sua imagem construída pela imprensa que vive criticando”.
Em seguida, Janones compartilhou uma entrevista do colunista do UOL José Paulo Kupfer com a economista Júlia Braga, em que ela propõe um imposto sobre a exportação do petróleo e a criação de uma banda de preços para os combustíveis. “Pessoal toma como definitiva a questão dos preços da Petrobras. Se governo interfere, quebra a estatal; se não interfere, quebra a economia. Compartilho uma opinião da economista Júlia Braga que se deu ao trabalho de procurar alternativa”, escreveu o pré-candidato do Avante.
A criação de uma banda de preços para combustíveis está prevista em um projeto de lei aprovado no ano passado no Senado, mas que está parado na Câmara. O texto originalmente previa também um imposto sobre a exportação de petróleo bruto, mas o dispositivo acabou retirado na versão final aprovada pelos senadores.
Outros pré-candidatos não se manifestaram
Outros pré-candidatos, como João Doria (PSDB), Simone Tebet (MDB) e Felipe D’Ávila (Novo), não deram qualquer declaração pública a respeito da Petrobras após a divulgação de seu lucro, do novo reajuste no óleo diesel, da demissão de Albuquerque do MME ou do anúncio do início dos estudos para privatização da estatal.
Em ocasiões recentes, Doria já defendeu a atual política de preços da Petrobras e sua privatização. “Petróleo e derivados são commodities e os preços domésticos devem guardar paridade com preços internacionais”, afirmou no início do ano.
Em março, o tucano declarou, em nota, que uma eventual intervenção na companhia seria “medida populista e equivocada”. “Mas há também que se buscar soluções estruturais que, ao mesmo tempo que suavizem as flutuações nos preços internacionais do petróleo, acelerem nossa transição energética”, disse.
Em entrevista à rádio Jovem Pan de João Pessoa (PB), o tucano disse que, se eleito, privatizará a estatal petrolífera. “Ela será modulada e privatizada para três ou quatro empresas, para permitir a competição. Será formado um fundo de compensação por essas empresas, que depositarão um determinado valor percentual sobre os resultados, todos os meses, para evitar que em situações como essa, lamentavelmente diante dessa crise provocada pelo ataque da Rússia contra a Ucrânia, os brasileiros não tenham que sofrer com o preço dos combustíveis e do gás de cozinha”, afirmou.
Tebet, recentemente, classificou a possibilidade de intervenção na empresa como “um caminho maldito, um caminho que não dá certo. É um caminho em que todos nós pagamos a conta.” Em uma sabatina promovida pelo UOL e pela Folha de S. Paulo em abril, ela declarou ser contrária à privatização da Petrobras.
A favor da atual política de preços da Petrobras, D’Avila, afirmou, em abril, à CNN que é preciso “rechaçar o populismo político [nos preços] e deixar o mercado dizer qual será o preço de bens e serviços”. “Num país sério, governado pela economia de mercado, quem dita preço é o mercado, é a lei da oferta e demanda. Num país governado por populistas, o governo se intromete para manipular preço”, afirmou.
Ao jornal O Estado de S.Paulo, o pré-candidato do Novo disse, em abril, que, se eleito, privatizará a Petrobras. “Certamente nós vamos enquadrar todas as estatais no programa de desestatização que já existe. Precisa vender tudo. Olha a Petrobras, que absurdo. O Brasil tem uma empresa que produz petróleo, uma commodity que cada vez menos o mundo quer usar”, argumentou.
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