Será que quem espera sempre alcança?

Simone Demolinari

De uma maneira geral, formamos nossa maneira de pensar a partir de tudo que ouvimos dos nossos pais, avós, professores e outras pessoas que por ventura exerçam influência sobre nós. Frases repetidas ao longo do tempo viram verdades inquestionáveis.

Assim ocorre com alguns ditados populares sistematicamente mencionados ao longo da nossa vida, e acabamos por repeti-los sem ao menos questionar se aquilo, de fato, faz sentido para nós. Trouxe alguns deles para nossa reflexão:

Deus ajuda quem cedo madruga: Será que esse Deus seletivo do ditado exclui os trabalhadores noturnos que, em função do seu labor, acordam tarde?

O cavalo passa arriado uma vez só: A frase incentiva a não perder uma oportunidade. Mas mais imputa medo que incentiva. Será mesmo que durante uma vida inteira nós temos apenas uma única oportunidade de acerto?

Mais vale um pássaro na mão que dois voando: O subtexto desse ditado é: contente-se com o que você tem e não arrisque. Um incentivo ao medo e à insegurança. Será que só temos essas duas opções: ou um na mão ou dois voando? Será que não podemos ter dois na mão? Os grandes empreendedores e vencedores certamente não são regidos por essa premissa.

A ignorância é uma bênção: Não é o que penso. Existem 3 estágios. O primeiro é a “ignorância”, que significa o desconhecimento. Mas ignorar não significa estar isento do prejuízo. Um motorista que não sabe que é proibido parar em determinado local não está isento da multa. Uma pessoa que desconhece os malefícios do cigarro não está imune aos danos que ele provoca. A ignorância é como uma mão anestesiada que vai ao fogo: em princípio você não sente dor, mas isso não significa que você não irá sofrer as consequências da queimadura. O segundo estágio é o “conhecimento”: aqui a pessoa conhece, mas não tem controle sobre a situação. Sabe que o cigarro faz mal à saúde, mas não consegue parar de fumar. E, por último, temos a “sabedoria”: é o conhecimento colocado em prática. Este estágio, sim, é o melhor deles.

As pessoas só fazem com você o que você permite: Não, as pessoas fazem conosco o que não permitimos também, mas, por falta de conhecimento (ignorância), não sabemos. Não recebemos um manual da vida. Dessa forma, uma pessoa mais ingênua poderá ser explorada por outra mal-intencionada. E isso não é permissão, é exploração. Nossa responsabilidade começa a partir do momento que fatos se evidenciam. Daí para frente, se negligenciarmos as evidências, sim, seremos co-responsáveis. Afirmar que o outro só faz o que eu permito é inocentar o algoz e culpar a vítima.

A ocasião faz o ladrão: Penso que o melhor seria dizer que a ocasião revela o ladrão, pois o ladrão já está feito.

Cuidado, os ditados populares podem ser uma grande fake news.

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By valeon