Comércio exterior
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Vandré Kramer – Gazeta do Povo
Veículos russos tentam tirar minas em siderúrgica de Mariupol, na Ucrânia.| Foto: Alessandro Guerra/EFE/EPA
Em meio à guerra na Ucrânia, a participação da Rússia nas importações brasileiras cresceu de 1,97% no primeiro quadrimestre de 2021 para 2,94% no mesmo período de 2022, aponta a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do governo federal. O Brasil comprou US$ 2,39 bilhões em mercadorias russas de janeiro a abril, uma alta de 89% sobre o mesmo período do ano passado – ou seja, os desembolsos quase dobraram.
Com isso, a Rússia passou de 12º a quinto maior fornecedor de produtos ao Brasil, atrás de China, Estados Unidos, Alemanha e Argentina.
Mas, no geral, isso não quer dizer que o Brasil está comprando mais quantidade da Rússia. Na verdade, os dados mostram que o país está pagando bem mais caro por um volume um pouco menor de produtos. Ao todo, foram importados 4,41 milhões de toneladas de mercadorias da Rússia nos quatro primeiros meses do ano, 5,84% a menos que em igual período de 2021.
A escalada nos preços de commodities e outros insumos, motivada em parte pela guerra e em parte por um desajuste entre oferta e demanda que vem desde o começo da pandemia, ajudam a explicar esse cenário.
Segundo a Secex, 69% do que o Brasil importou neste ano da Rússia é adubo ou fertilizante químico, 15% carvão e 7%, óleos combustíveis. Com isso, a participação desses três itens nas compras brasileiras de produtos russos aumentou de 78%, um ano atrás, para 91%.
Até abril, chegada de fertilizantes ao Brasil foi dentro da normalidade
Segundo o Itaú BBA, nos quatro primeiros meses do ano, a importação brasileira de fertilizantes foi 5% maior que no mesmo intervalo de 2021, atingindo 10,4 milhões de toneladas. Apesar da redução nos três primeiros meses do ano, o fluxo nos portos evoluiu em abril e foi registrado um aumento de 62% em relação ao mesmo mês do ano anterior.
“Até abril, as importações provenientes da Rússia e da Belarus chegaram ao Brasil dentro da normalidade, já que no primeiro quadrimestre de 2022 foram registradas 2,4 milhões de toneladas em compras vindas da Rússia e 744 mil toneladas de Belarus, valores parecidos com o mesmo período de 2021”, aponta relatório do banco de investimentos. São necessários aproximadamente 90 dias entre a encomenda e a chegada do produto ao país.
Mas os números dos próximos meses podem ser diferentes, em razão da guerra. A instituição financeira projeta um menor volume chegando ao Brasil. “A maior quantidade importada em abril pode ter refletido uma antecipação de compras, na medida em que a oferta de matérias primas começou a ficar mais incerta.”
Com guerra, cresce a participação de outros fornecedores de fertilizantes
A guerra já está se refletindo no fornecimento de insumos para fertilizantes. No caso do cloreto de potássio, o volume importado não apresentou grande diferença em relação ao ano passado. A partir de abril, o Canadá passou a liderar o fornecimento, seguido por Rússia e Belarus, que vêm sofrendo sanções.
“Será importante acompanhar de perto o volume a ser desembarcado e os preços a serem praticados do cloreto de potássio no país nos próximos meses”, apontam os analistas do Itaú BBA.
O volume de nitrato de amônio importado no primeiro quadrimestre de 2022 foi 52,8% inferior ao de 2021, causado principalmente pela redução do volume proveniente da Rússia. O país bloqueou as exportações em fevereiro para reforçar o atendimento da demanda doméstica. Com isso, cresceu a participação da Holanda no fornecimento do insumo. A participação do país nas importações brasileiras passou de 31%, em 2021, para 56% em 2022.
Outro produto cujo volume de chegada foi maior em abril em comparação ao mesmo mês de 2021 foi o MAP, dos quais 40% são originários da Rússia. Mas no primeiro quadrimestre do ano, segundo a Secex, as compras somam 954 mil toneladas, 15% menos que o registrado em igual período de 2021.
“Com os problemas logísticos decorrentes da guerra, também é um produto importante a ser acompanhado nos portos brasileiros nos próximos meses”, diz o Itaú BBA.
Outro item em que a participação russa na oferta ao Brasil foi menor é a de ureia. Ela diminuiu de 26% para 16%. A perda foi compensada pelo maior volume de compras de Omã (cuja fatia subiu de 11% para 16%) e Nigéria (7% para 23%).
Brasil compra mais petróleo e carvão russos
O Brasil importou uma maior quantidade de óleos combustíveis de petróleo ou de minerais betuminosos da Rússia no primeiro quadrimestre de 2022 – foram 196,5 mil toneladas, 177,8% a mais do que no mesmo período do ano anterior, aponta a Secex. Mas, por causa do descompasso entre oferta e demanda do produto, foi pago 341,6% a mais, ou US$ 169,1 milhões.
É uma situação similar à do carvão. O Brasil importou 1,53 milhão de toneladas da Rússia entre janeiro e abril, 13,3% a mais do que nos mesmos meses do ano passado. Mas o valor pago mais do que triplicou, atingindo US$ 357,6 milhões.
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