Questão de soberania

Por
Alexandre Garcia – Gazeta do Povo

Moju Para 13 08 2019 O Governo do Pará vem intensificando o combate ao desmatamento ilegal. Nos últimos cinco dias, equipes da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), em parceria com o Batalhão de Polícia Ambiental (BPA), da Polícia Militar, percorreram 620 quilômetros em cinco municípios. A força-tarefa seguiu de Moju a Tailândia, no sudeste, e de Altamira a Senador José Porfírio, terminando em Anapu, no oeste.Houve apreensão de cerca de 600 toras de madeira, dois tratores, dois rifles e munições, e desmontado um acampamento de extração de madeira ilegal dentro da floresta. Um homem foi autuado por crime ambiental. A estimativa é que a quantidade de madeira apreendida chegue a 2 mil metros cúbicos, o suficiente para encher 100 caminhões.Ronan Frias Semas


Desmatamento na Amazônia em uma área no Pará| Foto: Ronan Frias/Semas-PA/Fotos Públicas

O duplo assassinato no Vale do Javari reacendeu de novo as manifestações de uma cobiça que já dura 400 anos. Ironicamente, as ações estrangeiras usuais na Amazônia têm sido mais discretas que a de brasileiros que agora construíram uma narrativa para justificar o sonhado condomínio internacional para “administrar” as riquezas naturais da área. Administrar significa dominar e usar.

Quando estrangeiros fazem isso, apenas estão insistindo no que sempre fizeram; quando brasileiros se unem a eles, tentando lesar o primeiro fundamento da nossa República, que é a soberania (art. 1º da CF), isso choca. Na minha infância, chamávamos os brasileiros que trabalhavam contra o Brasil em plena Guerra Mundial, de quintas-colunas. Lembro-me de Brizola chamar esse tipo de gente de entreguista e vendilhão da pátria. 

Agora é um outro líder de esquerda, do partido de Brizola, que denuncia o crime de lesa-soberania: o ex-presidente da Câmara, ex-ministro de Lula e Dilma, ex-PC do B, Aldo Rebelo, um estudioso da Amazônia e defensor dessa metade do nosso território. Não é uma questão de esquerda ou direita, mas uma questão de soberania nacional – o primeiro fundamento da nação.

Vem de longe a cobiça.

Os portugueses a combateram no século XVII, principalmente com Pedro Teixeira, que tirou holandeses, franceses, ingleses e espanhóis da nossa Amazônia, como atestam os fortes construídos no extremo da pátria. Acreanos decidiram ser brasileiros e não bolivianos, e se levantaram em armas liderados por Plácido de Castro. Rio Branco consolidou as fronteiras no Acre com a Bolívia e no Amapá com os franceses.

Não são apenas os europeus, os cobiçosos. Em 1849, uma expedição científica da Marinha dos Estados Unidos voltou da Amazônia com uma teoria: a bacia amazônica faz parte da bacia do Mississipi: a direção dos ventos leva os navios da foz do Amazonas para os portos do sul dos Estados Unidos. Portanto, o Império Brasileiro deveria conceder aos americanos a livre navegação nos rios da Amazônia.

Desconfiado, Pedro II pediu ao Barão de Mauá uma companhia de navegação nacional que preenchesse o vazio cobiçado. Os americanos já tinham anúncios em jornais, organizando expedições para explorar o Eldorado. Há 50 anos, o cientista Herman Kahn, do Hudson Institute, sugeriu inundar a Amazônia formando um lago gigantesco.

Brasileiros querendo entregar a Amazonia desrespeitam as memórias de Arthur Reis, Osny Duarte Pereira, Cândido Rondon, Jorge Teixeira, e outros, mas principalmente ofendem  a brasilidade dos amazônidas de todas as etnias e origens, que sabem muito bem onde está o interesse, porque não são ingênuos nem cúmplices em relação à presença estrangeira por lá. E sabem a diferença entre preservar – manter intocável e reservada para os outros – e conservar, com sustentabilidade, para o bem-estar do que há de mais importante na região: a natureza humana.


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