Por
J.R. Guzzo
O presidente da Argentina, Alberto Fernández, e sua vice, Cristina Kirchner.| Foto: EFE
Um país em que o PIB caiu 10% no último ano, a inflação passou dos 60% anuais, pela conta deste último mês de junho, está devendo as calças no mercado financeiro internacional e não quer ou não pode pagar, vai muito mal, não é mesmo? Depende. Se houver ali um governo “progressista” e uma política econômica de “esquerda” fica tudo bem – os analistas de mesa redonda, os professores de economia e os banqueiros de esquerda não veem problema nenhum em nada disso.
É o caso, neste momento, da Argentina: com os números citados acima, está no bico do corvo, mas nenhum crítico econômico brasileiro faz qualquer crítica a respeito. Problema mesmo, para todos eles, é o Brasil, onde o governo “destruiu” a economia – o PIB não cresceu muito além do 1% e a inflação de 12% ao ano está “descontrolada”. Não faz nexo algum, é claro. Deveria estar claro, até para uma criança de dez anos de idade, que quem está com problemas, de verdade, é a Argentina – e não o Brasil, que segue uma política oposta. Mas o economista brasileiro padrão, desses que você vê todo dia na mídia, acha que não. Quem está errando tudo, dizem, é “esse governo do Bolsonaro”. A Argentina não existe para eles.
O interessante, no caso, é que a presidente de fato da Argentina não está, ela mesmo, satisfeita com os resultados que o seu governo vem dando – e tanto não está que demitiu o ministro da Economia para colocar uma irmã ideológica no seu lugar. Mais interessante ainda é que a nova ministra é uma entusiasta de todas as “políticas” que, comprovadamente, já deram errado na economia argentina. Vai se consertar o erro, portanto, errando de novo – ou insistindo em fechar os olhos para o que estão fazendo de errado.
Deveria estar claro, até para uma criança de dez anos de idade, que quem está com problemas, de verdade, é a Argentina – e não o Brasil, que segue uma política oposta
Para o governo peronista, por exemplo, a inflação não é causada pelo descontrole do gasto público. É mesmo? Nada a ver? E a recessão de 10%, então, uma das mais sinistras do mundo? Considera-se no palácio do governo, da mesma forma, que o brutal fechamento da produção imposto pelas autoridades – a Argentina foi uma das campeãs mundiais no campeonato do “fique em casa” – não tem nenhuma relação com isso. É complicado. A economia argentina já não produzia grande coisa antes da pandemia. Com todo mundo obrigado a parar, só poderia mesmo haver recessão “top de linha” – mas a esquerda econômica acha que está tudo bem. Economia com problema, nos dizem, é o Brasil.
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