Editorial
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Gazeta do Povo
Silvina Batakis vai substituir Martín Guzmán, que renunciou ao cargo após ter sua política econômica criticada pela vice-presidente Cristina Kirchner.| Foto: EFE/Juan Ignacio Roncoroni
Quando a esquerda resolveu lançar Alberto Fernández para encabeçar a chapa peronista que disputaria a presidência da Argentina em 2019, tendo a ex-presidente Cristina Kirchner como vice, muitos se perguntaram quem realmente daria as cartas caso a dupla acabasse eleita, como ocorreu – já durante a campanha Fernández permitia intuir a resposta, como quando agradeceu à sua vice pela “confiança”, durante um comício. Pois agora, com a substituição do ministro da Economia por uma kirchnerista fiel, não há mais dúvidas: Fernández ainda tem a faixa e o gabinete presidencial na Casa Rosada, mas quem governa mesmo a Argentina é Cristina Kirchner.
Ela já havia partido para o ataque no segundo semestre de 2021, quando os peronistas perderam para a oposição de centro-direita as primárias das eleições parlamentares. Na ocasião, Cristina Kirchner desferiu pesadas críticas ao presidente no Twitter e pelo menos 11 integrantes kirchneristas do alto escalão do governo pediram demissão para desmoralizar Fernández e tentar forçar a saída de outros ministros mais ligados ao presidente, incluindo Martín Guzmán, da Economia – ele permaneceu, mas o chefe de gabinete, Santiago Cafiero, caiu, sendo deslocado para o Ministério das Relações Exteriores. Derrotado na disputa interna, Fernández levou o governo mais à esquerda e, como consequência, nas eleições parlamentares propriamente ditas os argentinos tiraram do peronismo até mesmo a maioria tranquila que tinha no Senado.
A realidade não impede os peronistas, especialmente os mais radicais, de seguir acreditando que basta imprimir dinheiro, congelar os preços e aumentar o gasto público para que a inflação desapareça e a economia avance
O resultado da eleição parlamentar – que o peronismo chegou a comemorar, pois a derrota não fora tão acachapante quanto se previa – não impediu Cristina Kirchner de seguir fazendo o papel de pedra, por mais que a derrocada argentina estivesse ligada à implantação das políticas mais radicais que eram pedidas por ela, e não por Fernández. O ministro Guzmán continuou a ser um alvo preferencial da vice, inclusive quando ele liderou renegociações de dívidas que impediram a Argentina de voltar ao estado de calote. No último sábado, entretanto, Guzmán não resistiu mais ao bombardeio da ala radical do governo e renunciou ao cargo, sendo substituído por Silvina Batakis, nome que, segundo a imprensa argentina, foi imposto pela vice-presidente.
Obviamente, Fernández e Guzmán têm muita responsabilidade pelo caos atual da economia argentina; eles só parecem sensatos quando colocados ao lado de Cristina Kirchner. O presidente e o (agora ex-) ministro são intervencionistas, populistas e gastadores, insistindo em soluções que já se mostraram um enorme fracasso. Fernández se tornou motivo de riso nas mídias sociais quando afirmou, no início de maio, que “cada vez que ponemos dinero, los precios siguen subiendo” – segundo a piada, o presidente acabara de fazer sua grande descoberta: o que é a inflação. Mais recentemente, o mandatário afirmou que faltam dólares na Argentina porque o país está crescendo muito.
A realidade, no entanto, não impede os peronistas, especialmente os mais radicais, de seguir acreditando que basta imprimir dinheiro, congelar os preços e aumentar o gasto público para que a inflação desapareça e a economia avance. Com Silvina Batakis no comando da política econômica e Cristina Kirchner exercendo o poder de fato, as previsões de inflação para este ano, que já passam de 70%, deverão merecer uma atualização para pior. Resta saber se o povo argentino finalmente despertará quando, em 2023, o peronismo tentar permanecer na Casa Rosada.
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