Felipe Novaes, sócio e confundador da The Bakery
O texto explora a evolução do panorama de inovação no Brasil nos últimos 5 anos, considerando alguns importantes marcos.
Os “50 Anos em 5” da inovação corporativa no Brasil, e como vencer obstáculos para inovar ainda mais
Os últimos 5 anos estão entre os mais movimentados da história da inovação no Brasil. Em 2018, por exemplo, nasceram os primeiros unicórnios brasileiros e hoje o país é líder nas iniciativas bilionárias na América Latina. Em 2019, outro avanço: o número de startups nacionais cresceu três vezes, comparado a 2015. Nos últimos 5 anos, as grandes organizações também se destacaram. O volume de Venture Capital bateu recorde atrás de recorde, compromissos de sustentabilidade ganharam prioridade e cresceu na pauta o uso de termos como ESG, 5G, Open Finance, marketplace, transformação digital e metas de carbono.
Diante desse cenário, as organizações começaram a perceber que, embora inovar seja caro, o risco de perder o protagonismo, ou desaparecer do mapa, representaria um custo ainda mais alto. Nessa linha, um estudo realizado para o Anuário Valor Inovação Brasil de 2021 demonstrou o quanto a inovação vem recebendo espaço nas corporações. Metade dos executivos entrevistados afirma que inovar é a principal estratégia de sua empresa, um crescimento de 13 pontos percentuais em apenas um ano.
Indicadores como esse apontam que a inovação já se tornou um aspecto fundamental da vida de empresas que conseguiram conscientizar suas lideranças, perceber o desejo do consumidor e criar estratégias eficientes de transformação. Uma valiosa oportunidade em um país no qual as pessoas confiam duas vezes mais nas marcas para ter acesso a soluções do que no Governo.
No Brasil, a ampla extensão territorial e o tamanho da população permitem expandir negócios e ganhar escala. Se somarmos nosso mercado a toda a América Latina, temos um número de consumidores maior que o dos EUA. As ineficiências nas cadeias de produção locais, ou de infraestrutura, custos ainda extremamente altos de processos analógicos e manuais, um público diverso e com demandas variadas, aberto a novidades e tecnologias são convites ao investimento em inovação aqui. Dificuldade, sob a ótica da inovação, costuma ser oportunidade.
As empresas sentem a importância da inovação brasileira e querem colocar o pé no acelerador. Uma pesquisa da Deloitte envolvendo 500 organizações, com receitas que somam 35% do PIB nacional, publicada há poucos meses, mostra que 70% delas ampliarão ações em P&D e mais da metade vai intensificar parcerias com startups em 2022, sendo que 85% almejam lançar produtos novos ainda este ano.
O que às vezes parece faltar é um foco maior na estratégia de inovação e na importância dada ao que realmente a viabiliza. De acordo com a Confederação Nacional das Indústrias (CNI), cerca de 65% das empresas que inovaram durante a pandemia não têm sequer orçamento reservado para isso, tampouco times exclusivamente dedicados. E se não há um time empenhado 100% na inovação é grande a chance de uma empresa produzir iniciativas limitadas, ou hábeis em mirar apenas o curto prazo.
Para inovar e não fazer dessa ação fracasso e trauma, uma grande empresa precisa se preparar. Querer se aprofundar no negócio, rever processos internos, reconhecer entraves que inviabilizam o novo, entender a forma mais adequada de engajar as pessoas, as forças empreendedoras, escolher suas apostas e transformar sua cultura.
Na sequência desses “50 anos em 5” que vivemos, o momento para investir em inovação corporativa no Brasil é um dos mais propícios – e necessários. Está principalmente em nossas mãos (e planilhas) criar a melhor estratégia para que esse esforço se traduza em produtividade, performance e liderança.
STARTUP VALEON UMA HOMENAGEM AO VALE DO AÇO
Moysés Peruhype Carlech
Por que as grandes empresas querem se aproximar de startups? Se pensarmos bem, é muito estranho pensar que um conglomerado multibilionário poderia ganhar algo ao se associar de alguma forma a pequenos empresários que ganham basicamente nada e tem um produto recém lançado no mercado. Existe algo a ser aprendido ali? Algum valor a ser capturado? Os executivos destas empresas definitivamente acreditam que sim.
Os ciclos de desenvolvimento de produto são longos, com taxas de sucesso bastante questionáveis e ações de marketing que geram cada vez menos retorno. Ao mesmo tempo vemos diariamente na mídia casos de jovens empresas inovando, quebrando paradigmas e criando novos mercados. Empresas que há poucos anos não existiam e hoje criam verdadeiras revoluções nos mercados onde entram. Casos como o Uber, Facebook, AirBnb e tantos outros não param de surgir.
E as grandes empresas começam a questionar.
O que estamos fazendo de errado?
Por que não conseguimos inovar no mesmo ritmo que uma startup?
Qual a solução para resolver este problema?
A partir deste terceiro questionamento, surgem as primeiras ideias de aproximação com o mundo empreendedor. “Precisamos entender melhor como funciona este mundo e como nos inserimos!” E daí surgem os onipresentes e envio de funcionários para fazer tour no Vale e a rodada de reuniões com os agentes do ecossistema. Durante esta fase, geralmente é feito um relatório para os executivos, ou pelas equipes de inovação ou por uma empresa (cara) de consultoria, que entrega as seguintes conclusões:
* O mundo está mudando. O ritmo da inovação é acelerado.
* Estes caras (startups) trabalham de um jeito diferente, portanto colhem resultados diferentes.
* Precisamos entender estas novas metodologias, para aplicar dentro de casa;
* É fundamental nos aproximarmos das startups, ou vamos morrer na praia.
* Somos lentos e burocráticos, e isso impede que a inovação aconteça da forma que queremos.
O plano de ação desenhado geralmente passa por alguma ação conduzida pela área de marketing ou de inovação, envolvendo projetos de aproximação com o mundo das startups.
Olhando sob a ótica da startup, uma grande empresa pode ser aquela bala de prata que estávamos esperando para conseguir ganhar tração. Com milhares de clientes e uma máquina de distribuição, se atingirmos apenas um percentual pequeno já conseguimos chegar a outro patamar. Mas o projeto não acontece desta forma. Ele demora. São milhares de reuniões, sem conseguirmos fechar contrato ou sequer começar um piloto.
Embora as grandes empresas tenham a ilusão que serão mais inovadoras se conviverem mais com startups, o que acaba acontecendo é o oposto. Existe uma expectativa de que o pozinho “pirlimpimpim” da startup vá respingar na empresa e ela se tornará mais ágil, enxuta, tomará mais riscos.
Muitas vezes não se sabe o que fazer com as startups, uma vez se aproximando delas. Devemos colocar dinheiro? Assinar um contrato de exclusividade? Contratar a empresa? A maioria dos acordos acaba virando uma “parceria”, que demora para sair e tem resultados frustrantes. Esta falta de uma “estratégia de casamento” é uma coisa muito comum.
As empresas querem controle. Não estão acostumadas a deixar a startup ter liberdade para determinar o seu próprio rumo. E é um paradoxo, pois se as empresas soubessem o que deveria ser feito elas estariam fazendo e não gastando tempo tentando encontrar startups.
As empresas acham que sabem o que precisam. Para mim, o maior teste é quando uma empresa olha para uma startup e pensa: “nossa, é exatamente o que precisamos para o projeto X ou Y”.
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