Educação no Brasil pede projeto de longo prazo

Cláudio Rigo

Em relatório de 2018, sobre o desenvolvimento mundial, dedicado à educação, o Banco Mundial comenta os resultados das provas do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) daquele ano. Sobre o Brasil o relatório afirma que, no ritmo atual, os jovens brasileiros “levarão 75 anos para atingir a pontuação média dos países ricos em matemática. No campo da leitura, levará mais de 260 anos”. Infelizmente, corremos o risco de essas previsões estarem corretas.

Os resultados obtidos por nossos estudantes de 15 anos no Pisa nos últimos 20 anos reforçam o quadro. De 2000 a 2009 conseguimos pequenas melhoras em leitura (4%), matemática (9%) e ciências (4%), mas com resultados absolutos que colocam o Brasil nos últimos lugares do ranking. No entanto, na última década estagnamos nas três áreas e em níveis muito abaixo da média dos países da OCDE.

Mas nem tudo são más notícias: o Pisa 2018 detectou que 2% dos estudantes brasileiros têm alto desempenho em ao menos uma das matérias avaliadas e 10% dos nossos alunos desfavorecidos estão aptos a pontuar entre os 25% melhores em leitura. Onde estão esses alunos e o que estão fazendo os professores e diretores de suas escolas para que aprendam tão bem? Precisamos olhar com atenção para esses educadores.

Diante dessa grave crise, vejo dois caminhos: o mais fácil seria capitular diante da enormidade do problema e o mais árduo, abordar a crise de “nova” forma. Capitular seria fazer mais do mesmo, insistir nas fórmulas que já se mostraram estéreis. Estamos há um século implantando políticas educativas pragmáticas no Brasil, voltadas para preparar massas de jovens para o mercado de trabalho. Some-se a isso a influência de ideologias socialistas e marxistas que transformaram a educação pública, o MEC e as disputas em torno das diversas Leis de Diretrizes e Bases da Educação em verdadeiras guerras ideológicas. O resultado está à vista de todos: colapso no ensino público, professores despreparados, resultados pífios nas avaliações nacionais e internacionais, legiões de analfabetos funcionais que saem das escolas e das universidades, crise de ignorância dos princípios elementares sobre a natureza humana e da deontologia profissional que atinge pessoas ilustres em todos os níveis da República. Parece não haver perspectiva de sairmos deste círculo vicioso.

Vamos, então, ao caminho árduo, cujo início é voltar aos fundamentos filosóficos da tarefa educativa: educar é ajudar a crescer como pessoa, fazer cada aluno, livremente, trazer para fora a melhor versão de si mesmo. E tomar a verdade como fundamento da aprendizagem: motivar a aprender é apaixonar pela verdade, em qualquer âmbito do conhecimento. Se não partimos da verdade sobre a pessoa humana, não há educação, apenas manipulação da mente dos educandos. Com esses firmes fundamentos podemos olhar para as melhores práticas que já tivemos e as lições positivas de outros países. Proponho abaixo cinco enfoques fundamentais que podem ajudar a elaborar um projeto para a educação do País.

1) Temos um desafio de longo prazo e qualquer busca de resultados imediatos só piora a situação: o País precisaria embarcar num projeto sério, com um horizonte de quatro a cinco gerações, em esforço coordenado com grupos privados e apoiado pelos futuros governos.

2) O jornalista Antônio Gois, em livro recente, Líderes na Escola (Moderna, 2020), aponta os dois fatores mais determinantes para a aprendizagem do aluno: professores bem preparados e diretores bem selecionados e formados. Fatores como salário do professor, investimento em tecnologia ou condição socioeconômica do aluno têm menor impacto no aprendizado. O Estado precisa repensar os critérios de aplicação dos recursos.

3) Foco no aprendizado, e não no ensino: todos os recursos humanos e materiais devem estar voltados para conseguir que os estudantes aprendam. Repensar a forma de ingresso nas universidades, pois a atual tira de muitos alunos a vontade de aprender.

4) Em parceria público-privada, criar polos de excelência nas regiões que apresentam melhores resultados educacionais, como Belo Horizonte ou Fortaleza, de onde pode irradiar excelência na formação de professores e diretores do restante do País. Contar fortemente com a iniciativa privada – os grandes grupos educacionais privados têm importante responsabilidade social e podem ajudar a rede pública a ser mais eficiente.

5) Ser exigente na formação dos professores, com estágios que não sejam uma brincadeira e acompanhamento próximo nos primeiros anos de docência, de tal forma que os candidatos sintam que escolheram uma grande profissão. Valorizar a figura do professor, principalmente no seu prestígio social. Um povo que não atrai para a pesquisa e o ensino as suas melhores cabeças está a caminho de fracassar como nação.

É preciso mudar o mindset se quisermos elevar de patamar a educação brasileira. O Brasil merece um panorama mais promissor na área da educação, e merece também pessoas magnânimas e generosas que lutem por esse ideal. E entendo que esse projeto, para ser eficiente no longo prazo, não pode esperar: tudo o que aqui foi falado é para ontem!

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DOUTOR EM ENGENHARIA, MASTER EM DIREÇÃO DE CENTROS EDUCATIVOS, É DIRETOR-GERAL DO COLÉGIO CATAMARÃ

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