Tensão eleitoral
Por
Rodolfo Costa
Brasília
Militares podem ser acionadas em operações de Garantia da Lei e da Ordem caso manifestações pós-eleições fujam do controle.| Foto: Isac Nóbrega/PR
As Forças Armadas estão atentas à reta final do segundo turno da eleição presidencial. Das tropas ao Alto Comando do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, os militares acompanham com lupa as decisões e posicionamentos adotados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e pelas campanhas do presidente Jair Bolsonaro (PL) e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Além de vigilantes, as instituições também estão preocupadas com o clima de tensão eleitoral e a reação de eleitores a depender do resultado de domingo (30), sobretudo os que apoiam a reeleição presidencial.
A percepção entre militares da ativa e da reserva ouvidos pela Gazeta do Povo é de que uma eventual derrota de Bolsonaro nas urnas pode acalorar ainda mais os ânimos de eleitores e levá-los às ruas em manifestações e protestos contra o TSE e o Supremo Tribunal Federal (STF). Embora haja um sentimento na caserna de que uma vitória do presidente é provável e ajudaria a conter impulsos mais exacerbados de alguns eleitores, existe a preocupação de que as forças auxiliares de segurança pública possam ser insuficientes para eventualmente conter e apaziguar possíveis conflitos.
Na hipótese de as polícias serem insuficientes para controlar os ânimos, as Forças Armadas seriam as responsáveis por estabelecer a ordem mediante operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO). O general reformado Maynard Santa Rosa, que chefiou a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República no início da gestão Bolsonaro, não descarta tal cenário.
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“Acho que não é só possível, como provável. Se houver algum clima de sublevação e contestação que saia do controle das autoridades civis, é possível que haja uma participação de tropas. É preocupante, eu acho que nós estamos em um clima de potencial crise”, analisa. “Não torço pelo Bolsonaro, mas a minha esperança é que Lula não ganhe. Aí, as coisas se acomodam. Se ele [Lula] ganhar, é presumível uma perda de controle da situação e, havendo uma grave perturbação da ordem, aí teria que haver a participação de tropas”, complementa.
O general reformado Paulo Chagas não considera provável o emprego de militares em caso de desordem, mas entende ser possível. “Eu vi um convite para as pessoas irem à Esplanada dos Ministérios assistir a apuração das urnas. Isso, para mim, é perigoso, porque a opção por Bolsonaro é majoritária em Brasília e, de repente, a expectativa é frustrada e eles não vão lá para chorar. Pode acontecer de alguns irem para a rua tumultuar”, avalia.
Os dois generais esclarecem que suas análises são pessoais e desassociadas de oficiais-generais da ativa. Chagas avalia, porém, que é provável que o Alto Comando esteja atento a essa hipótese. “Lógico que estão preocupados, o comandante do Exército deve estar com todo o sistema de inteligência funcionando porque não pode ser surpreendido”, diz.
A cúpula das Forças Armadas monitora suas tropas e tem conhecimento de que, nas “bases”, a percepção também é de temor e apreensão para as eleições. Oficiais militares acompanham com temor o clima de tensão e entendem ser “plausível” e “possível” a hipótese das tropas serem acionadas para conter uma eventual desordem.
Como as Forças Armadas acompanham o segundo turno de votação
Como eleitores, a maioria dos militares tem a expectativa de derrota de Lula nas urnas. Assim como os apoiadores de Bolsonaro, uma parte também observa de forma crítica algumas decisões recentes do TSE e do presidente da Corte, ministro Alexandre de Moraes, como a que rejeitou a denúncia da campanha do candidato à reeleição de desequilíbrio em inserções de rádio a favor de Lula.
Parte dos militares da ativa e da reserva acredita que o processo eleitoral está contaminado e que não há lisura por parte do TSE. Também são feitas críticas a Moraes e a outros ministros por diferentes decisões judiciais durante as eleições e principalmente algumas anteriores tomadas no âmbito do STF, como as que permitiram Lula deixar a prisão e concorrer as eleições.
“O Judiciário está contaminado e cooptado. A própria ‘ressurreição’ do Lula foi uma forçação de barra, durante a pandemia, quando não poderia haver resistência. No meu modo de ver, o Alexandre de Moraes exorbitou e age de modo ilegal investido de uma autoridade que não tem, e está infringindo a Constituição”, diz o general Santa Rosa. “Ninguém tem dúvida no Brasil e no mundo que o Alexandre de Moraes é faccioso e que eles têm um partido e um candidato”, critica o general Paulo Chagas.
A despeito de críticas ao Judiciário e preocupações de desordem nas ruas, não há conhecimento de que as Forças Armadas planejaram ações táticas para antever uma possível revolta popular, comenta Chagas. “Até agora eu não vi nada. Hoje [nesta sexta-feira (28)] mesmo fui aos Dragões [da Independência, o 1º Regimento de Cavalaria de Guardas] para uma confraternização e o ambiente era bem de caserna, bem tranquilo”, afirma.
Em publicação no site do Ministério da Defesa, a pasta esclarece que, para este segundo turno, vai coordenar os mesmos Comandos Conjuntos “ativados” no primeiro turno, compostos por militares da Marinha, do Exército e da Aeronáutica. “As ações envolvem o emprego de embarcações, veículos e aeronaves, entre outros equipamentos”, informa.
No primeiro turno, 4.578 mil locais de votação em 456 municípios receberam apoio de segurança das Forças Armadas em ações de segurança Já o apoio logístico abrangeu 38 municípios de nove estados. Nas ações, foram empregados, aproximadamente, 34 mil militares, além de 430 embarcações de pequeno porte, 18 navios, 3 mil viaturas, 62 blindados e 47 aeronaves, entre aviões e helicópteros.
Como está a segurança em Brasília para o dia do segundo turno
Em Brasília, onde é esperado que apoiadores de Bolsonaro se reúnam para acompanhar a contagem de votos, a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF) montou um esquema de segurança com policiamento e proteção com grades nos prédios do Congresso, no STF, no TSE e nos Ministérios da Justiça e Segurança Pública e o de Relações Exteriores. Os edifícios contarão com reforço de segurança pela Polícia Militar do Distrito Federal (PM-DF), além de segurança própria.
Ao site Metrópoles, o secretário da SSP-DF, Júlio Danilo, disse que a pasta “está preparada” em relação ao reforço na segurança. “A gente espera que seja tranquilo. Lógico que depende do resultado das eleições. Um lado sairá vencedor e gostará, sim, de se manifestar e comemorar. Se a gente for pegar pelo histórico dos últimos quatro anos, as manifestações têm sido de forma muito pacífica em Brasília. Então, a gente espera, sim, que as pessoas se comportem”, afirmou.
O empresário Paulo Generoso, criador e coadministrador da página da internet República de Curitiba, é um dos organizadores do ato que convocou os apoiadores de Bolsonaro a prestigiarem a contagem de votos, a partir das 15 horas. Ele acredita na reeleição do presidente, mas assegura que, em caso de derrota, ele se responsabiliza pelo trabalho de acalmar os ânimos.
“Estamos com expectativa muito grande. Nossa alegria vai ser muito grande, mas a frustração vai vir na mesma medida. Entendo por tudo o que vem acontecendo, desde a roubalheira ao desgoverno do PT e a indignação contra o Judiciário, a sensação de estar sendo roubado, caso aconteça a derrota, vai ser preocupante. Mas o nosso objetivo é, realmente, estar ali para comemorar e acompanhar a contagem dos votos e celebrar a vitória. Não acredito que vai ter nenhuma ação de nossa parte, principalmente da liderança, vou ser um que vai ajudar a acalmar os ânimos e esperar o relatório das Forças Armadas”, diz.
Como ficou a fiscalização das urnas feita pelos militares
A auditoria elaborada pelas Forças Armadas sobre o processo eleitoral não tem data para ser concluída. Moraes chegou a determinar que o Ministério da Defesa apresentasse cópias dos documentos, mas as Forças Armadas informaram que aguardariam o término do segundo turno para concluir o relatório. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, a última etapa das análises pode ser concluída em 5 de janeiro de 2023.
Segundo a Folha de S. Paulo, o plano inicial previa analisar 385 boletins de urna e compará-los aos dados transmitidos ao TSE e contados pela Justiça Eleitoral. Os militares, no entanto, aumentaram a amostra para cerca de 500 boletins.
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