Assassinato estatístico
Remédio proposto por ativistas na COP27 é pior que a doença
Por
Henry I. Miller e Tom Hafer
City Journal – Gazeta do Povo
Moradores de um bairro argentino, durante inundação: privar as comunidades de riqueza por meio de impostos ou regulamentações oferece mais riscos à saúde, porque indivíduos mais ricos podem adquirir melhores cuidados de saúde| Foto: EFE/Juan Ignacio Roncoroni
Costuma-se dizer que os membros da geração Z não têm noção de muita coisa, e os sinais que esses jovens manifestaram na conferência COP27, em novembro, são evidências dessa constatação. Eles não conseguem ver o quadro geral. Vamos aceitar, por enquanto, a premissa daquilo que eles defendem: que as atividades humanas produzem gases de efeito estufa (GEE), como o dióxido de carbono, que dão origem ao aquecimento atmosférico e, portanto, causam algum grau de nocividade e dano. Mesmo assim, como esses profissionais de saúde devem saber, qualquer tratamento não deve ser pior do que a doença – mas é exatamente isso que vemos em muitos remédios propostos para a mudança climática.
Ativistas climáticos estão clamando por intervenções caras, incluindo transformações massivas na produção de energia, nos meios de transporte, nos projetos arquitetônicos e até mesmo defendendo a diminuição do crescimento populacional. Eles também querem que grandes quantias de compensação monetária sejam pagas aos países pobres para compensar os danos ambientais e econômicos relacionados à mudança climática. As intervenções mais populares incluem gastos monumentais com subsídios para turbinas eólicas, painéis solares e veículos elétricos. Mas essas medidas produzirão os resultados desejados? E será que arrancar dos pagadores de impostos os vastos recursos necessários para financiar medidas climáticas não produzirá por si mesmo efeitos negativos?
O modelo climático En-ROADS, criado e mantido pela Climate Interactive e pela Escola de Administração do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), fornece respostas. O En-ROADS é um modelo altamente complexo e interativo com uma interface simples que permite aos usuários explorar e entender os efeitos de várias intervenções que influenciam o clima, incluindo o uso de carvão, energia nuclear, eólica e solar, aumentando o número de veículos elétricos (EVs), o plantio de árvores, e assim por diante.
O En-ROADS examina os efeitos no aumento da temperatura que a implementação global desses vários parâmetros pode ter até o ano de 2100. Ele prevê que, se nada for feito até então, a temperatura do planeta aumentará cerca de 3,6°C. O uso global máximo de turbinas eólicas, painéis solares e outras fontes renováveis reduziria esse aumento em apenas 0,2°C até 2100. Incentivos máximos à transição para veículos elétricos globalmente produziriam uma redução semelhante. Para períodos mais curtos, como daqui a 30 anos, essas reduções, somadas, seriam inferiores a 0,05°C, ou seja, insignificantes. Isso vale um preço de mais de mil dólares para cada homem, mulher e criança nos Estados Unidos?
Por que a projeção mostra que as temperaturas aumentam mesmo se produzirmos menos dióxido de carbono? Porque ele é como um cobertor que impede que o calor da Terra escape para o espaço. Como o dióxido de carbono existente não se decompõe rapidamente, o aquecimento continuará enquanto mais dióxido de carbono estiver sendo produzido.
Um aspecto importante dessas previsões é que elas se baseiam na suposição de que todo o mundo se coloque no caminho do Ocidente e implemente políticas semelhantes – um cenário altamente improvável. Os “cinco grandes” emissores de CO2 são a China, os Estados Unidos, a Índia, a União Europeia e a Rússia. A produção de CO2 da China tem aumentado rapidamente e já é mais que o dobro da dos EUA. Isso não vai mudar tão cedo.
Da mesma forma, a Índia não sacrificará voluntariamente sua economia em rápido crescimento por alguns décimos de grau de redução de temperatura. Os EUA e a União Europeia já reduziram substancialmente sua produção de CO2, mas nem de longe o suficiente para compensar os aumentos na China e na Índia. E como a Rússia depende da venda de combustíveis fósseis e suas regiões mais frias são beneficiárias líquidas do aquecimento global, certamente não apoiará veículos renováveis e elétricos.
A realidade é que, como a quantidade de CO2 na atmosfera ainda está crescendo, os remédios para a mudança climática que estão sendo propostos não impedirão o aumento das temperaturas globais. Turbinas eólicas e veículos elétricos não reduzem o CO2 existente e não produzirão nenhuma diminuição significativa na taxa de aumento de temperatura, mesmo se implementados globalmente – e nenhuma sequer se implementados apenas pelos EUA, Europa e alguns outros países industrializados. É como tentar resgatar o Titanic com uma xícara de chá.
Mas tem mais. O confisco de recursos de americanos comuns necessários para satisfazer os tipos de remédios propostos pelas dezenas de autoridades americanas presentes na COP27 exerceria um efeito sobre a renda que se refletiria na correlação entre riqueza e saúde. Não é por acaso que as sociedades ou segmentos da população mais ricos apresentam taxas de mortalidade mais baixas do que as mais pobres. Isso é demonstrável em nível local: o Condado de Marin, na Califórnia, logo ao norte de São Francisco, ocupa o primeiro lugar tanto em saúde quanto em renda per capita, enquanto as partes mais pobres do estado, como Central Valley, têm uma pontuação baixa em medidas de saúde.
Privar as comunidades de riqueza por meio de impostos ou regulamentações oferece mais riscos à saúde, porque indivíduos mais ricos podem adquirir melhores cuidados de saúde, desfrutar de dietas mais nutritivas e levar uma vida geralmente menos estressante. A redução da riqueza cria efeitos adversos à saúde – por exemplo, uma maior incidência de problemas relacionados ao estresse, incluindo úlceras, hipertensão, ataque cardíaco, depressão e suicídio.
Embora seja difícil quantificar precisamente a relação entre mortalidade e renda reduzida, estudos acadêmicos estimam conservadoramente que cada 5 milhões a 10 milhões de dólares em custos regulatórios induzirão uma fatalidade adicional por meio desse efeito indireto de renda. Portanto, cada trilhão de dólares que o governo se apropria para programas governamentais ineficazes e inúteis equivale a 100 mil mortes adicionais. John D. Graham, czar dos regulamentos de George W. Bush, chamou essas mortes de “assassinato estatístico”.
No melhor cenário, gastar trilhões em turbinas eólicas, painéis solares e veículos elétricos não fará nenhuma diferença perceptível no aquecimento global enquanto vivermos. Um investimento muito melhor seria um esforço de pesquisa e desenvolvimento agressivo e altamente focado na captura e sequestro direto de CO2 e em engenharia climática. Essas medidas não exigem colaboração mundial, mas podem ser efetivamente implementadas pelos EUA e nossos aliados agindo sozinhos.
Todas as principais decisões políticas envolvem compensações. Fazer gastos maciços em iniciativas fúteis de mudança climática que poderiam ser usadas de maneiras mais construtivas, como a redução da pobreza global, equivale a uma falha no princípio mais básico da assistência médica: antes de tudo, não cause danos.
O desejo de “fazer algo, qualquer coisa” sobre o clima não se limita à juventude. Se os jovens simplesmente erram por ingenuidade, então os representantes dos EUA na COP27 são completos trouxas. A delegação dos EUA, desesperada por um acordo, não conseguiu atingir metas mais baixas de CO2, mas comprometeu os americanos a incontáveis bilhões de dólares em pagamentos aos países em desenvolvimento para ajudá-los a lidar com os efeitos da mudança climática por meio de um fundo de “perdas e danos”. Esses programas muitas vezes funcionam como caixa dois para os líderes corruptos do terceiro mundo enriquecerem e permanecerem no poder. E eles mostrarão sua gratidão ao contribuinte americano da maneira usual — alegando que os fundos são insuficientes e exigindo mais. Incrivelmente, a China e a Índia, respectivamente o primeiro e o terceiro maiores poluidores do mundo, estarão isentos de contribuir para esse fundo.
Quantos americanos serão vítimas de assassinato estatístico para que os representantes dos EUA na COP27 possam ganhar a admiração de seus pares e do lobby da mudança climática?
Henry I. Miller, médico e biólogo molecular, foi pesquisador associado do NIH e professor consultor do Instituto de Estudos Internacionais da Universidade de Stanford. Tom Hafer formou-se como engenheiro elétrico e desenvolveu sistemas para neutralizar foguetes e drones. Eles estudaram juntos no MIT.
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