R$ 5 bilhões é pouco. Gastos com blindados, caças, submarinos, somam R$ 84 bilhões

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Lúcio Vaz – Gazeta do Povo


Bolsonaro batiza caça Gripen no Rio de Janeiro| Foto: ISAC NOBREGA

Os R$ 5 bilhões destinados à compra de veículos blindados e vetados pela Justiça Federal na segunda-feira (5) são muito pouco perto do que foi gasto com equipamentos militares nos últimos 15 anos. Desde 2008 até hoje, as Forças Armadas gastaram R$ 84 bilhões com caças supersônicos, aviões cargueiros, submarinos e veículos blindados. Bolsonaro gastou R$ 23 bilhões bilhões, mas os governos petistas torraram R$ 40 bilhões. A Justiça e o Ministério Público parecem não ter percebido.

O maior investimento foi na construção e manutenção de submarinos – um total de R$ 37 milhões. Só a implantação de estaleiro e base naval custou R$ 16 bilhões. A construção de submarinos convencionais consumiu R$ 15,2 bilhões. O submarino de propulsão nuclear levou mais R$ 6,2 milhões. A aquisição de aeronaves de caça supersónicos Gripen custou R$ 12,3 bilhões. A implantação do Projeto Guarani, de forças blindadas, ficou em R$ 3,4 bilhões. Foram investidos mais R$ 4 bilhões na aquisição de aviões cargueiros táticos.

O desembargador Wilson Alves dos Santos, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) afirmou que “é evidente a falta de bom senso. A única guerra que se está a enfrentar nesse momento é travada contra a covid-19, que permanece e recrudesce, a exigir mais investimentos em lugares de cortes”. Em maio de 2021, o blog já havia alertado que, em plena pandemia, o governo Bolsonaro havia gasto R$ 6,6 bilhões com aeronaves caça, submarino nuclear, blindados, aviões cargueiros e artilharia antiaérea. O dinheiro dos armamentos militares teria sido suficiente para comprar R$ 125 milhões de doses de vacina.

Quem é o maior inimigo?
O levantamento dos gastos foi feito pela associação Contas Abertas, especializada em execução do Orçamento da União. Foram apurados os totais de execuções (pagamentos) em cada ano, desde 2008. Todos os valores foram atualizados pela inflação. O economista e fundador da associação, Gil Castello Branco, comentou a fartura nas aquisições dos militares: “Na discussão do orçamento, o Congresso Nacional, e os próprios militares, precisam entender que o nosso maior ‘inimigo’, que ‘mata’ o nosso desenvolvimento, é a inexistência de educação e saúde de qualidade para toda a população”.

Os dados levantados pelo Contas Abertas mostram o poder dos militares no governo Bolsonaro. Em 2021, por exemplo, as Forças Armadas tiveram previsão de R$ 7,5 bilhões para investimentos no Orçamento da União. Os pagamentos chegaram a R$ 7,4 bilhões – ou 98% do previsto. Mais do que recebeu o Ministério da Infraestrutura, que absorveu as obras de grande porte do extinto Ministério dos Transportes e executou R$ 7 bilhões. O Ministério do Desenvolvimento Regional, que toca obras como a Transposição do Rio São Francisco, executou R$ 6,6 bilhões – 54% da dotação aprovada.

Em ministérios de menor porte, a escassez foi ainda maior. O Ministério do Meio Ambiente contou com apenas R$ 147 milhões para investimentos em 2021. A execução ficou em R$ 59 milhões – 40% do total. Como mostrou reportagem do blog, o então ministro Ricardo Salles promoveu o desmonte da máquina de fiscalização e dos órgãos ambientais. A escassez atingiu também atividades rotineiras e despesas de custeio.

Grande parte dos armamentos e veículos pagos pela presidente Dilma Rousseff foi contratada no governo Lula. Ela executou R$ 32 bilhões em cinco anos e quatro meses de mandato. Os pagamentos chegaram a R$ 7,7 bilhões em 2014 – ano da sua reeleição. As obras no estaleiro para submarinos receberam R$ 2,5 bilhões naquele ano. O projeto de modernização da frota de aeronaves caça (FX-3) foi criado em 2006, no governo Lula. Em dezembro de 2013, o governo Dilma anunciou que o sueco Gripen havia vencido a concorrência, num pacote inicial de 36 aeronaves. Dilma investiu apenas R$ 1,2 milhão no FX-3. Mas o projeto não tem dono nem ideologia. Temer injetou R$ 5,2 bilhões; Bolsonaro, mais R$ 5 bilhões.

Dilma inaugurou a linha de montagem do cargueiro tático militar KC-390, em Gavião Peixoto (SP), em 2014. A Força Aérea Brasileira (FAB) assinou contrato para a aquisição de 28 aeronaves. No seu governo, Dilma investiu R$ 6,6 bilhões no projeto. Temer, mais R$ 1 bilhão. Bolsonaro, mais R$ 2,4 bilhões. No recebimento de um cargueiro, em Anápolis (GO), em setembro de 2019, Bolsonaro apontou supostas razões para a aquisição: “Os senhores sabem muito bem o que é a soberania. Se queremos a paz, nos preparemos para a guerra”.


Defesa justifica gastos

O Ministério da Defesa afirmou, em nota enviada ao blog, que “os recursos orçamentários empregados em Defesa não são gastos, mas sim investimentos, em especial em projetos estratégicos, fator relevante para o desenvolvimento e o progresso do Estado brasileiro. Esses investimentos são necessários para garantir a manutenção da soberania nacional e advém de contratos de longo prazo, que também sofrem com cortes, contingenciamentos e bloqueios orçamentários”.

Segundo a Defesa, esses projetos são responsáveis pela geração de mais de 1 milhão de empregos diretos e indiretos. “Além disso, essas iniciativas e contratos contribuem significativamente para o giro da economia nacional, conforme apontam estudos da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE), cada R$ 1,00 investido no setor de defesa, provoca o giro na economia interna de R$ 3,66, bem acima de outros setores da economia”.


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