Resta saber se Haddad usará do seu poder de articulação apenas para fazer passar um projeto intervencionista do PT ou fazer o que tem de ser feito para desamarrar a economia
Por Celso Ming – Jornal Estadão
Eis que o bacharel em Direito, mestre em Economia e doutor em Filosofia Fernando Haddad foi finalmente sacramentado ministro da Fazenda do novo governo Lula. O que se pode esperar dele?
O presidente eleito já avisara que nomearia um político, e não, como é habitual, um profissional da Economia. Aconteceu outras vezes. Fernando Henrique Cardoso, na qual se consagrou por ter lançado o bem-sucedido Plano Real, é sociólogo; Antonio Palocci, médico; e Henrique Meirelles, engenheiro. Na República Velha, o ministro da Fazenda do governo Marechal Deodoro foi o jurista Ruy Barbosa.
Mas os tempos são outros e Haddad não é FHC. As encrencas à frente, se mal resolvidas, poderão demolir qualquer reputação que um administrador público possa pretender.
Haddad é de boa conversa e tem jeito para enfrentar conflitos. O que se deve perguntar é se usará esse jogo de cintura apenas para fazer passar um projeto intervencionista do Partido dos Trabalhadores (PT) ou se o usará para fazer o que tem de ser feito para desamarrar a economia.
Logo de cara, terá de conquistar a confiança dos agentes mais diretamente envolvidos com as coisas da economia. E isso passa, logo nos primeiros dias, pela maneira como tentará equacionar o enorme e ainda não bem dimensionado rombo fiscal. Por aí se verá o quanto a administração Lula será fiscalmente responsável, como vem prometendo e como dela se espera.
Vistas as coisas com os olhos de pássaro em sobrevoo, Haddad terá de conduzir as contas públicas na contramão da atuação do Banco Central. Enquanto o Tesouro está sendo empurrado para despejar dinheiro de helicóptero, o Banco Central será obrigado a usar rodo e pano de chão de sua política de juros para retirá-lo dos mercados. Se for bem-sucedido, estará puxando os juros para cima. O principal efeito disso poderá ser mais puxada nos freios da economia.
A acreditar nas reiteradas declarações do novo presidente e do próprio Haddad, uma das prioridades será conduzir a reforma tributária. Pela retórica esforçada, trata-se de produzir uma arrumação do sistema tributário de modo a dar-lhe um mínimo de racionalidade. Na prática, todos sabem que a verdadeira intenção é aumentar a carga de impostos, estopim mais do que conhecido de revoltas ao longo da História, série de que não ficou de fora nossa Inconfidência Mineira. Logo veremos se o governo PT não tentará exumar a nefasta CPMF, o extinto imposto do cheque, com a mesma conversa de que será uma taxa módica – que logo adiante será automaticamente elevada – destinada a dar mais um instrumento antissonegação para a Receita Federal.
Uma das preocupações do presidente Lula será a de fazer seu sucessor, tendo Haddad como candidato a ser preparado para isso. No entanto, ao fim de quatro anos, a condução dos negócios da economia poderá acarretar tanta impopularidade que esse projeto de sagrar um novo condutor carrega o risco de dar errado.