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Alexandre Garcia – Gazeta do Povo
Vista aérea da Esplanada dos Ministérios, em Brasilia| Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senad
O presidente eleito está tendo problemas para indicar ministros. Isso acontece porque há uma reclamação – ambição, desejo de poder – dos partidos que o apoiaram. E o PT está se sentindo prejudicado ante o avanço dos outros partidos. O presidente Lula não pode perder apoio, não é? No Congresso que foi eleito, a Câmara eleita no início de outubro, no primeiro turno, e também no Senado, tem muita gente nova que vai ser oposição à Lula, então ele tem que contar com os partidos que o apoiaram, tem que atender a todos. Isso está complicado. Eles admitem que é uma dor de cabeça.
A outra dor de cabeça é a PEC da gastança, que achavam que ia ser votada hoje, mas hoje só saiu o relator, e aí fica para semana que vem, que são os últimos dias antes do recesso parlamentar. Também está complicado.
Randolfe
Queria mencionar, mais uma vez – eu não sei como é que essas coisas acontecem, já que está totalmente fora do devido processo legal – o senador Randolfe Rodrigues passa por cima do Ministério Público. Está lá nos artigos 127 e 129 da Constituição, é o Ministério Público quem oferece denúncia, mas o senador vai direto oferecer denúncia para o ministro Alexandre de Moraes. Agora denunciou Michele Bolsonaro, porque ela levou quentinha para os manifestantes que estavam diante do Palácio Alvorada e ele está dizendo que isso é financiar atos anti-antidemocráticos. Imaginem só.
Não, não cabe sequer um comentário.
Agora o que é estranho, mas muito estranho mesmo, e que escandalizou muita gente, inclusive entre órgãos que apoiaram e fizeram campanha para Lula, é o que comentaristas disseram sobre o que aconteceu no dia da diplomação. Todos saíram para festejar numa roda de samba, na maior confraternização, na casa do advogado do PT, o Kakay. Lá estavam além de Lula, o presidente da Justiça Eleitoral, que presidiu a eleição, mais Gilmar Mendes, mais Lewandowski, que é ministro também do TSE.
Se a gente contar isso para um alemão, para um americano, vão dizer que é impossível que um juiz do Supremo vá confraternizar com um advogado de um partido político que deve ter causas no Supremo ou vai ter. Mas enfim, com tudo que a gente já viu de declaração de ministro do Supremo, isso não surpreende mais. Agora se eu conversasse, numa sessão espírita com o George Orwell, ele diria que previu tudo isso no final do seu livro Revolução dos Bichos.
Fogo em Brasília
Eu queria também registrar uma coisa muito estranha. Depois da prisão do índio, teve essa queima de carros, de veículos, de ônibus, e que foi atribuída imediatamente à bolsonaristas. Só que tocaram fogo até na pickup de um bolsonarista, que estava com a bandeira nacional estampada no para-brisa traseiro.
Eu nunca vi bolsonarista usando balaclava, aquele capuz preto, nem usando a tiradeira em manifestação ou usando coquetel molotov, batendo em alguém que estava entusiasmado, pensando que era a reação contra Moraes, e acabou levando um safanão porque estava filmando a cara das pessoas. Tudo muito estranho, e que precisa ser esclarecido. Inclusive, para satisfazer a curiosidade de quem não é ingênuo – o jornalismo não pode ser ingênuo – não se pode aceitar uma versão sem contestar, sem receber em dúvida, em ceticismo. Caso contrário, a gente está tomando partido.
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