Polícia Federal
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Gazeta do Povo
Delegado da PF Andrei Augusto Rodrigues foi secretário extraordinário de Segurança para Grandes Eventos no governo Dilma.| Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
O delegado Andrei Rodrigues vai assumir o comando da Polícia Federal a partir de 2023. O nome foi anunciado informalmente na sexta-feira passada (9) pelo futuro ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino. Delegado da PF há 20 anos, Rodrigues é o atual responsável por coordenar a equipe de segurança de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do início da campanha eleitoral até a posse do novo presidente, em 1º de janeiro. Ao longo das eleições, o policial federal acabou ganhando a confiança de Lula.
Foi a equipe de Rodrigues, por exemplo, que deu voz de prisão a um homem que se aproximou e xingou o então candidato de “ladrão, safado e sem vergonha” durante a passagem de Lula por Montes Claros (MG), em setembro. Também foi o delegado o autor de um pedido de prisão contra um empresário que, em novembro, convocou caçadores, atiradores e colecionadores de arma de fogo a protestarem, em Brasília, contra a eleição de Lula – Milton Baldin acabou sendo preso pela PF, após ordem do ministro Alexandre de Moraes, em 6 de dezembro. Nenhum episódio de violência contra Lula ocorreu.
Mas a relação com o PT não vem de agora. Ele também coordenou a equipe de segurança da ex-presidente Dilma Rousseff durante a eleição de 2010. Como é gaúcho, na época especulou-se que a indicação para a função teria vindo do ex-governador Tarso Genro (PT), mas em entrevista ao jornal Zero Hora, alguns anos depois, ele negou ter vinculação política. Contudo, em 2010, era um dos cotados para assumir o comando geral da Polícia Federal, mas acabou sendo superado pelo delegado Leandro Daiello.
Rodrigues também comandou a segurança da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas do Rio, em 2016, ao assumir a Secretaria Extraordinária de Segurança para Grandes Eventos, extinta em 2017. Foi indicado ao cargo em 2013, pelo então ministro da Justiça José Eduardo Cardozo.
Formado em Direito pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) e mestre em Alta Gestão de Segurança Pública Internacional, o delegado também já foi oficial de ligação da Polícia Federal em Madrid/Espanha, coordenador-geral de Repressão a Crimes Fazendários da PF, chefe da unidade de Gestão Estratégica da Diretoria de Tecnologia e Inovação da PF.
Quando era delegado no Rio Grande do Sul, em 2007, comandou a investigação de um caso que ficou conhecido como “Fraude dos Selos”, um esquema de desvio de cerca de R$ 2 milhões em verbas para compra de selos na Assembleia Legislativa gaúcha. Também já foi chefe da Delegacia de Repressão a Entorpecentes em Manaus, no Amazonas.
Sobre corrupção, Andrei Rodrigues declarou em 2018, durante um evento, que este é “um problema sistêmico e a Polícia Federal é o órgão que tem enfrentado isso muito fortemente”.
Mais recentemente, em abril de 2020, ele escreveu um artigo para o site Congresso em Foco, criticando a ausência da previsão do risco de uma pandemia na estratégia nacional de segurança do Brasil e “uma notória descoordenação” entre as gestões da União, estados e municípios para lidar com a crise. A área de segurança “segue fragmentada e com atuação limitada aos comandos de cada estado, sem uma estratégia nacional estabelecida capaz de gerenciar tamanha crise”, escreveu.
Como repercutiu a escolha de Andrei Rodrigues para chefiar a PF
A repercussão da indicação de Andrei Rodrigues para a direção-geral da PF, até agora, tem sido positiva entre a categoria. A Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) e a Federação Nacional dos Delegados da PF (Fenadepol) emitiram uma nota conjunta parabenizando a indicação de Rodrigues e a nomeação de Dino como ministro. “Ambos têm trajetórias públicas de muito êxito e profissionalismo”, escreveram.
“Os delegados federais desejam aos futuros ministro e diretor-geral uma gestão eficiente e pautada nos bons princípios da administração pública, desejando, como se espera, que a PF tenha sempre um tratamento de Polícia de Estado, com estabilidade para seu melhor desempenho e valorização constante do seu efetivo”.
Da mesma forma, a Associação de Peritos Criminais Federais (APCF) parabenizou ambos e disse que eles “possuem as qualidades necessárias para exercer as funções”. Na nota, o presidente da APCF, Marcos Camargo, desejou sucesso à nova gestão, salientando também que “se manterá firme na defesa de uma Polícia Federal independente, íntegra, republicana e de Estado”.
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Outra associação que demonstrou apoio à escolha foi a Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), que congrega 27 sindicatos estaduais da categoria. Além de cumprimentar e desejar sucesso a Rodrigues, o presidente da entidade, Marcus Firme dos Reis, salientou como medida urgente na nova gestão a construção de uma lei “que valorize todos os cargos da carreira policial federal”.
Recentemente, Reis participou de uma reunião do grupo técnico da Segurança Pública do governo de transição em que tratou como urgente a “defasagem salarial” dos agentes, escrivães e papiloscopistas da PF e a revisão de “direitos perdidos” pelos policiais federais na reforma da Previdência. “Tudo isso precisa ser enfrentado e revisto pelo próximo governo e a Federação precisa ser ouvida e participar das discussões”.
Mas há também divergências em relação à indicação. A Polícia Federal não é uma instituição homogênea a possui alas divergentes, com servidores pró-Lava Jato e favoráveis ao presidente Jair Bolsonaro, como é o caso do grupo liderado pelo atual diretor-geral da PF, Márcio Nunes de Oliveira. Este, inclusive, já havia iniciado, antes das eleições, uma articulação interna para manter-se no cargo caso Bolsonaro fosse reeleito.
O que Lula e Dino esperam da PF
Ao anunciar o senador eleito Flávio Dino para o Ministério da Justiça e Segurança Pública, Lula disse que ele terá a missão de “consertar o funcionamento da Polícia Federal”. “Queremos que carreira de estado seja carreira de estado. Nós não queremos que policiais fiquem dando shows nas investigações antes de investigar. Queremos que primeiro trate com seriedade as investigações. Nós sabemos quanta gente se meteu na política de forma desnecessária”, disse o presidente eleito, em uma crítica velada a agentes e delegados da PF que participaram da Lava Jato.
Dino, por sua vez, indicou que Rodrigues foi escolhido principalmente pela “necessidade de restauração da plena autoridade e da legalidade nas polícias”, além de ter experiência. O futuro ministro da Justiça ressaltou a atuação dele como delegado na região amazônica, “uma área estratégica para esse governo e, portanto, para segurança pública”, e como secretário de grandes eventos, uma posição que deu a Rodrigues experiência para dialogar com estados e municípios.
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