Entrevista – Candidato a presidente do Senado
Diz que é preciso restabelecer a normalidade democrática

Por
Rodolfo Costa
Brasília

O secretário especial de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho, fala no Seminário “A Nova Economia Liberal”, na Fundação Getúlio Vargas (FGV), zona sul do Rio de Janeiro.


O senador eleito Rogério Marinho (PL-RN), candidato a presidente do Senado.| Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

O senador eleito Rogério Marinho (PL-RN) foi escolhido por seu partido para disputar a presidência do Senado, em eleição que vai ocorrer em fevereiro. Em entrevista à Gazeta do Povo, ele promete comandar a Casa com independência e diálogo com a Câmara dos Deputados, o futuro governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o Supremo Tribunal Federal (STF). Marinho também comenta sobre a possibilidade de o Senado fiscalizar de forma mais incisiva o STF – uma atribuição dos senadores – e sobre a futura oposição a Lula.

Marinho considera que o atual presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que deve ser candidato à reeleição, conduziu uma gestão omissa e complacente em relação a excessos cometidos por ministros do STF, a exemplo do inquérito das fake news e de decisões que atentaram contra a liberdade de expressão. “Nós somos candidatos a favor da liberdade de expressão, da liberdade de opinião, do restabelecimento da normalidade democrática”, afirma Marinho.

Na entrevista, o senador eleito manifesta o desejo de buscar um diálogo com o STF. Mas alerta para os “instrumentos” constitucionais e para “medidas subsequentes” caso o diálogo não prospere, e promete não abrir mão da “altivez necessária”, inclusive na relação com o governo eleito.

“Nós vamos perseguir o diálogo, a negociação, a conversa, a transigência como uma ação precípua. Essa é a espinha dorsal de nossa atuação”, diz Marinho. “Isso sem abrir mão da altivez necessária que o Parlamento precisa ter, uma vez que representa a vontade popular e a sua missão originária está amparada na Constituição, que é a de fiscalizar o poder Executivo na aplicação de recursos públicos e legislar, levando em consideração os anseios da sociedade”, afirma.

Marinho promete ainda retomar a “qualidade” do trabalho legislativo do Senado e o respeito à proporcionalidade partidária na distribuição de espaços da Casa.

Leia abaixo entrevista com o senador eleito Rogério Marinho:

Por que se candidatar à presidência do Senado? Qual é a plataforma política que o senhor apresenta?

Rogério Marinho: A presidência do Senado tem um impacto direto na agenda que será implementada no país nos próximos dois anos, uma vez que, quem ganhar a presidência, vai presidir o Congresso Nacional. E [o presidente do Senado] é o terceiro na linha de sucessão [do presidente da República] e tem uma responsabilidade enorme no equilíbrio do pacto constitucional e no restabelecimento da importância do Senado da República que, ao longo dos últimos anos, se deteriorou.

Nós somos candidatos a favor da Constituição brasileira. Não somos candidatos contra ninguém ou contra qualquer instituição. Nós somos candidatos a favor da preservação da inviolabilidade do mandato dos parlamentares, que está em risco. Nós somos candidatos a favor da liberdade de expressão, da liberdade de opinião, do restabelecimento da normalidade democrática.

Vivemos um período de exceção que se inicia em março de 2019, por ocasião do estabelecimento do inquérito das fake news [pelo STF]. O inquérito vai na contramão do ordenamento jurídico do nosso país, porque retira a condição de inerte que a Justiça precisa necessariamente ter e permite que uma única pessoa, um único juiz, possa tomar medidas fora do espectro legal de forma monocrática, e muitas vezes, eu diria, com certa criatividade judicial. Essas medidas estão, claramente, desequilibrando o jogo democrático no nosso país.

Nós acreditamos que o restabelecimento dessa normalidade passa, necessariamente, pelo arquivamento desse inquérito – que, na nossa opinião, está se revelando excessivo e atentando contra a liberdade de opinião, a liberdade de imprensa, a liberdade de manifestação de uma parte expressiva da população brasileira.

Nós somos candidatos porque acreditamos que é necessário que o Senado da República paute os grandes temas nacionais de uma forma propositiva e que seja o protagonista das grandes decisões necessárias para permitir, por um lado, que o país não retroceda, tanto econômica, quanto socialmente; e, por outro lado, permita que, de uma forma livre, os parlamentares possam se manifestar dentro do âmbito do Parlamento brasileiro levando em consideração as suas investiduras respeitáveis que lhe foram conferidas por ocasião das eleições de 2018 e de 2022.

Temos a exata noção da nossa responsabilidade. Nós não pretendemos, nem queremos fazer enfrentamentos. O que nós queremos, como presidente de um poder, é fazer com que, de fato, a separação entre os poderes e a ação de cada um deles possa ser preservada de tal forma que a nossa democracia continue vigorosa e plena, em benefício do conjunto da sociedade.

O senhor fala ser possível manter a independência entre poderes sem enfrentamentos. O senhor entende que é possível fiscalizar o Supremo Tribunal Federal sem enfrentamentos?

Rogério Marinho: Eu acredito que, a partir de 1º de fevereiro de 2023, com a posse do novo Senado, com a eleição do novo presidente [da Casa], o primeiro passo é o diálogo. Nós temos o dever de buscar os outros poderes, a Câmara dos Deputados, o Executivo, o Judiciário, para definirmos procedimentos e realinhamentos necessários para que cada um dos poderes possa exercer, de forma soberana e livre, a sua função. Eu acho que essa é a primeira medida. As medidas subsequentes só se darão caso o diálogo não funcione.

Mas nós vamos perseguir o diálogo, a negociação, a conversa, a transigência como uma ação precípua. Essa é a espinha dorsal de nossa atuação. Isso sem abrir mão da altivez necessária que o Parlamento precisa ter, uma vez que representa a vontade popular e a sua missão originária está amparada na Constituição, que é a de fiscalizar o poder Executivo na aplicação de recursos públicos e legislar, levando em consideração os anseios da sociedade.

Uma CPI para investigar abuso de autoridade [da parte de ministros do STF] poderia vir a prosperar dentro das medidas subsequentes as quais o senhor se refere, caso o diálogo não prospere?

Rogério Marinho: Eu acredito que o diálogo vai ser definidor dessas situações subsequentes. Então, eu prefiro não fazer especulações para não ser mal interpretado. Agora, é evidente que o poder Legislativo tem os instrumentos previstos na Constituição Federal que poderão ser ou não utilizados. Então, para nós, o importante é que o diálogo de fato aconteça. E o que hoje ocorre é que uma série de atribuições do Senado da República vem sendo ultrapassada e nós estamos assistindo a complacência da atual Mesa Diretora.

A presidência do Senado não pode continuar inerte, por exemplo, quando dez parlamentares, deputados e até senadores, como é o caso do [senador Jorge] Kajuru, tiveram as suas redes sociais amordaçadas por crime de opinião. Existe na legislação instrumentos que corrigem esses excessos – a injúria, a difamação, a calúnia, e até o conselho de ética de cada uma das duas Casas legislativas.

Me causa desconforto – e acredito que para a grande maioria dos parlamentares – a inércia da presidência do Senado da República, que não tem tomado a providência de, pelo menos, procurar o Judiciário no sentido de coibir esses abusos. Nós entendemos que é necessário que haja o livre exercício da função parlamentar. Isso é uma condição sine qua non [indispensável] da democracia vigorosa, plena e amadurecida que o Brasil tem.

Quando o senhor fala de instrumentos que o Senado eventualmente pode adotar contra excessos de ministros do STF estaria, por exemplo, a abertura do processo de impeachment de um magistrado pelo Senado? O Senado é a Casa competente para isso. Seria a última medida?

Rogério Marinho: Especular sobre situações que estão contidas na Constituição podem gerar uma interpretação de beligerância ou de conflito, que não é o nosso intuito. Eu acho que fui muito claro nas respostas às perguntas anteriores, de que forma nós pretendemos nos comportar: com altivez, com responsabilidade, com discernimento, buscando sempre o diálogo, a negociação, mas defendendo de forma intransigente a inviolabilidade dos mandatos parlamentares, o direito à sua manifestação, à sua crítica e, sobretudo, à nossa condição precípua de sermos legisladores, como preceitua a nossa Constituição.

Sobre esse tema do Judiciário e das medidas de exceção, o que o senhor acha de algumas dessas decisões tomadas pela Justiça? Entende que tem havido excessos de ministros da Suprema Corte e do Tribunal Superior Eleitoral?

Rogério Marinho: O que eu acho é que o próprio processo em si é questionável, é isso que nós estamos colocando em xeque. É uma medida de exceção e, como toda medida de exceção, deveria, caso ela tivesse consistência, ser circunscrita a um determinado período de tempo, e não se prorrogar indefinidamente com uma ação inquisitorial e persecutória em que o Estado de Direito claramente está sendo excepcionalizado.

Esse inquérito [das fake news] é a síntese de tudo o que está acontecendo no país nos últimos quatro anos, quando um espectro político está sendo claramente demonizado e há, me parece, uma ação seletiva. Esse é o meu entendimento, e acredito que, para restabelecermos a normalidade democrática, é necessário que haja o arquivamento urgente desse inquérito.

Como está sendo o início de sua candidatura à presidência do Senado? Já tem conduzido suas articulações, conversado com senadores e pedido votos?

Rogério Marinho: O Senado da República é uma instituição extremamente importante para a democracia brasileira. Aqui está representado o conjunto dos estados da nossa federação. Cada estado tem um igual número de representantes, e esse equilíbrio expressa a nossa união nacional. É uma Casa que, ao mesmo tempo, propõe leis e revisa as leis oriundas da Câmara Federal. É o centro, o cerne, o coração, a espinha dorsal da nossa democracia.

E nós entendemos que, ao longo dos últimos anos, por exemplo, a qualidade do trabalho parlamentar caiu muito, em prejuízo da sociedade brasileira. Por exemplo: no ano de 2022, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) se reuniu, me parece, cinco ou seis vezes. E é a comissão que deve dar constitucionalidade dos projetos que são apresentados para que as demais comissões possam trabalhar.

Isso significa que, na hora em que há a necessidade de aprovação de projetos, pela sua relevância ou pela sua urgência, ou pela conveniência das mesas diretoras das Casas, os projetos são avocados para o plenário e os pareceres são dados nas coxas, o que faz com que os projetos não tenham a maturidade necessária. Não são debatidos, não são escrutinados, não passam por audiências públicas, e isso dificulta a qualidade do trabalho parlamentar.

Então, nós acreditamos que essa é uma ação que temos que combater. O Parlamento tem que funcionar na sua plenitude. Nós, por exemplo, não seremos um presidente que vai obstaculizar, que vai impedir a tramitação de projetos, mesmo projetos oriundos do Executivo que nós, claramente, seremos de oposição – no caso do Lula, do PT.

A nossa missão vai dar condições para que a Casa funcione. E que as decisões sejam colegiadas. Aqui é uma Casa de pares. Os relatórios precisam ser repartidos com o conjunto dos parlamentares em função das suas especificidades e da capacidade e do interesse de cada senador. Nós precisamos respeitar a proporcionalidade dos partidos, que foi quebrada há algum tempo aqui nas disputas desta Casa. Então, se nós queremos respeitar e fortalecer os partidos, é necessário também que nós respeitemos a proporcionalidade das bancadas, a composição das comissões permanentes e a composição da Mesa. Essa é uma Casa necessariamente plural.

Passado o processo eleitoral, nós vamos conviver. São 81 senadores. Nós não podemos tratar os nossos adversários políticos como inimigos para a vida inteira. É respeitável que cada um de nós tenha uma posição e visão política. O que não é interessante e não contribui para a democracia é nós encararmos determinado grupo de parlamentares pela sua opção ideológica e política como inimigos a serem abatidos ou exterminados.

A democracia pressupõe o contraditório, o debate, a exposição de ideias. E é dessa forma que queremos nos comportar como presidente, como árbitro, como alguém que vai mediar as disputas e vai permitir que a Casa, de fato, funcione. Nós não temos a pretensão de governarmos a Casa de uma forma ditatorial, de cima para baixo, mas ouvindo a sociedade brasileira, interpretando seus anseios e permitindo que o debate, de fato, se estabeleça, e que o Legislativo atue em benefício do Brasil como um todo.

É evidente que eu tenho, como cidadão e como agente político, como parlamentar, as minhas predileções, as minhas preferências, a minha visão de mundo, que vai ser exercitada no momento oportuno, no momento adequado. Mas não é possível determinadas manifestações que tolham o processo democrático.

Qual é a importância da sua candidatura e a responsabilidade que o senhor planeja assumir com o país?

Rogério Marinho: Uma coisa para mim muito importante é a questão econômica. Nós tivemos uma série de mudanças importantes a partir de 2016 que estão sob risco agora [com o futuro governo Lula]. Essa combinação de descontrole fiscal e de aparelhamento das estatais e dos bancos públicos é um filme que nós já assistimos nos últimos governos do PT. E o resultado está aí para quem quiser consultar as páginas do Google, da internet e dos jornais daquela época: aparelhamento, corrupção, inflação, descontrole econômico. Claramente, o governo que está chegando traz esses cenários. 

Muda a Lei das Estatais para permitir que haja o aparelhamento da máquina pública; retira o perfil técnico que foi estabelecido nos últimos anos. Em 2015, último ano completo do governo do PT, nós tivemos um prejuízo de R$ 32 bilhões com as estatais brasileiras. Agora, em 2021, tivemos um número de R$ 187 bilhões [de lucro nas estatais]. São fatos que demonstram claramente o acerto da política de profissionalizar a gestão que está sendo posta por terra antes mesmo do PT assumir o governo. Isso é muito preocupante.

A PEC que está sendo discutida na Câmara Federal [que autoriza o estouro do teto de gastos], se o governo do PT tiver êxito, será uma vitória política e um desastre econômico em detrimento da sociedade brasileira. Descontrole cambial, aumento da inflação, de juros futuros, afastamento de investidores, diminuição dos ratings do Brasil. Se, ao contrário, eles tiverem uma derrota política, vão ter uma sobrevida do ponto de vista econômico, o que é paradoxal. Então, nós temos uma responsabilidade como parlamentar de defendermos um legado que é importante para o Brasil.

Veja, por exemplo, depois de mais de uma dezena de anos, nós estamos tendo superávit nas três esferas de governo. E o PT já está apregoando que está chegando em um momento de terra arrasada. É mentira. Aliás, é um método que o PT tem de tentar demonizar os seus adversários e estabelecer narrativas para vicejar no caos. Nós temos, hoje, uma relação dívida PIB que deve concluir este ano em menos de 74%. São níveis pré-pandêmicos – mesmo com mais de R$ 700 bilhões investidos por ocasião da pandemia, que era o importante para permitir que não houvesse uma catástrofe econômica.

O Brasil teve uma queda de pouco mais de 4% do seu PIB em 2020, mas cresceu mais de 5% em 2021. E deve crescer 3% em 2022. Nós estamos tendo aí uma recuperação do mercado de trabalho que, mês a mês, mostra números sólidos, vigorosos, porque nós mexemos nas condições estruturais da economia brasileira. Cinco novos marcos regulatórios foram votados: [navegação de] cabotagem, gás, ferrovias, saneamento, startups. Nós fizemos a Lei da Liberdade Econômica. Nós demos autonomia ao Banco Central. E blindamos nossa política monetária para evitar outras maluquices, por exemplo, de se imprimir recursos sem lastro financeiro.

Nós estamos vendo, enfim, uma perspectiva de desmonte de um legado que não pertence a governos, de Temer, nem de Bolsonaro, mas ao Estado brasileiro. E isso é importante. Veja, por exemplo, o que dizem alguns dos integrantes do grupo de transição estabelecido pelo governo do PT, que anunciam a necessidade de revogação da reforma previdenciária e trabalhista, a regressão da privatização ou capitalização da Eletrobras, a paralisação para a capitalização dos Correios e de parte de empreendimentos da Petrobras que, por estratégia da empresa, se tornaram pouco práticos no seu portfólio de investimentos.

Nós temos mais de R$ 1 trilhão de recursos privados contratados no Brasil que vão permitir que, pelo menos no período dos próximos seis meses e dez meses, nós tenhamos ainda uma ação inercial de crescimento econômico. Mas o desmonte da estrutura do Estado brasileiro dos últimos seis anos não traz bons prenúncios. E é nossa responsabilidade no Senado da República e na Câmara dos Deputados restaurar a normalidade democrática e a capacidade que nós necessariamente devemos ter de empreendermos o debate e livremente expormos nossas ideias econômicas, sociais a respeito de costumes, e darmos o equilíbrio necessário ao país.

Porque, se eu sou o senador da República, eu fui votado majoritariamente no meu estado. O Congresso Nacional tem a investidura dada pela manifestação da população brasileira. Então, é evidente que nós temos, também, de trabalharmos de uma forma muito condizente com a expectativa que a população tem das nossas ações, de que forma vamos nos comportar nos exercícios de nossos mandatos para preservar e defender este legado que é tão importante para a sociedade, e que está sob risco e ataque em um governo do PT.

Além de descontrole fiscal, aparelhamento das estatais e desmonte de todos os legados que o senhor mencionou, quais são suas outras preocupações diante do governo do PT? E o que o senhor espera da oposição a Lula no Senado?

Rogério Marinho: Nós estamos assistindo, por exemplo, a declarações de membros importantes do governo que será constituído de que vão voltar a utilizar o BNDES, a Caixa Econômica, o Banco do Brasil para, inclusive, financiar governos estrangeiros, como foi feito nas administrações do PT com viés ideológico parecido com o do mandatário de ocasião. E nós sabemos o que isso ocasionou.

Nós levamos um calote extraordinário de Cuba, de Nicarágua, de Honduras, de todos os países, quase na sua totalidade, para os quais esses empréstimos foram concedidos. Grandes obras de infraestrutura foram feitas nesses países em detrimento do Brasil. Essa curva, quando se inverte, é graças à modernização do Estado brasileiro, [significa que] nós estamos colocando em risco tudo isso. Porque nós temos, hoje, recorde histórico nos últimos 10 anos, de investimento em relação ao PIB e mais de 90% desse investimento é privado.

Você vê a declaração da presidente de Honduras [a esquerdista Xiomara Castro], que vai voltar, que virá ao Brasil para pedir dinheiro, e de outros representantes de outros países da África, da América Central. E eu não sou contra que o BNDES faça, eventualmente, alguns financiamentos [externos], mas com outros critérios que não aqueles que foram estabelecidos em governos anteriores que geraram um prejuízo extraordinário para o conjunto da sociedade brasileira.

Nós vemos, por exemplo, a discussão sobre a questão ambiental, com a narrativa estabelecida pelos países que competem conosco, na Europa e nos próprios Estados Unidos. Nós somos uma economia vibrante e uma economia que é exemplo para o mundo todo na questão do agronegócio, mas esse segmento está passando a ser adversário do novo governo. O motor da nossa economia, de uma agricultura sustentável, tecnologicamente avançada, empreendedora, ambientalmente correta, passa a ser tratada como se fosse uma adversária do Brasil. Isso nos preocupa, porque uma série de mudanças na legislação ambiental, no Código Florestal, podem tirar a nossa competitividade, a nossa produtividade, a nossa condição de líder mundial na produção de alimentos, com tudo o que isso possa significar.

O aparelhamento da educação brasileira, da cultura, que sempre foi praticada em larga escala pelo Partido dos Trabalhadores em governos anteriores, pode voltar. É evidente que temos que estar vigilantes para que esses excessos, que eram tão comuns, não voltem a ser cometidos. E que nós tenhamos a possibilidade de, nos próximos anos, pelo menos mantermos as conquistas e os avanços que ocorreram nos seis anos passados.

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O senhor falou de estar vigilante, manter as conquistas e o legado. Como fazer isso? Como a oposição a Lula no Senado pode ser feita?

Rogério Marinho: Primeiro, é necessário ter coragem, convicção, buscar articulação com outros parlamentares, com outros partidos que entendem a necessidade de termos esse enfrentamento democrático. Isso é necessário. Nós representamos, hoje, seguramente, a metade da população brasileira. A direita no Brasil é uma realidade. É uma direita conservadora, mas liberal na economia. E não é uma direita extremista, como querem rotular aqueles que são nossos adversários. Mas é uma direita formada por pessoas que têm valores que dizem respeito à preservação da sua liberdade religiosa, à formação das suas famílias, à sua possibilidade da livre manifestação, ao direito de propriedade, ao empreendedorismo, ao livre mercado.

São valores que nos unem, e, evidentemente, que isso gera um toque de reunião. Nós temos um grande grupo de parlamentares que comungam desses princípios e que, certamente, estarão juntos na defesa do legado que falei anteriormente. E isso, evidentemente, dentro do processo democrático que vai se estabelecer no Legislativo brasileiro nos próximos anos.

Agora, nós temos números, nós temos ações, nós temos realizações, nós temos a possibilidade de compararmos e isso nos dá, diria, muita clareza a respeito do que nós vamos propor. E nos dá, também, muita tranquilidade em fazermos o debate porque, na comparação, nós fomos infinitamente melhores como gestores e como administradores da máquina pública do que nos governos petistas que nos antecederam e, certamente, o seremos por aqueles que nos sucederam.

Com o PL se posicionando na oposição, o senhor entende que isso pode causar algum impacto? Tira votos ou, pelo contrário, pode até ajudar em alguma composição pela sua candidatura a presidente do Senado?

Rogério Marinho: O Senado da República é formado por 81 parlamentares. Cada um dos parlamentares pertence a partidos políticos, evidentemente. Mas tem as suas convicções, tem os seus valores, as suas visões de Brasil. E não tenho dúvida que nossos pares vão entender a necessidade de termos um Parlamento independente, que possa necessariamente fazer esse contrapeso, esse processo natural de equilíbrio da democracia, tão necessário para nossa vitalidade como país e como nação.

Nós estamos procurando os parlamentares de diversos partidos, inclusive aqueles que estão dentro do espectro político do novo governo, porque entendemos que o respeito à Constituição é o que nos une a esses parlamentares que eventualmente votarem na nossa candidatura. É o respeito ao Parlamento brasileiro. É a necessidade de termos um Parlamento livre, altivo, que de fato cumpra o seu papel e que volte a ser respeitado pelo conjunto da sociedade brasileira.

Para você ter uma ideia, dos 27 senadores que se candidataram [nas eleições de 2022], cinco renovaram mandato [no Senado]. Um se elegeu governador [Jorginho Mello] e uma outra [se elegeu] vice-governadora [Mailza Gomes, pelo Acre]. Então, 20 não puderam ser candidatos ou foram derrotados. A sociedade brasileira já deu um recado que não está satisfeita com a maneira como o Senado se comportou nos últimos anos, principalmente pela omissão. Porque você peca por atos ou omissões. Eu diria que o pecado do Senado foi muito mais por omissão do que por sua ação.

O líder do governo no Senado, Carlos Portinho, calcula que o senhor já larga com, ao menos, 35 votos de senadores. Como chegar a ao menos os 41 votos e vencer a eleição [para a presidência do Senado]?

Rogério Marinho: Vamos passar os próximos dias e até o dia 1º de fevereiro [data da posse dos novos senadores e da eleição] conversando com nossos pares, percorrendo o Brasil e buscando contemplar a necessidade de protagonismo que cada parlamentar necessariamente precisa ter para colocar em prática as suas ideias, a sua atuação e representar os legítimos anseios dos seus eleitores dentro do Parlamento. Nós estamos muito animados, porque, em curto espaço de tempo, nós temos pouco mais de 30 parlamentares comprometidos com a nossa candidatura. E nós acreditamos que há um grupo grande de quase 20 parlamentares que não fizeram sua opção e sua escolha. Há um caminho a ser percorrido.

Nós sabemos que o atual presidente da Casa [Rodrigo Pacheco, PSD-MG] é candidato à reeleição e, naturalmente, tem o seu favoritismo. O governo do PT vai apoiá-lo. É a informação que nós temos. E não vão medir esforços [para vencer]. Nós sabemos como é o jogo.

Mas nós temos do nosso lado, acredito, o sentimento que permeia o Congresso Nacional, em especial o Senado, de que o Senado precisa ser de fato esse poder independente, altivo, que representa os estados brasileiros e que precisa voltar a cumprir o seu papel de mediador e de impulsionador da democracia brasileira. Isso está muito claro nas conversas que tenho tido com nossos pares, conversas sobre essa preocupação que os senadores têm com a falta de ressonância da Casa junto à sociedade brasileira. Existe até uma certa apreensão com a forma com que o Senado é hoje percebido por uma parte expressiva da população. E isso precisa mudar. E só vai mudar com uma nova perspectiva e uma nova abordagem, que é isso que queremos propor ao Senado da República.

A candidatura do senador Eduardo Girão (Podemos-CE) pode ser um obstáculo para a construção da composição da candidatura do senhor?

Rogério Marinho: O senador Eduardo Girão é um parlamentar digno, valoroso. Tem feito um bom trabalho nesses quatro primeiros anos. Tem a nossa admiração. E tem, legitimamente, o direito, como os demais 80 outros parlamentares, de votar e ser votado. Há um processo natural de discussão que antecede o dia 1º de fevereiro. E eu tenho defendido que o nosso campo precisa se aglutinar. A nossa união, certamente, favorece um sucesso eleitoral. Mas há um período aí, um espaço a ser percorrido. E, caso nós não tenhamos êxito no primeiro turno [da eleição a presidente do Senado], se houver a necessidade de um segundo turno, não tenho dúvidas que vamos convergir.


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