À imagem e semelhança do PTLula e PT não aprenderam nada. Não almejam um novo governo politicamente aberto e plural. Querem tudo para si, descumprindo sua promessa e ignorando necessidades do País

Por Notas & Informações – Jornal Estadão

AME1793. RÍO DE JANEIRO (BRASIL), 06/07/2022.- El expresidente y candidato a la Presidencia de Brasil Luiz Inácio Lula da Silva participa en una reunión con representantes de la Samba para participar en un debate sobre el sector cultural, hoy, en la cancha de la escuela de samba Unidos da Tijuca, en Río de Janeiro (Brasil). El dirigente de la izquierda brasileña Luiz Inácio Lula da Silva mantiene una distancia de 14 puntos porcentuales frente al presidente Jair Bolsonaro en una encuesta sobre intenciones de voto con vistas a los comicios del 2 de octubre divulgada este miércoles. EFE/ André Coelho

Depois de uma campanha eleitoral defendendo a necessidade de um governo formado por uma frente ampla e depois de um discurso da vitória no segundo turno afirmando que “esta não é uma vitória minha nem do PT”, é absolutamente decepcionante para o País verificar a composição dos Ministérios que vai sendo delineada pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Todos os postos decisivos estão a cargo do PT ou de gente que, por mais que esteja circunstancialmente em outra legenda, sempre teve e continua tendo a mesma visão do PT. Desenha-se, portanto, um governo radicalmente petista, justamente o contrário daquilo que foi repetidas vezes prometido.

A rigor, ninguém pode dizer que está surpreso com tal situação. O passado petista nunca possibilitou qualquer esperança de um governo do PT politicamente aberto e plural. Ao longo da história da legenda, observa-se uma firme constante: sempre consideraram que eles, apenas eles, têm as soluções para o País. Todo o restante do mundo político estaria equivocado. Não teria nada a acrescentar na discussão e no desenho das políticas públicas.

Daí se entende que a brutal e irracional oposição do PT ao governo de Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, não foi mera tática circunstancial. A legenda nunca foi capaz de enxergar nada de bom além de suas linhas. A partir daí entende-se também, por exemplo, o esquema do mensalão. Para o PT, os outros partidos, desprovidos de ideias e propostas, seriam apenas peças de manobra disponíveis para compra. E sendo apenas as suas “soluções” boas para o País, os petistas ainda consideram que esse sistema criminoso e antidemocrático de compra de apoio político estaria plenamente justificado.

Não há, portanto, nenhuma novidade na composição que vai se delineando para o terceiro governo de Lula. É o PT sendo o PT. De toda forma, diante das grandes necessidades do País neste momento, não deixa de ser frustrante – reiteradamente frustrante – constatar que Lula e seu partido não entenderam nada, não aprenderam nada, não mudaram nada.

Nessa composição ministerial dominada pelo PT, há um fato especialmente preocupante. Não é que Lula esteja “apenas” descumprindo a sua principal promessa de campanha, o que, por si só, é grave. No regime democrático, o eleitor merece mais respeito. A monocromia político-ideológica dos Ministérios expressa uma profunda incompreensão do atual País a ser governado e dos desafios que terá pela frente.

Formar um governo de frente ampla não é uma concessão política que Lula deveria fazer em razão das circunstâncias excepcionais da campanha eleitoral. Não é uma ação voltada para o passado. Uma real e efetiva frente ampla é requisito para que o novo governo possa ser minimamente bem-sucedido em suas duas tarefas fundamentais e complementares: promover desenvolvimento social e econômico e promover a pacificação nacional. Insistir no lulopetismo implantado entre 2003 e 2016 é fornecer todas as condições para a reprodução e o fortalecimento do bolsonarismo.

O reconhecimento da necessidade de uma frente ampla não significa tirar ou reduzir o poder de o presidente eleito formar seu governo tal como ele entende que deve ser formado. Nas urnas, o eleitor conferiu-lhe essa atribuição. Goste-se ou não, a partir de 1.º de janeiro de 2023 o presidente da República será Luiz Inácio Lula da Silva. E, respeitando os limites e requisitos legais, ele tem direito a indicar quem ele quiser. O ponto é outro. Seja quem for, um presidente da República não tem direito de ignorar as necessidades nacionais, de desconhecer a complexidade social, política e econômica do país, de achar que seu partido se basta. Numa palavra, um chefe de Estado e de governo não pode se dar ao luxo de ser irresponsável. O poder não é arbítrio. Foi exatamente isso o que fez Jair Bolsonaro – e que tantos males causou ao País.

O grande apelo do eleitor nas eleições de 2022 foi a defesa da democracia. Não cabe defraudá-lo. Democracia exige participação, o que inclui uma tarefa inédita para o PT: ceder poder.

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By valeon