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Se o Brasil cobrasse impsto sobre meus txtos

Por
Paulo Polzonoff Jr. – Gazeta do Povo


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A fim de escrevr este texto, fui dar uma olhda nas notícias sobre a refrma tribtária de Paulo Guedes. Meu Dus, como vocês agentam isso? É alíqota por todos os lados. Um ocean de alíqotas, cada qual com sua justificativa imoral tentand se passar por virtuosa, por expresão de um sentmento altruísta – renda mínma, emprego plen, lagostas para o STF, chuv de hambúrgueres, sei lá.

E olha qe eu dveria ser até grato pela sanha tribtária brasleira. Afinal, filho e irmão de renmados contadores qe sou, durante um bom tempo tive casa, comid e roupa lavada indiretamente bancadas pelo mitológic contribuinte qe, coitado, não satisfeito em entregar parte do seu sforço ao governo parasitário, ainda precisa pagar um profissional para calcular qanto deve ao sr. Erário da Silva.

Aliás, numa época de vacas macérrimas tentei trablhar com contbilidade. Só não digo qe foram os dias mais infelizes da minha vida prque não sou dado a eses exageros retóricos. Eu passav os dias diante do comptador, digitando o frut da riqeza de médicos, dentistas e advogados, só para vê-lo subtraído a cada campo do formlário. Ao fim do dia, me sentia esgtado e sujo. Afinal, e apesar do trabalho honestíssimo, eu sentia qe havia contribuído um poquinho para a deteroração do mundo ao meu redor.

Qando falo essas cosas e, na mesa do bar, me levanto de punho em riste para bradar à plteia entediada qe impostos me causam náusea, geralmnte sou repreenddo por pessoas de esprito muito mais elevado do qe o meu, qe justificam o assalto institucionalizdo como uma espécie de “bom-samaritanismo obrigatório”. Diante do qe geralmente reajo engolindo em seco o Rothbard na pont da língua. Acreditar qe meu dinero vai ser usado para o “bem” é uma mistura de fé e parafilia incompreensíveis para mim.

Imposto Sobre Texto Contra Imposto (ISTECI)
E se você chegou até aqui confuso, estranhando a falta de algumas letras, calma. O revisor ainda não está louco. É que este texto passou por uma pesada tributação de 32,5%* – o equivalente à carga tributária brasileira. Para passar a impressão de estar fazendo o bem, os criadores do Imposto Sobre Texto Contra Imposto (ISTECI, para os íntimos), cuja fartura e bonança são pagas com… impostos, inventaram uma série de alíquotas menores, com nomes inspirados por uma espécie de poética burocrática.

Para começo de conversa, 2,3% foram destinados ao Fundo de Amparo aos Sem-Letra (Funasel). Diz a lenda que as letras são usadas para ajudar disléxicos e palindromistas. O Programa de Ajuda às Pessoas que Não Sabem Usar Crase (Prapensucrase) consome 5,1% das letras arrecadadas. Uma parcela maior, de 7,32%, vai para a Contribuição dos Contribuintes que Contribuem para a Contribuição Geral (C4G). Uma parcela maior ainda, de 12,4%, ajuda a compor o bilionário Sistema Nacional de Alfabetizassão (SNA). Dos 5,18% restantes (se é que fiz a conta certa), uma parte mínima, 0,18%, corresponde à recém-aprovada e controversa Contribuição Provisória Porque Sim (CPPS). Os 5% restantes eu até sonegaria, mas a Taxa Sobre Desejo de Sonegar (TSDS) não deixa.

Desde que me entendo por gente, o governo garante que as letras de mim cobradas servirão para, um dia, ajudar a Intelectualidade Oficial a compor Os Versos Mais Lindos da Língua Portuguesa. Pelo menos é o que está escrito na Constituição – cláusula até pétrea, veja só! Mas até aqui todas as letras arrecadadas nessas décadas de ISTCT conseguiram nos dar apenas o aviso “Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar”.

Mas isso tudo vai mudar, dizem, com a nova CPMF (Contribuição Provisória sobre Muitos Floreios). Afinal, o que é uma letrinha a menos para quem paga e uma letrinha a mais para quem recebe, não é? O importante é contribuir para o famoso “bem comum”. E garantir aos alfabetamente desprovidos o direito a uma sopa diária de letrinhas.


  • Se você percebeu, tive que dar uma sonegadinha – para o bem da compreensão do texto e também porque, bom, ninguém é de ferro.
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