Donos da verdade
Por
Luís Ernesto Lacombe
| Foto: Neven Divkovic/Pixabay
É a gente mais fofa do mundo, mais amorosa, mais compreensiva, solidária e empática. É a gente mais espirituosa, divertida, mais bem-humorada. Um mais charmoso do que o outro, um mais inteligente do que o outro. Condutas irrepreensíveis sempre. São todos dignos, honestos, virtuosos. Detonam os canastrões, com toda a classe. São de primeira classe, são o suprassumo do suprassumo. É mesmo uma gente fofa, fofa, fofa.
Essa é a turma que conhece as emoções de verdade, os sentimentos genuínos, sinceros. São pessoinhas especiais, quase guias espirituais. Nossas emoções são direcionadas por elas, as sete emoções: alegria, tristeza, medo, nojo, surpresa, raiva e desprezo. Estamos autorizados a sentir as mesmas emoções que elas, exatamente as mesmas, na hora em que elas determinarem, com a intensidade e do jeitinho que elas permitirem.
Essa gente não erra, não comete equívocos, tem certeza de tudo, é certeira, precisa. Essa gente deve ser a única voz. Temos, todos nós, a obrigação de acreditar no mundo dos fofinhos
É uma gente linda construindo o mundo ideal, sem problemas. Gente moderna, revolucionária, apresentando soluções para tudo. O que tem importância para os fofinhos é o que tem importância. A causa é da galerinha descolada? É legítima, inquestionável. Não pode haver quem não pense como eles, não pode haver quem não goste deles.
Discutir com a turma é mais do que inútil, é um desrespeito, uma petulância. Presunçosos e vaidosos somos nós, rebeldes sem causa. Os protagonistas são eles. Vamos reconhecer. Eles têm os sorrisos mais lindos, as lágrimas mais sinceras, as melhores atuações, as melhores piadas, o mais incrível boa-noite. Tudo neles, até o deboche, é respeitoso e bem-intencionado.
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Essa é a turma da verdade, a dona dos fatos. Essa gente não erra, não comete equívocos, tem certeza de tudo, é certeira, precisa. Essa gente deve ser a única voz. Temos, todos nós, a obrigação de acreditar no mundo dos fofinhos. Eles são o bem, o caminho único e correto. O que dizem é tão lindo, tão perfeitinho. Vamos abandonar nossa arrogância, essa ideia louca de pensar, de sentir e falar livremente.
Eles têm o poder das estrelas, das superestrelas. São únicos, elevados, especiais, são tudo de bom. Usam figurino, maquiagem, brilham. São artistas, jornalistas, apresentadores de tevê, seres infalíveis e mágicos. Eles têm pó de pirlimpimpim… Luz, câmera, ação!
As fantasias deles não são fantasias. O mundo real é o que eles quiserem. São professores, mestres, doutores. Amam como ninguém, de múltiplas formas. Amam todo mundo, exceto quem eles decidiram que não merece ser amado. Amam, sobretudo, o ódio, mas o ódio deles é o mais engraçadinho e fofinho do mundo.
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