Entenda o caso
História por Edda Ribeiro • IstoE
A recém empossada ministra do Turismo, Daniela Carneiro (União Brasil), já esteve ao lado do ex-PM Juracy Alves Prudêncio, o Jura, miliciano na região da Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro. A informação veio à tona em menos de uma semana da gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e já teve repercussão entre ministérios: Flávio Dino, da pasta da Justiça, afirma que “é preciso ir com calma” sobre o caso; Lula, no entanto, ainda não se manifestou a respeito.
A recém empossada ministra do Turismo, Daniela Carneiro (União Brasil), já esteve em campanha com o ex-PM Juracy Alves Prudêncio, o Jura, miliciano do Rio de Janeiro Reprodução/Youtube Ministério do Turismo© Reprodução/Youtube Ministério do Turismo
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Uma imagem mostra Daniela do Waguinho, como é conhecida a ministra, ao lado de Jura em 2018 entregando santinhos de campanha política. O marido de Daniela, Wagner dos Santos Carneiro, o Waguinho, era prefeito de Belford Roxo, onde Jura conseguiu cargo de Diretor do Departamento de Ordem Urbana.
Ele já cumpria, desde então, pena de 26 anos de prisão – atualmente, em regime semiaberto – pelos crimes de associação criminosa e homicídio. Vale lembrar também que Jura foi citado pela CPI das Milícias, presidida pelo atual presidente da Embratur, Marcelo Freixo, que se filiou ao Partido dos Trabalhadores.
O ministro da Justiça, Flávio Dino, minimizou a situação da relação entre uma ministra do governo federal com um integrante de atividade criminosa. Vale lembrar que a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, é irmã de Marielle Franco, vereadora assassinada em 2018, crime ainda sem solução atribuído a milicianos.
“A bem da verdade, políticas e políticos do Brasil, principalmente em momentos eleitorais, e, hoje, nesses dias de celular, têm fotos com todo mundo. O fato de ter uma foto com A, B ou C não significa ter ligação com as atividades eventualmente ilegais dessas mesmas pessoas. Eu penso que é possível, que é necessário a própria imprensa esclarecer melhor isso. Mas, até aqui, pelo que eu vi pela sua pergunta, se é uma foto não dá para jogar por foto”, exemplificou o ministro Flávio Dino ao explicar o caso para a Folha de S. Paulo.
Para Carlos Pereira, cientista político da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o problema da permanência de Daniela do Waguinho na equipe ministerial é mais político do que criminal. “Se o governo Lula fizer ‘vista grossa’ para potenciais conexões da ministra com o crime organizado, passará a imagem de conivência com práticas que não combinam com o decoro da administração pública. Ou seja: o problema deixará de ser apenas da ministra e também passará a ser do próprio governo”, avalia.
Segundo Pereira, há a possibilidade de acusação contra Lula sobre improbidade administrativa, ato ilegal ou contrário aos princípios básicos da administração pública, previsto na Lei 14.230/21. “Potencialmente sim. Mas identifico muito mais uma perda política e reputacional para o novo governo do que um problema jurídico. Pelo menos no curto prazo”.
O especialista crê que a atitude possa partir da própria Daniela, assumindo a situação e se afastando do posto de ministra para que as investigações ocorram de forma independente e sem interferência. “A continuidade no posto gera suspeita e desconfiança não apenas das potenciais conexões da ministra com o crime organizado, mas da conivência do governo com tais práticas desviantes”, finaliza o especialista.
Para a Folha, a assessoria de Daniela explicou que o apoio político recebido pelo ex-PM não significa compactuar com eventuais crimes cometidos por ele. “Daniela Carneiro salienta que compete à justiça julgar quem comete possíveis crimes”, informou a assessoria da ex-deputada.