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Cenário de incertezas?
Por
João Zanocelo* – Gazeta do Povo


Com toda incerteza, é difícil não se perguntar o que temos que fazer agora.| Foto: Way Home Studio / Unsplash

Estamos passando por um momento de baixa no mercado de Venture Capital. Para aqueles que trabalham com VCs ou startups isso não é nenhuma novidade. Segundo o Inside Venture Capital, no primeiro trimestre de 2022 vimos uma queda de 13% na quantidade de rodadas quando comparado ao mesmo período de 2021.

Há alguns meses estive em um evento feito com alguns especialistas para falar um pouco sobre o que vem acontecendo no mercado. Nele, uma fala do Edoardo Freschet do Itaú BBA me chamou atenção. Segundo ele, existem três movimentos acontecendo simultaneamente. Quero destacar dois pra explicar o que estamos passando:

O primeiro é o técnico, uma vez que estamos vendo valuations sendo corrigidos para múltiplos normais. A alta de juros e inflação tornam os investimentos de renda fixa mais atrativos do que os de renda variável. Como a capacidade do VC está diretamente relacionada aos retornos das suas investidas na bolsa, se sente um efeito “trickle down” para startups menores também. O segundo é um movimento cíclico em resposta há anos de uma abundância de capital sem precedentes. Muitos são os casos de valuations exorbitantes em startups com pouco ou nenhum track record que justifique o valuation em milhões.

Com toda essa incerteza, é difícil não se perguntar o que temos que fazer agora. A primeira recomendação é entender o tamanho do buraco. O buraco sendo quanto tempo você tem pra sobreviver caso você mantenha seu nível de despesa, ou seja, o seu runway.

Com isso, vamos ao título do artigo: como continuar inovando quando existe tanta incerteza?

O primeiro passo é entender que o downturn impacta setores de forma diferente. A a16z recomenda que olhe para empresas de capital aberto no seu setor como benchmark, uma vez que o efeito sempre é sentido primeiro nas empresas da bolsa e depois ajustado para as privadas. Depois, o conselho é olhar pro seu burn multiple. Essa é uma métrica de eficiência financeira. Ele é calculado usando quanto que você queimou versus quanto trouxe de nova receita em um determinado período.

Até então estamos apenas diagnosticando a situação atual. Agora decisões estratégicas precisam ser tomadas. O nosso objetivo é: poder negociar um valuation saudável, alcançando objetivo de receita com base no múltiplo de mercado, e um runway acima de 12 meses ou infinito (breakeven).

Para isso, você precisa ser eficiente financeiramente. Ou seja, focar na coisa certa. Quais são as áreas que contribuem diretamente com atração ou retenção de receita na sua empresa? O conselho aqui é evidenciá-las. A pergunta então se torna o que fazer com as outras áreas que não contribuem diretamente com receita, e para isso, existem algumas opções.

A primeira é cortar áreas que não tem influência na receita. Os custos de rescisão e de recontratação estão escondidos aqui. Por isso, é importante tomar a decisão pensando se essas pessoas geram receita e/ou se têm capacidade técnica para contribuir de outra forma.

Há também a possibilidade de remanejar as pessoas. É o favorito pois é o menos disruptivo pro time e pode ser a solução mais rápida. Você já sabe que é pessoa manda bem e a pessoa já sabe bastante sobre a sua empresa.

Além disso, pensar em garantir um retorno mais rápido e maior. Aqui é onde as áreas de Produto e Tech na maioria das vezes estão. São o recurso mais caro das empresas e muitas vezes o investimento que se faz nessas áreas é de longo prazo. Além disso, seria interessante em alternativas menos custosas, como a contratação de terceiros para desenvolvimento do seu produto.

Também, é possível manter essas áreas como estão. Entendo que seja o mais descartável de todos, uma vez que as coisas não estão normais. Recomendo pensar no conselho 2, é ali que mora a inovação. É possível alguém de Legal ajudar em Sales acelerando negociações de contrato?

O cenário é bem crítico, mas a notícia boa é que grande parte do problema depende da gente resolver. Importante lembrar que as dinâmicas de mercado são cíclicas e que esses momentos difíceis também geram boas oportunidades de negócio.

*João Zanocelo, Head de Produto e co-fundador da BossaBox.
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