Um pouco sobre o egoísmo moral
Simone Demolinari
Kant, (Immanuel Kant 1724-1804) um filósofo prussiano, discorre, em sua abordagem, sobre o egoísmo. Para ele, existem três categorias de egoísmo: o lógico, o estético e o moral. Egoísmo lógico, de quem não acha necessário submeter seu juízo de valor ao juízo de valor alheio; egoísmo estético, de quem se satisfaz com seu próprio gosto, e egoísmo moral, cujo fim se restringe em si mesmo e não enxerga utilidade em nada nem em ninguém que não lhe traga proveito.
Aqui, iremos nos ater ao egoísmo moral, aquele fruto de um comportamento exclusivista, em que o indivíduo, comumente, coloca seus interesses, desejos e necessidades em detrimento dos demais. Nessas pessoas, o “eu” está permanentemente no centro do universo, por isso, o pensamento é sempre voltado para si. Com essa perspectiva, se sentem merecedores de privilégios, vantagens e atenção, mas são incapazes de operar na reciprocidade.
Além disso, são cegos emocionais, isso significa que a dor do outro não lhes causa comoção. Ao contrário, se irritam quando se deparam com a fragilidade alheia e com isso, tendem a desqualificá-la. Usam frases como: “Você está exagerando”, “O problema não é tão grave assim”, “Você é fraco demais”.
São péssimos acolhedores, mas ótimos moralistas. Por isso, passam a impressão de que são bem resolvidos, fortes, seguros e com muito amor próprio. Mas isso não é verdade. Egoístas são pessoas fracas, inseguras, ansiosas e, embora não pareça, com baixa autoestima. Porém, sua sensação de menos valia é escondida por muralhas, o que faz com que as pessoas só enxerguem sua prepotência. De fato, é uma “pré-potência” onde não há potência, existindo apenas vaidade e orgulho, duas características inerentes ao egoísmo.
A vaidade passa a impressão de amor próprio enquanto o orgulho faz com que eles pareçam fortes. E ambas fazem bem o papel de esconder a raiz de todo o problema: o complexo de inferioridade.
É difícil, na maioria das vezes, entender que uma pessoa arrogante sofra de autoestima baixa. Mas devemos lembrar que nem tudo que reluz é ouro. Assim como nem todo ato de generosidade significa altruísmo. Muitas vezes atos de generosidade praticados por alguém de caráter egoísta moral costuma ser um importante vitrine social e um combustível poderoso para a sua vaidade.
A etimologia da palavra define o centro da questão: Ego (eu); isso (doença). O egoísmo é o eu doente, uma doença perversa, que além de fazer mal ao próprio doente, adoece também aquele que convive com ele.