Fama infame
Até quando continuaremos glorificando bandidos?

Por
Paulo Polzonoff Jr. – Gazeta do Povo


A vida de Pedrinho Matador vai virar documentário e série.| Foto: Reprodução/ Twitter

Segundo dia do exercício de concisão. Sou disciplinado, nas não muito. Sinto falta dos floreios. De passar o pé por cima da bola. Dos adjetivos em profusão. Mas agora chega de enrolar porque vou falar de Pedrinho Matador, mais um bandido brasileiro cuja vida desgraçada, uma vida que tanto sofrimento causou, será glorificada por meio de um documentário e uma série.

Assim que me sopraram a notícia de que havia um novo psicopata super star na área, me lembrei imediatamente da foto de uma vitrine de livraria (abaixo). Em destaque, três livros sobre criminosas. Sobre Elize Matsunaga, “a mulher que esquartejou o marido”; sobre Suzane [von Richtofen], “assassina e manipuladora”; e sobre Flordelis, “a pastora do diabo”. Se estavam ali em destaque é porque havia quem comprasse. E lesse.

Há pouco tempo, Pedrinho Matador teria virado evangélico. Vi cenas do batismo. Acreditar no arrependimento dele é difícil. No autoperdão, mais ainda. Como alguém consegue conviver com o fato de ter tirado a vida de mais de 70 pessoas? De qualquer modo, duvido que uma série sobre Pedrinho Matador se ativesse à suposta redenção dele. Ao mundo de hoje interessam apenas homens caídos. E mulheres também, como se vê pelos livros que citei.

Enquanto isso, heróis brasileiros como a professora Heley de Abreu, que salvou 25 crianças de um incêndio criminoso numa creche em 2017, ou como o morador de rua Francisco Erasmo Rodrigues de Lima, que salvou a vida de uma mulher feita refém na Praça da Sé, em São Paulo, permanecem convenientemente esquecidos pelos roteiristas e escritores. Porque exaltar o bem dá trabalho. Exige humildade. Enquanto exaltar o mal qualquer tarantinozinho da vida faz.

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ASSASSINO EM SÉRIE

Pedrinho Matador: vida do serial killer foi cercada de violência e morte

Solto desde 2018, após cumprir 40 anos dos 128 a que foi condenado, contou que sentiu vontade de matar pela primeira vez aos 13 anos


Mateus Parreiras – Jornal Estado de Minas

Pedrinho Matador
Ainda adolescente, Pedrinho passou a conviver com traficantes de drogas locais(foto: Reprodução/YouTube)

A violência se apossou da sua vida ainda no ventre da mãe. Depois de vários espancamentos que ela sofreu do marido, mesmo grávida, Pedro Rodrigues Filho nasceu com uma fratura craniana em uma fazenda em Santa Rita do Sapucaí, no Sul de Minas, no dia 17 de junho de 1954. O pai, Pedro Rodrigues, que era lavrador à época, incluiu o menino ao lado da mãe como alvo de suas agressões. A morte também entrou cedo para a sua vida. Aos 9 anos, ajudava o avô em um matadouro de bois em Varginha, mesma região, local onde os animais eram abatidos, esquartejados e onde os dois tinham o costume de consumir o sangue dos bovinos. Essa foi a gênese do maior assassino em série brasileiro, Pedro Rodrigues Filho, o Pedrinho Matador, que dizia ter vitimado mais de 100 pessoas e que foi assassinado em Mogi das Cruzes, em São Paulo, na manhã do último dia 5.

Solto desde 2018, após cumprir 40 anos dos 128 a que foi condenado – só no sistema prisional matou 47 pessoas -, contou em podcasts e entrevistas que sentiu vontade de matar pela primeira vez aos 13 anos, quando um primo de 26 anos o agrediu. Por vingança, o rapaz emboscou o parente e o empurrou em uma moenda elétrica de cana, onde o braço da vítima acabou esmagado e dilacerado pelas prensas de cana-de-açúcar.

Seu primeiro assassinato não tardou. Foi em Alfenas, na mesma região, em 1968, quando o pai foi demitido por suspeita de roubar mantimentos da dispensa de uma escola pública onde era vigia noturno. O adolescente de 14 anos pegou uma espingarda e executou a tiros o vice-prefeito da cidade, que teria sido o responsável direto pela demissão do pai. Não satisfeito, ao saber das suspeitas de que outro vigia da escola seria o verdadeiro ladrão, ele o espreitou e o matou a tiros no mês seguinte. Para não ser preso, fugiu para a casa dos padrinhos, em uma favela de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo.

O adolescente passou então a conviver com traficantes de drogas locais e a dar vazão à sua violência nos conflitos territoriais das gangues, onde afirma também ter matado, mas sem confirmação de sua autoria. Foi nesse meio que conheceu uma viúva traficante, que tinha o apelido de Botinha. Ao lado dela, seguiu com as atividades do tráfico e matou três ex-comparsas de gangue. A mulher acabou morta em uma incursão da polícia, mas Pedro conseguiu fugir. Já com fama de matador entre os traficantes, arregimentou mais traficantes e assim começou com a sua própria boca-de-fumo, em São Paulo.

Ainda com 17 anos, conheceu a mulher que declarou ser o grande amor de sua vida, chamada Maria Aparecida Olímpia. A mulher engravidou, mas não chegou a dar a luz, pois um traficante rival, de alcunha “China”, mandou matar os membros da gangue de Pedro. Ele não foi encontrado, mas ao retornar para sua casa, encontrou a amada fuzilada e jurou vingança.

Passados alguns dias, ele e seus comparsas invadiram uma cerimônia de casamento onde China e sua gangue estavam e abriram fogo contra os convidados. Pedro matou China com um tiro de espingarda no peito. Outros seis membros da gangue rival foram mortos e 16 pessoas feridas a tiros conseguiram escapar e sobreviveram. Ele buscou abrigo na casa de parentes até que o tempo tirasse o foco deste massacre, mas o ímpeto matador não parou. Nessa mesma casa da família, a prima de Pedro contou que estava grávida e que o pai do filho dela não queria assumir o bebê e nem casar com ela. A resposta do matador foi novamente com a espingarda, matando o pai do bebê da prima.

O desejo de vingança do maior assassino em série mineiro o pôs frente a frente com seu primeiro agressor, o próprio pai. Em 1973, ainda com 17 anos, soube da morte de sua mãe pelo próprio pai, Pedro Rodrigues, que a teria golpeado 21 vezes com uma faca e tentado vítimas também os outros filhos, que conseguiram fugir para as casas de vizinhos. Pedro filho então visitou o pai na delegacia, onde conseguiu entrar com um facão e desferiu 22 golpes no genitor, de quem arrancou o coração, mastigou e cuspiu um pedaço, fugindo em seguida.

Com tanta atenção sobre si, Pedro acabou preso, em 24 de maio de 1973, aos 18 anos. Mas o cárcere não traria fim à matança, uma vez que ele afirmava ter matado 47 pessoas atrás dos muros das penitenciárias por onde passou. Nem todos foram confirmados e em alguns casos, segundo a polícia, outras pessoas aparecem como assassinos confessos. Dessas vítimas, Pedro afirma ter matado 11 logo no primeiro ano de prisão, o que lhe valeu o apelido macabro de Pedrinho Matador.

Entre as mortes dentro da prisão, ele relatou ter decapitado um detento por não gostar dele e dois companheiros de cela, um deles por roncar demais. Outro, chamado Raimundão, conhecido por extorquir outros presos, foi esfaqueado por Pedrinho e teve seu corpo atirado no poço do elevador da instituição prisional. Em uma das ocasiões, cinco presos tentaram emboscar Pedrinho, que revidou, matando três deles e afugentando os outros dois. Na década de 1990, transferido para Taubaté devido às hostilidades com os demais internos, passou para uma cela separada, onde ficou até 2002 afastado dos demais internos. Apesar de dizer ter matado mais de 100 pessoas, até o momento as autoridades atribuíram a Pedrinho Matador, em condenações ou investigações, a marca de 71 homicídios.

VIDA EM SÃO PAULO

Solto desde 2018, Pedrinho Matador, de 68 anos, vivia entre as cidades da Baixada Santista, em São Paulo, mas tinha como endereço certo para as visitas a casa dos tios e primos em Mogi das Cruzes. O lugar era humilde, com barracos e casas pequenas em vielas labirínticas para onde fugiu depois de iniciar sua carreira de assassinatos no Sul de Minas Gerais. E foi nessa cidade da Grande SP, em frente à casa dos tios na Rua José Rodrigues da Costa, no Bairro Ponte Grande, que o maior assassino em série brasileiro encerrou sua história, por volta das 9h50 de domingo, segundo a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo.

De acordo com a investigação, Pedrinho passeava com a prima, de 23 anos, e a filha dela pela calçada, e perceberam que um VolksWagen Gol preto com placa de São Paulo deu pelo menos três voltas no quarteirão. Desse veículo saíram três homens com máscaras de palhaço do personagem das histórias em quadrinhos Coringa, já gritando para a mulher e a criança entrarem para dentro da residência.

No interior da casa, primos e tios ouviram vários tiros. Ao saírem do imóvel, viram Pedrinho estirado no passeio, com pelo menos cinco ferimentos de disparos de arma de fogo e o pescoço degolado por um corte profundo, provavelmente feito por faca.

Ninguém ainda foi preso pelo homicídio. O carro preto foi encontrado 1,5 quilômetro adiante, abandonado, com um garrafão vazio em seu interior. testemunhas relatam que seus ocupantes trocaram de veículo e fugiram em um outro carro de cor branca. O caso foi registrado como homicídio qualificado e localização/apreensão de veículo na Central de Flagrantes e encaminhado ao Setor de Homicídios (SHPP) em Mogi das Cruzes.

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By valeon