Por
Rodrigo Constantino – Gazeta do Povo
O Brasil vai mal, muito mal, e fica cada vez mais delicada a missão de defender o indefensável na velha imprensa, assessoria informal do PT. O calabouço fiscal é pretexto para aumento de gastos e impostos, no âmbito internacional o presidente flerta com os piores regimes tirânicos e os pobres serão “convidados” a pagar mais por tudo. Mas o amor venceu e tudo era necessário para “salvar a democracia”, alegam os militantes.
Vera Magalhães, por exemplo, comentou em sua coluna de hoje no Globo: “A filosofia que norteou a construção do arcabouço fiscal é boa, transparente e está em linha com o que foi prometido por Lula na campanha: trazer os mais pobres para o Orçamento e fazer quem está à margem do sistema de tributação, por privilégios históricos ou malandragens como essa de enviar os pacotes dos compradores da China em nome do Brad Pitt, pagar o que a lei manda”.
O que incomoda a militante tucana, no fundo, é o “erro de comunicação”. A jornalista que, durante a pandemia, mandou todos ficarem em quarentena tomando vinho com os pés para cima na banheira, acha que Lula deve apenas explicar que os pobres vão pagar mais pelas “blusinhas” mesmo: “O que não dá é para, por medo de fazer o debate na sociedade, o governo ficar se esquivando das palavras e dos temas, para tentar convencer alguém que não pagará a mais pela blusinha. Ora, se a compra não puder mais ser fracionada nem a remessa atribuída indevidamente a Shakira ou ao Papai Noel, vai pagar imposto, sim”. Simples assim.
Já o próprio Fernando Taxad tem a explicação na ponta da língua: ele compra na Amazon, não nesses sites asiáticos: “O único portal que conheço é a Amazon, porque compro todo dia um livro pelo menos”. O tucano Pedro Doria, também no Globo, tenta explicar ao ministro do que se trata o fenômeno: “No momento em que o Brasil estava indo em peso para o e-commerce por causa da pandemia, o país descobriu as três lojas e as adotou como suas. As periferias das grandes cidades, em particular, se encheram de produtos de consumo como não viam desde os tempos de Lula 1 para 2. Pois é — o preço chinês cabe na carteira, principalmente, da classe média baixa. Haddad pode se dar ao luxo de não conhecer as lojas por isso. A diferença é para quem vê distância intransponível entre R$ 100 e R$ 500 na hora de comprar um tênis”.
Isso não faz com que o tucano seja contra a medida, porém: “Isso não quer dizer que a decisão esteja incorreta — não está. O ministério está certo. Não podem as lojas brasileiras pagar um tipo de imposto e as asiáticas ter isenção porque driblam a Receita Federal. Até porque o Estado precisa fazer caixa”. O governo precisa de mais recursos, pois Lula e Janja gostam de móveis bem caros e porque são muitos comparsas, digo, companheiros à espera de torneiras estatais reabertas. É preciso agradar os “amigos do rei”, então o pobre que se exploda! Vai ficar esperando chuva de picanha até o final do mandato, tendo de se contentar com abóbora trans. Os memes não poderiam faltar:
Enquanto isso, Lula vai à China para fortificar os laços com o regime comunista ditatorial e alfinetar os Estados Unidos. Para quem alega se tratar do nosso maior parceiro comercial que demanda pragmatismo, Lula mesmo rebate o argumento: em discurso no início da reunião com Xi, Lula afirmou ter ficado “emocionado com o espetáculo das crianças” e destacou querer ir além do comércio na relação entre os dois países. “A compreensão que o meu governo tem da China é a de que temos que trabalhar muito para que a relação Brasil-China não seja meramente de interesse comercial”, disse. “Queremos que a relação Brasil-China transcenda a questão comercial.”
Se ficou alguma dúvida, o presidente fez questão de esclarecer: pela manhã, no encontro com o presidente do Congresso Nacional do Povo, Zhao Leji, Lula já havia dito querer “elevar o patamar da parceria estratégica e, junto com a China, equilibrar a geopolítica mundial”. Lula quer desbancar o dólar como lastro internacional do comércio. A esquerda ocidental começa a se dar conta dos riscos de se fazer o L, como mostra reportagem do Washington Post. Lula não é o parceiro esperado, pois tem sua própria agenda…
Mas na imprensa brasileira, a militância segue fechada com Lula. Mesmo que seja preciso cair em contradições e demonstrar certa hipocrisia, como no caso de André Trigueiro: “Povo indignado c/taxação de produtos baratinhos importados de lojas virtuais da China, mas ninguém quer saber por que são tão baratinhos. Exploração de mão de obra? Ausência de direitos trabalhistas? Baixo custo da energia suja do carvão mineral? E a concorrência desleal c/a nossa indústria? Tudo isso junto? É natural que todos queiramos adquirir produtos mais baratos. Mas que quase ninguém se interesse em investigar por que certos produtos dão uma volta ao mundo e ainda assim tem o preço final tão acessível explica, em parte, a nossa crise civilizatória”.
Se fosse Trump dizendo isso, seria acusado de nacionalista xenófobo. Aliás, seria não: ele foi. Mas parece que tudo depende de quem diz, não do que é dito. E fica mais fácil dispensar produtos baratinhos quando se é da elite. A elite que fez o L para “salvar a democracia” ao lado de bajuladores de ditaduras. A turma que não precisa economizar tanto em produtos de consumo, pois torneiras estatais irrigam seus cofres. O pessoal que achou divertido mandar todo mundo se trancar em casa durante a pandemia enquanto dividia dicas de livros e filmes. Aquela gente que fica espantada quando descobre que o povo liga mais para emprego do que “mudanças climáticas”.
A elite do L não gosta de pobres. Fato.
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